O Evangelista Lucas a ela se refere em duas oportunidades, em seus apontamentos. A primeira, no capítulo 8:1-3: ...e andavam com ele os doze, e algumas mulheres que tinham sido livradas de espíritos malignos e de enfermidades: Maria, chamada Madalena, da qual tinham saído sete demônios; Joana, mulher de Cusa, procurador de Herodes, e Susana…
A segunda, no capítulo 24, onde a identifica como uma das mulheres que, vindo da Galileia com Jesus, tendo observado que o Seu corpo, ao ser descido da cruz, fora simplesmente envolvido num lençol e depositado no sepulcro aberto na rocha, cedido por José de Arimateia, preparou aromas e bálsamos e, no primeiro dia da semana, foi ao sepulcro.
Ao chegar, em companhia de outras mulheres, entre as quais, Madalena e Maria, mãe de Tiago, descobriu a pedra do sepulcro revolvida.
Adentrando o local, foram surpreendidas por dois homens com vestes resplandecentes, que lhes informaram que Jesus não mais estava ali, pois que ressurgira. Ressuscitara.
Retornaram a Jerusalém, entre o assombro e a ansiedade, para transmitir as novas aos Apóstolos e discípulos.
O Espírito Humberto de Campos5 a ela se refere como uma mulher de muitas posses, que tinha a seu serviço inúmeras criadas, que a serviam com zelo. Desfrutava, ao tempo de Jesus, de privilegiado nível social, em Cafarnaum.
Casada com alto funcionário de Herodes, Joana era das mulheres mais altamente colocadas naquela sociedade.
Atraída pelo verbo eloquente de Jesus, passou a ouvir as pregações do lago. Denotando nobreza de caráter, vestia-se de forma simples, a fim de não atrair a atenção do povo para si.
Desejava beber da água viva de que Ele falava. Trazia no coração uma infinidade de dissabores.
Possuidora de verdadeira fé, amargurava-se pela posição do esposo. Intendente de Herodes, em contato constante com os representantes do Império, a fim de gozar do prestígio social, ele ora comparecia ao Templo de Jerusalém, ora sacrificava aos deuses romanos.
Joana tentara expor ao marido a sua nova crença, em vão. Trazendo a alma torturada, certa vez procurou o Mestre para lhe falar das suas lutas e desgostos.
Jesus a ouviu longamente e depois ponderou: Joana, só há um Deus, que é o Nosso Pai, e só existe uma fé para as nossas relações com o Seu amor. Todos os templos da Terra são de pedra; eu venho, em nome de Deus, abrir o templo da fé viva no coração dos homens.
Por fim, Jesus lhe recomenda que volte ao lar e ame o seu companheiro, despedindo-a com um Vai, filha!… Sê fiel! Uma inflexão de tal carinho, que ela jamais haveria de esquecer.
Retornou ao lar e transformou todas as suas dores num hino de triunfo silencioso em cada dia.
Procurou esquecer as características inferiores do marido, enaltecendo o que ele possuía de bom.
Dois filhos vieram lhe enriquecer os dias, e os anos passaram. Perseguições políticas e reveses se abateram, finalmente, sobre o ex-intendente Cusa.
Perdendo seu prestígio e envolvendo-se em dívidas insolváveis, amargurou-se e enfermou gravemente.
Numa noite de sombras, ele voltou ao plano espiritual. Joana, que tudo suportara até então, viu-se a braços com as dificuldades mais acerbas. Ela, que possuíra a seu comando tantas servas, necessitou procurar trabalho para se manter e aos filhos, embora as observações acres de amigas. Fiel a Jesus, recordava que Ele também havia trabalhado, modelando a madeira, na modesta carpintaria. Ele, o Divino Mestre.
Dessa forma, se dedicou aos filhos de outras mães e a afazeres domésticos em casa alheia, provendo às suas e às necessidades dos rebentos de sua carne. Anos mais tarde, a bordo de uma galera romana, ela demandaria à capital do Império.
Nos anos 54 a 68, o Império Romano foi governado por Lúcio Domizio Enobardo, que a História imortalizou com o nome de Nero. Dentre tantas loucuras, como esbanjar sem limite o dinheiro público e organizar orgias extravagantes, desencadeou grandes perseguições aos cristãos.
Segundo crônicas do historiador latino Tácito, fiéis do Cristo, amarrados, cobertos de alcatrão, eram usados como tochas humanas para as insônias de Nero, nos passeios noturnos nos jardins da sua residência privada, a Domus Áurea (Casa Dourada), no Monte Aventino.
Ao comando da sua maldade, tendo acusado os cristãos de terem ateado fogo em Roma, foram executados de duzentos a trezentos mil.
No dia 27 de agosto de 68, nas proximidades das águas termais de Caracala, no Monte Aventino, Joana, junto a outros quinhentos cristãos, foi levada ao poste do martírio.
De cabelos nevados, ela ouve as queixas de um homem novo, amarrado ao poste próximo. É seu filho que exclama, entre lágrimas: Repudia a Jesus, minha mãe!… Não vês que nos perdemos?! Abjura!…por mim, que sou teu filho!..5
As lágrimas acodem aos olhos daquela mulher. Pela sua mente, passam rapidamente as cenas de sua juventude, os primeiros anos do casamento, os dissabores, as alegrias da maternidade, as lutas, a viuvez, as necessidades mais duras.
Lembra Maria, mãe de Jesus, que assistira, por horas, o suplício do seu amado filho. Por fim, acode-lhe à memória, a tarde memorável do particular encontro com o Mestre e Suas palavras de despedida: Vai filha! Sê fiel!5
E pede ao filho que se cale, conclamando-o à fidelidade a Deus. As labaredas lhe lambem o corpo e ela abafa, no peito, os gemidos. A massa de povo grita, desvairada.
Um dos verdugos se aproxima e lhe pergunta, irônico: O teu Cristo soube apenas ensinar-te a morrer?5
A resposta, corajosa, se deu num murmúrio: Não apenas a morrer, mas também a vos amar!
E sentindo uma mão suave a lhe tocar os ombros, escutou a voz inconfundível do Divino Pastor: Joana, tem bom ânimo! Eu aqui estou!5
Triunfante, ela transpôs o pórtico da morte para adentrar na verdadeira vida.
Referências
01. 01. BÍBLIA, N.T. Lucas. Português. Bíblia Sagrada. 6. ed. São Paulo: PAULINAS, 1953. cap. 8, vers. 1 a 3 e cap. 24, vers. 1 a 10.
02.RENAN, Ernest. Os discípulos de Jesus. In:___. Vida de Jesus. São Paulo: Martin Claret, 1995. cap. 9.
03.SAID, Cezar Braga e FRANCO, Divaldo Pereira. In:___. Joanna e Jesus, uma história de amor. Curitiba: FEP, 2015. pt. 1.
04.SCHUBERT, Suely Caldas. Joanna além do tempo. In:___. O semeador de estrelas. Salvador: LEAL, 1990. cap. 2.
05.XAVIER, Francisco Cândido. Joana de Cusa. In:___. Boa nova. Pelo Espírito Humberto de Campos 8. ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 1963. cap. 15.
06.______. A mulher ante o Cristo. In:___. Religião dos Espíritos. Pelo Espírito Emmanuel. 4. ed. Rio[de Janeiro]: FEB, 1960.
Nota Juventude Espírita
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