Entrevistadores: Luiz M. Arnaut. Colaboração: Thiago Rosa & Florence Roque
Jorge Rizzini foi autor de uma vasta obra de livros literários, espíritas e até de algumas obras infantis, além de ser o primeiro biógrafo de Monteiro Lobato.
Em outubro, dia 17, recebemos a informação que Rizzini veio a falecer durante viagem que fazia na cidade de Buenos Aires, Argentina, com a família; o escritor sofreu um enfarto no miocárdio.
Rizzini nasceu em São Paulo, em pleno dia 25 de dezembro de 1924. Formou-se em jornalismo e foi o pioneiro na apresentação de programa espírita na televisão. Também foi ele o criador da Filmoteca Espírita Nacional e ganhou projeção com o Festival de Música Mediúnica.
Antes de seu desencarne, nosso amigo Luiz M. Arnaut conversou com o autor com a possibilidade de realizarmos um bate-papo para os leitores do FM!. E foi graças a sua neta, Florence, que conseguimos recuperar o material. Material este que é o último trabalho de Rizzini e que você confere adiante no FM!.
O senhor conheceu grandes vultos do Espiritismo no Brasil como Herculano Pires, José Arigó, Yvone Pereira e Francisco Candido Xavier. Como avalia o legado destes grandes vultos no movimento espírita hoje?
A vida e a obra desses quatro grandes gigantes do movimento espírita mundial são atualmente, mais citados do que estudados no Brasil. E há de notar-se que se a Espiritualidade maior não tivesse enviado a Terra esses heróis a cultura espírita, a mediunidade e o próprio movimento doutrinário não teriam adquirido respeitabilidade por parte da sociedade culta. Basta dizer ( e o faço com ênfase) que Arigó com sua incrível cirurgia mediúnica abalou o mundo, Chico Xavier psicografou toda uma biblioteca, Yvone Pereira foi (segundo parecer de Chico Xavier) quem mais se aprofundou nas pesquisas psicográficas sobre o Umbral. E o que dizer sobre o mestre maior da filosofia espírita, José Herculano Pires? Sem esses quatro missionários de Kardec, o movimento espírita brasileiro seria bem mais pobre…
O que falta aos espíritas deste início de terceiro milênio?
O movimento espírita está carente de lideranças que amem, verdadeiramente, a Doutrina de Cristo. É doloroso constatar que o idealismo que transformou em ícones os saudosos confrades, Cairbar Schutel, Bezerra de Menezes, Eurípedes Barsanulfo, e Frederico Figner, entre outros mestres, cedeu lugar à vaidade exacerbada, à luta pelos cargos, à hipocrisia, e até ao comércio… quase todos os eventos espíritas de norte a sul exigem do público o pagamento de uma taxa. Nada é de graça. Há exceções ilustres, mas são raras.
Veja-se apor exemplo, o que vem acontecendo, há anos, com a nossa literatura. A maioria dos autores ( e das editoras) coloca, desavergonhadamente, na capa de seus “romances” a expressão “obra mediúnica”, quando, em verdade, a mistificação é evidente…o descalabro no setor da pintura é repetido. Lembro-me que vi, exposto no saguão de uma grande instituição espírita de São Paulo, um quadro cuja autoria fora atribuída a Picasso. Mas ao invés de assinar o quadro com os dois “ss” de Picasso, o mistificador ignorante colocara um ce cedilhado. E o quadro lá ficou exposto na parede por muito tempo…
Qual o papel do jovem no movimento espírita hoje?
Penso que o jovem deve, paralelamente às suas atividades no centro espírita, ler, reler e tresler a obra monumental de Allan Kardec, particularmente, “ O livro dos Espíritos”, em cujas páginas encontra-se toda a filosofia espírita. E, de permeio, as obras complementares de Gabriel Delanne, Leon Denis, Herculano Pires, Deolindo Amorim, e outros. Se assim o fizer, estará capacitado para exercer qualquer atividade cultural ou mediúnica no movimento doutrinário.
Diversas lideranças do movimento espírita tem defendido uma postura menos religiosa e mais pedagógica nas práticas doutrinárias. Qual sua opinião?
A postura pedagógica resultante do estudo sistemático dos ensinos de Allan Kardec e da Falange do Espírito de Verdade é, obviamente, fundamental na prática do Espiritismo, mas não nos esqueçamos que somos humanos e que o sentimento religioso é inerente nas almas mais sensíveis. O radicalismo, tanto num caso como no outro pode levar-nos à obsessão… O sentimento religioso e a razão devem caminhar juntos, numa simbiose perfeita.
Espiritismo, meus amigos, é equilíbrio! Nem tanto ao céu, nem tanto à terra, ensina a sabedoria popular…
Das mensagens contidas na Codificação, qual o senhor destacaria para os jovens?
Tendo em vista a quantidade de aberrações divulgadas em livros mediúnicos ou supostamente mediúnicos) e em livros de confrades encarnados, destaco para a reflexão dos jovens leitores estas sábias palavras de Allan Kardec:
“Se as imperfeições de uma pessoa só prejudicam a ela mesma, não há jamais utilidade em divulgá-las. Mas se elas podem prejudicar a outros, é necessário preferir o interesse do maior número ao de um só. Conforme as circunstâncias, desmascarar a hipocrisia e a mentira pode ser um dever, pois é melhor que um homem caia, do que muitos serem enganados e se tornarem suas vítimas.”
Com relação ao Chico Xavier, o senhor teria alguma lição vivenciada que poderia ser compartilhada conosco?
Sim. A lição maior que Chico Xavier deixou para os jovens é colocar a Doutrina Espírita acima de tudo e de todos! E que nossa obrigação é divulgá-la e defendê-la contra os predadores. Ainda que façam parte do movimento doutrinário.
O senhor já promoveu quatro festivais de músicas mediúnicas em São Paulo e está para promover o quinto. Qual a importância destes festivais?
Três são os objetivos:
- Dar provas da imortalidade pessoal através do estilo de cada compositor do Além, estilo que continua o mesmo de quando vivia ele na Terra.
- As letras das músicas sempre instruem e consolam o público.
- Os festivais colaboram com o desenvolvimento da Arte Espírita prevista, aliás, por Allan Kardec.
Poderia nos esclarecer como o senhor recebe estas músicas?
Sou um médium consciente. Eu e os espíritos nos entendemos telepaticamente. Mas não sou capaz de captar peças pianísticas ou sinfônicas devidos às múltiplas variações. Capto, apenas, letras e melodias. E as passo para o gravador, cantarolando à meia voz. É um trabalho que exige precisão de ambos os lados, mas prazeroso.
Dos livros que o senhor escreveu o que recebeu mediunicamente, qual o senhor recomendaria para os jovens?
Recomendo todos porque os jovens, pelo fato de serem espíritas, são inteligentes…
Que mensagem o senhor deixaria para os leitores?
Esta oportuna mensagem escrita por Herculano Pires:
“ Urge que os espíritas sensatos e responsáveis tomem posição contra essa falange de absurdos, tenham a coragem e a franqueza de falar a verdade em defesa do Espiritismo, doa a quem doer.” ( vide livro de minha autoria “ J. Herculano Pires, o Apóstolo de Kardec”, edições Paidéia).
Fala MEU! Edição 68, ano 2008
Observação: Foto da chamada de texto atualizada em 2023