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Juventude e independência

Autor: Rogério Miguez

A nossa caminhada evolutiva se tem feito acompanhar pelo uso de variadas drogas descobertas na farmácia da natureza. Algumas nos ajudaram e ainda auxiliam muito no tratamento de doenças e problemas orgânicos, apoiando a medicina natural. A mãe Terra é pródiga em oferecer benesses aos seus moradores.

No entanto, entre tantas dádivas ofertadas, também há plantas, ervas, raízes etc., que podem trazer efeitos perturbadores. Algumas, no início do uso, são apenas estimulantes que ajudam na defesa de alguma dificuldade natural. Como exemplo, temos o hábito dos antigos incas que permaneciam dias sem comer ao subirem as montanhas somente mascando folhas da coca, planta que, além de tirar a fome, dava mais energia.

Certamente a utilização na antiguidade de drogas variadas formou uma legião de espíritos tendentes ao uso de outras drogas contemporâneas, muitas sintéticas, quando novamente reencarnados. Este é seguramente um dos motivos pelos quais os jovens procuram por substâncias estimulantes, pois, além de influenciados pela própria fase de busca por novidades, muitos já trazem matrizes perispirituais predispondo-os à drogadição.

Bem se conhece a inclinação contestadora da juventude, natural e esperada. Os espíritos ao voltarem a Terra sempre trazem ideias novas hauridas na erraticidade quando elaboraram novos planos e metas visando à evolução e à transformação do planeta. Fazem-se acompanhar desta forma do desejo por mudanças na ordem social encontrada nas comunidades às quais se agregam novamente. Se assim não fosse, o progresso seria prejudicado, pois se todos sempre agissem da mesma maneira não haveria progresso.
Entretanto, nesta ânsia por concretizar mudanças, enxergam na conquista da emancipação um dos primeiros caminhos certos para promovê-las; quanto mais precoce melhor. Quanto mais cedo forem independentes podem melhor agir em prol destas tão ansiadas modificações, assim ajuízam.

A autonomia se adquire de muitos modos: pela força, pela insistência na prática de certas condutas não comumente aceitas, podemos obter soberania econômica, enfim, são muitas as vertentes, contudo, uma seguramente não recomendada, é a busca de uma acreditada independência pelo uso de substâncias nocivas legais ou ilegais, embora, na maioria dos casos, nos tempos modernos, não recebam a aprovação dos familiares.
É muito comum o adolescente julgar estar libertando-se da família ao fazer uso do fumo ou dos alcoólicos, por exemplo, pois os pais, se não fazem uso destas drogas legais, questionam o filho por qual razão está a usá-las; embora lícitas, são de funestas consequências. Nesta hora, o filho entende que agir de forma diversa daquela habitualmente comum dentro do ambiente familiar representa a sua carta de alforria, porquanto, na sua ainda limitada ótica, fazer o não recomendado ou o não permitido significa ser livre.

O apelo da propaganda e do próprio grupo a que se mantém ligado também são fortes motivadores para criar as condições de uma aceitação, ou mesmo uma concessão por parte do jovem em relação aos apelos da turma e da mídia. Não usando a droga, seja lícita ou ilícita, pensa estar fora do contexto, crê não estar afinado com o grupo, pois, não tendo ainda condições de impor-se como é ou gostaria de ser, acaba cedendo às pressões externas.

É um verdadeiro dilema experimentado pela juventude. Como conciliar os chamamentos do grupo, de modo a sentir-se “enturmado”, e simultaneamente manter-se fiel à educação recebida dos pais e também ao cumprimento das leis sociais? Qual lado terá mais peso: os exemplos e ensinos recebidos da família ou a necessidade de enxergar-se como uma peça integrada ao grupo a que se vincula? Some-se a isso a preocupação do jovem em sentir-se livre dos “cabrestos” que ele supõe terem sido colocados em si por sua própria família.

Há uma visão equivocada, cultivada por muitos jovens, ao acreditarem que independência significa fazer o que se quer, na hora que se quer, do modo que se quer. Ainda não compreendem ser possível permanecerem soberanos vivendo dentro dos padrões familiares e da sociedade, sem nenhum prejuízo à sua personalidade, contudo, nem sempre é este o desfecho final.

Iniciado o processo do uso de uma droga visando à autoafirmação, o caminho está aberto para uma jornada muitas vezes sem volta ao mundo “vibrante” das drogas. É bem sabido por todos que este mundo paralelo tem as suas próprias regras, um modus operandi bem peculiar, exigindo dos seus integrantes fidelidade e compromisso. Não é fácil deixar o ambiente das drogas, em razão dos dependentes se fortalecerem mutuamente uns com os outros; quando um deseja livrar-se da dependência todos se colocam contra. É natural, é o instinto de defesa atuando. A turma se enfraquece ao perceber uma ovelha tentando desgarrar-se do sinistro rebanho.

Por outro lado, estudiosos já concluíram que uma droga “chama” outra. Se o início ocorre pelo fumo ou pelo álcool, seguem-se a esses os convites para o uso de drogas ilegais. A prática diz haver apenas um pequeno passo na migração das drogas lícitas para as ilícitas.

Desta forma, de droga em droga, crê-se alcançar a tão desejada “independência”, a tão sonhada liberdade é conquistada, a um custo muito alto sabe-se, porquanto o adicto agora está “independente”, contudo, não percebe estar dependente, escravo dos estimulantes.

Os pais devem incutir na mente dos filhos que a autonomia verdadeira se faz pela prática das boas leituras, adquirindo conhecimentos nobres que os ajudarão a entender melhor a vida e posicionar-se adequadamente perante a sociedade; pelo estudo continuado e sério visando uma formação profissional para possível aproveitamento no mercado de trabalho; que a verdadeira emancipação surge da consciência tranquila nas boas ações realizadas. É fato que sem exemplificar a educação dos pais fica comprometida, desta forma deve-se ter atenção redobrada durante o processo de educação na vivência dos postulados sugeridos aos filhos.

O elemento religioso tem o seu peso, pois o jovem ligado com Deus tem condições de refletir e ajuizar outros aspectos da vida, visto acreditar, ter fé que o Criador nos fez para evoluir sempre mais. Entretanto, no ambiente das drogas, não se vai para frente, muito pelo contrário, caminha-se para trás, porquanto: o dependente tem muita dificuldade em manter-se no emprego; de modo geral não consegue permanecer com parceiros (as) fixos; a agressão continuada ao corpo pelo uso das drogas comumente evolui para doenças de toda ordem, muita vez de difícil trato; o rendimento escolar cai drasticamente, entre tantos outros reconhecidos prejuízos. A droga, como bem o nome já diz, enfraquece várias regiões do corpo simultaneamente, provocando uma quebra da harmonia em diversos órgãos ao mesmo tempo.

Em contrapartida, ensina o Espiritismo ser o corpo um santuário sagrado, devendo ser preservado e bem cuidado. É a ferramenta do espírito reencarnado para promover a sua evolução. Se o corpo é mau tratado, as ações do espírito para alavancar seu progresso moral e intelectual ficam prejudicadas.

Há outra questão grave associada ao uso das drogas alertada pela Doutrina sobre a existência de adictos desencarnados. São espíritos já “mortos” enxameando a atmosfera mais densa próxima à superfície terrestre buscando avidamente encarnados adeptos dos estimulantes. Conseguem reviver parcialmente as antigas sensações provocadas pelas drogas ao se locupletarem aspirando e sugando os fluidos e energias contaminadas pelos entorpecentes, exaladas pelos corpos materiais dos adictos. Estes “amigos” do outro mundo enfraquecem ainda mais a estrutura física dos dependentes vivos, e mais, quando sentem necessidade, incentivam-os ao uso das drogas, como se ainda estivessem vivos, amplificando o desejo do usuário encarnado.

Desta forma, para libertar-se da dependência das substâncias tóxicas, o adicto deverá, além de lutar consigo mesmo, empreender uma verdadeira batalha com obsessores que o procuraram por conta das drogas e que agora vão resistir de forma ferrenha para que a sua vítima não se afaste das substâncias alucinantes que tanto lhes comunicam prazer.
Em resumo, o adicto para ver-se livre do ambiente e da dependência às drogas, deverá travar uma luta gigantesca: contra as próprias inclinações viciosas que pode ter trazido de outras vidas ou foram construídas nesta mesma existência; contra os apelos dos “amigos” da turma a que pertence; não menos importante, contra os outros “amigos” adictos do lado de lá, e são muitos; e, finalmente, contra interesses econômicos dos setores produtores das drogas lícitas, que buscam a todo o custo, por meio de propagandas muito bem elaboradas, manter a humanidade dependente das drogas legais.

Diante de tal quadro, indaga-se: por qual razão buscar a independência pela dependência nas drogas?

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