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João Wolfgang Goethe

Eduardo Schuré, em seu esboço da “História Secreta das Religiões”, diz que “a alma humana, a individualidade, é por essência imortal. O seu desenvolvimento operasse sobre um plano alternadamente descendente e ascendente, por existências alternadamente espirituais e corporais. “A reencarnação é a lei da sua evolução.”

A grande verdade reencarnacionista, por mais que se procure negá-Ia, há-de vencer a barreira negativista, pela evidência dos fatos. Não se pode conceber, dentro da ideia da vida única, que o homem, no decorrer de alguns anos de vida terrena, consiga assenhorear-se de multiformes conhecimentos, mesmo porque, em sua contingência humana, não lhe sobrariam horas suficientes para abraçar o vasto campo cultural, científico, moral e religioso, a ponto de se destacar no cenário do mundo.

João Wolfgang Goethe, o maior gênio poético da Alemanha, e, além disso, naturalista, escritor, advogado, filósofo, cientista, educador, crítico e conselheiro do Governo, é um atestado eloquente das vidas múltiplas.  Para se avaliar o valor desse gênio alemão, citaremos as palavras de Pedro de Almeida Moura:

“Duzentos anos medeiam entre Goethe e os nossos dias. Dois séculos de transformações profundas, de mudanças extremas na vida, nos costumes, na maneira de interpretar o mundo, de crer, de sentir. Apesar de tudo isso, somos ainda levados a admitir esse homem extraordinário que dominou todo um século com a vastidão de seus conhecimentos, com a elevação de sua arte, com a força construtiva de seu alto espírito humanista. “Estudá- lo é trazer de novo para junto de cada um de nós o apoio de alguém que realmente dispõe de força persuasiva para nos ajudar a abrir caminho nas incertezas da hora presente.”

O homem, quando atinge a categoria de gênio, é porque já perlustrou muitas existências, e em cada uma delas, pelo seu esforço, foi conseguindo iluminar cada vez mais o espírito, com os conhecimentos científicos, culturais, artísticos, etc., etc.  Goethe mais se notabilizou pela grandeza de seu estro.

Devemos esclarecer que, quando dizemos poeta, nós nos referimos ao poeta de fato, àquele que tem poesia na alma e não, evidentemente, aos versejadores, tão comuns em todos os tempos e principalmente nos dias que correm. O poeta é uma alma que sofre, porque todo poeta é médium, e o médium, impressionado pelos pensamentos ambientes, sofre. O médium, por anunciar a verdade, será sempre vítima da incompreensão dos espíritos escravos de suas próprias conveniências pessoais ou das organizações a que se filiaram.

Goethe foi um gênio, e sua vida e sua obra merecem focalizadas, ainda que perfunctoriamente, porque ele, como teremos oportunidade de mostrar, além de médium, foi um documentário vivo acerca das vidas múltipla. Foi um gênio, sim, e sabemos que o gênio, como diz Léon Denis, é antes de tudo uma aquisição do passado, a resultante de pacientes estudos seculares, de lenta e penosa iniciação, que vieram a desenvolver no indivíduo aptidões imensas, uma profunda sensibilidade que se predispõe às influências elevadas. Goethe, como “todos os grandes poetas heroicos, principia seus cantos por uma invocação aos deuses e à musa. “E os Espíritos inspiradores atendem à deprecação: murmuram ao ouvido do poeta mil coisas sublimes, mil coisas que só ele entende, entre os filhos dos homens”.

Apreciemos o que nos relata Eckermann, velho amigo de Goethe, e que privou intimamente durante os últimos nove anos de vida do poeta: “seu trato era tão encantador como sua obra. Era sempre o mesmo e sempre outro. De súbito, qualquer ideia importante o assaltava: vinham-lhe, então, as palavras em profusão, inesgotáveis, semelhando um jardim primaveril em que tudo floresce e diante do qual, aturdidos pelo esplendor do conjunto, nem sequer nos lembramos de colher uma flor.

Em outras ocasiões, porém, íamos encontrá-lo calado, respondendo por monossílabos, como se uma espessa névoa pairasse sobre a sua vida. Parecia, mesmo, às vezes, imerso na frieza de um campo de neve batido pelo sopro do inverno. Outras vezes, Goethe reaparecia jubiloso como um dia de verão em que as vozes da floresta, das balseiras e das sebes entoam hinos de exaltação; em que as aves desatam para o azul do céu o seu cântico e os arroios deslizam para o prado florido. Que alegria ouvi-lo nesses momentos! Sua presença era toda tranquilidade e, ao ouvirmos as suas palavras, o coração se nos dilatava de contentamento… “

Isto que se passava com Goethe é justamente o que experimentam todos os médiuns, cujas antenas, por demais sensíveis, registram as vibrações ambientes, e daí, porque são almas já integradas nas lições de Jesus, sentirem o que os outros não sentem sofrerem o que os outros não sofrem! 

“Occult Review” dá-nos a conhecer as seguintes palavras do poeta e que são uma confissão tácita de suas faculdades mediúnicas: “Eu corria às vezes à minha escrivaninha sem me preocupar em endireitar a folha de papel que estivesse de través, e escrevia minha peça em versos, de começo ao fim, naquela posição, sem me mexer. 

Para isso tomava de preferência um lápis que melhor se prestasse à grafia, porque algumas vezes me havia acontecido ser despertado de meu sonambulismo poético pelo ranger da pena ou pelos salpicos de tinta, e distrair-me, e sufocar em o nasce douro minha pequena produção.”

Esse seu sonambulismo poético era, nada mais, nada menos, o estado medianímico em que se encontrava.

Nas suas notáveis palestras com Eckermann, Goethe, já envelhecido, referindo se à sua vida, dizia: “Nestes 75 anos de existência, bem posso asseverar que não tive sequer um mês de plena satisfação: foi o eterno rolar de uma pedra, ansiosa de ser reerguida.” 

Essa é a luta de todo médium, de todo aquele que quer cumprir a missão que o trouxe à Terra. Assim é que ele não podia olhar com bons olhos para o obscurantismo.

E afirmou o poeta: “o obscurantismo, a bem dizer, não consiste em impedir a propagação do que é verdadeiro claro e útil, mas no pôr em circulação o que é falso”.

Nos limites traçados para este pequeno livro, não é possível destacar as inúmeras passagens da vastíssima obra em que esse gênio prega a reencarnação, o livre arbítrio, o esforço individual para evoluir, a necessidade da dor, etc., etc.

A vida de todo aquele que já sentiu, ainda que superficialmente, as lições do Cristo; a vida de todo aquele que se dedica de alma e coração a uma obra de benemerência, que trabalha na difusão de ideais nobres e espiritualizantes, a vida desses será de lutas de toda ordem, porque os homens, em geral, presos às suas paixões e interesses mundanos não podem admitir que alguém dedique as horas de repouso e lazer ao árduo trabalho idealista, e, por não compreenderem isso, atiram- lhe pedras, procuram ridiculizá-Io, chamam-lhe louco, maníaco, paranoico! E se a luta em prol das boas causas por si só é muito árdua, mais árdua ainda se torna com as dificuldades criadas pelos homens fúteis e ambiciosos.

Do vastíssimo número de cartas por Goethe endereçadas a Carlota von Stein, algumas, felizmente, não foram inutilizadas por essa dama que tanto o amou. Numa delas constam estes versos:

Mas ah! tu foste, em dias de outras vidas, Minha irmã, ou, talvez, minha mulher.

Léon Denis, em sua obra “No Invisível”, diz que Goethe se abeberou amplamente das fontes do invisível.

Suas relações com Laváter e a Sra. De Klettenborg o haviam iniciado nas ciências profundas, de que cada uma de suas obras traz o cunho. O “Fausto” é uma obra mediúnica e simbólica de primeira ordem. 

“Outro tanto se pode dizer de Klopstock e de sua “Messiada”, poema em que se sente perpassar o sopro do Além.”

Segundo Joachin von Rintelen, em sua obra “Goethe – Espírito e Vida”, o poeta “admitia a indestrutibilidade do espírito, a sua eterna permanência – “Mortos já estão nesta vida aqueles que não acreditam numa existência futura”. Desta forma, a existência atual é uma preparação para “o caminho interminável do Além”.

“O túmulo não me causa pavor, pois tenho vida eterna.” 

No “Pater Seraphicus” – do “Fausto” vamos encontrar esta magnífica quadra, ao referir-se ao amor espiritual, divino:

Pois eis aqui o sustentáculo dos espíritos  

Que impera no infindo éter: Revelação do amor eterno 

Que à santidade conduz.

Seu Espírito, já muito evoluído, alimentava sentimentos universalistas, seu amor transpunha as limitações criadas pela ambição dos homens e dos povos; assim é que ele dizia a Eckermann: “O poeta, como homem e cidadão, deve amar a sua pátria, mas a pátria de suas forças poéticas e de sua atividade poética é o bem, a nobreza da alma, o belo das coisas que não estão adstritas a província alguma, a nenhum país de per si.”

Eis aqui o seu pensamento no tocante ao abuso que se faz do nome de Deus: “Os homens tratam-no como se o Ser intangível e inconcebível fosse um seu igual. 

“Para eles, especialmente para os padres que o têm constantemente na boca, não mais do que uma frase, um nome sem significação e a propósito do qual também nada pensam.”

A notícia da desencarnação de Goethe, em 22 de Março de 1832, foi profundamente sentida por toda a população: ricos e pobres, grandes e pequenos acudiram cheios de tristeza e respeito, à sua residência, ansiosos todos de verem o corpo daquele cujas palavras foram como que um incentivo no sentido de o homem não cruzar os braços ante as dificuldades da vida, no sentido de que lutasse sempre com fé e que a bondade jamais fugisse de seu coração, em face do sofrimento.

Na cimalha da porta de entrada foram colocadas estas palavras extraídas do seu poema “Hermann e Doroteia”: … O quadro impressionante da morte Não significa horror para o sábio nem o fim para o crente; 

Aquele impele a que volte, de novo, à vida.

A este outro, na angústia, revigora a chama da esperança do bem numa vida futura.

Para ambos transforma-se morte em motivo de vida…

Goethe não podia, nesses versos, ser mais claro e positivo no que tange à sua crença nas verdades hoje ensinadas pelo Espiritismo. 

Fonte: Grandes vultos da humanidade e o espiritismo.  

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