Revista Espírita, abril de 1861
(Amigo do filho da médium, sra. Costel, falecido aos 14 anos. Evocado 8 dias depois de sua morte)
1. (Evocação)
─ Agradeço-vos por me evocardes. Lembro-me de vós e dos passeios que nos proporcionastes pelo parque Monceau.
2. ─ E que dizeis do vosso camarada Charles?
─ Charles sente muito pesar por minha morte. Mas estou morto? Vejo, vivo, penso como antes, apenas não me posso tocar e não reconheço nada do que me cerca.
3. ─ Que vedes?
─ Vejo uma grande claridade; meus pés não tocam o solo; deslizo; sinto-me arrastado. Vejo figuras brilhantes e outras vestidas de branco; pressionam-me e me rodeiam; umas me sorriem, outras me metem medo com seus olhares negros.
4. ─ Vedes a vossa mãe?
─ Ah! Sim. Vejo minha mãe, minha irmã e meu irmão. Ei-los todos! Minha mãe chora muito. Gostaria de lhe falar como vos falo. Ela veria que não estou morto. Como fazer, então, para a consolar? Peço-vos que lhe faleis de mim. Gostaria também que dissésseis a Charles que vou me divertir vendo-o trabalhar.
5. ─ Vedes o vosso corpo?
─ Sim, eu vejo meu corpo deitado ali, todo duro. Contudo, não estou naquele buraco, pois me acho aqui.
6. ─ Onde estais, então?
─ Estou aqui, junto de vossa mesa, à direita. Acho engraçado que não me vejais, quando vos vejo tão bem!
7. ─ O que sentistes quando deixastes o corpo?
─ Não me lembro muito do que senti então. Eu tinha muita dor de cabeça e via uma porção de coisas ao meu redor. Estava entorpecido; queria mover-me e não podia; as mãos estavam molhadas de suor e percebia um grande trabalho em meu corpo; depois nada mais senti e despertei muito aliviado; não sofria mais e estava leve como uma pluma. Então me vi em meu leito, e contudo não estava nele; vi todo o grande movimento que faziam e fui para outra parte.
8. ─ Como soubestes que eu vos chamava?
─ Não me dou muita conta de tudo isto. Ouvi bem que há pouco me chamáveis e vim logo, porque, como eu dizia a Charles, não sois aborrecida. Adeus, senhora. Até à vista. Voltarei a vos falar, não?