Autor: Nuno Emanuel
Grandes figuras do Cristianismo começaram bem jovens a cumprir a sua missão. Jesus com 12 anos destacou-se perante os doutores da lei. Dos 12 apóstolos escolhidos pelo Mestre, oito teriam entre 20 e 35 anos, enquanto João Evangelista contaria 18 anos quando se iniciou no apostolado. Estêvão, o 1º mártir do Cristianismo, era pós-adolescente quando foi lapidado. Paulo de Tarso transformou-se ainda jovem no grande divulgador da doutrina. Francisco de Assis, “o médium do Cristo”, converteu-se aos 23 anos e seguiu incondicionalmente o seu Senhor. Joana d’Arc começou a ouvir vozes divinas aos 13 anos e a partir dos 18 mudou a sua história e a da sua nação.
A história do Espiritismo está repleta de Espíritos convocados na sua juventude para assumir os compromissos reencarnatórios. As irmãs Fox de Hydesville eram adolescentes. Julie (14 anos) e Caroline (16) Baudin, Ermance Dufaux (14), Japhet e Aline foram jovens médiuns que colaboraram com Allan Kardec na codificação. Léon Denis começou a filosofar na doutrina aos 18 anos. Chico Xavier aos 21 anos publicou o 1º livro da sua obra de mediunato com Jesus. Yvonne A. Pereira com 13 começou a frequentar sessões práticas de Espiritismo. Com 25 anos, o educador Eurípedes Barsanulfo abre um centro espírita e dois anos depois funda o 1º colégio espírita do Brasil. Herculano Pires, “o metro que melhor mediu Kardec”, começou aos 24 anos a sua intervenção na imprensa espírita. Divaldo Franco iniciou o seu trabalho como tribuno espírita aos 20 anos. Raul Teixeira chegou à doutrina aos 16 anos num grupo de jovens, iniciando pouco depois as suas exposições doutrinárias.
De acordo com Leopoldo Machado, o grande incentivador das mocidades espíritas no Brasil, elas “devem ser a porta de entrada do estudo da doutrina nas casas espíritas”. Muitos dos que entram no Centro Espírita fazem-no pela via da dor, lamentando não ter conhecido a doutrina mais cedo. No entanto, há jovens que têm acesso a esta doutrina consoladora que adiam esta oportunidade, quando não a desperdiçam. Mais tarde voltam à procura de amparo para problemas que podiam ter evitado…
Dos Centros em Portugal que têm grupos de jovens, são poucos aqueles que se mantêm ao longo do tempo. Quais as razões que levam os jovens a deixar a Casa Espírita? Há causas endógenas que levam a esta saída. Além das solicitações mundanas, existem desculpas recorrentes. Na realidade há uma falta de compromisso do jovem para com a Doutrina. Será que ela exige assim tanto de nós? Sim, no sentido da transformação gradual que nos pede. Mas uma hora em 168h por semana é muito? Onde estão as nossas prioridades? “Preciso estudar para os exames!” Seria legítimo se no tempo da ida ao centro tivesse aproveitado para isso. Há vários relatos de estudantes trabalhadores dos centros que podem estudar menos tempo, mas fazem-no com mais qualidade e são inspirados nas matérias que saem nos exames. “Estou com muitos trabalhos, preciso descansar.” Depois do passe e fluidoterapia não ficam melhor? É uma questão de disciplina para gerir o tempo. “Estamos com preparativos (há 2 anos…) para o casamento, depois teremos tempo.” E ficam eternamente em lua de mel… E não pense que cada vez que uma pessoa se afasta existem influências espirituais. Os “obsessores” são álibis para fugir às responsabilidades já assumidas na casa e conosco mesmos antes de reencarnar.
Mas há fatores externos associados à evasão dos jovens. De um estudo feito no Brasil destacamos alguns pontos comuns à realidade portuguesa: capacitação inadequada do Evangelizador; metodologias de estudo que não proporcionam reflexão, discussão e diálogo; programas desligados da realidade e da vivência dos jovens; falta de integração do jovem nas atividades do centro e do movimento espírita; desvalorização da sua contribuição e opinião por parte dos dirigentes; falta de divulgação do grupo de jovens.
Em encontros regionais e nacionais de jovens e “adultos”, constatamos que a alguns dirigentes desta geração terá faltado o convívio de crianças e jovens de vários centros, criando laços de amizade que se têm reforçado e que reforçam a importância da juventude espírita no futuro do movimento. Estes vínculos previnem muitos atritos pessoais, que têm prejudicado o movimento espírita português, dando apenas o exemplo aos mais novos de aprender com os erros dos outros. Como disse Raul Teixeira no ENJE de 2009, os que discutem mais do que trabalham “não são espíritas, são espiritados!” Um amigo recorda-nos Ian Stevenson, fazendo a analogia que a evolução se dá à medida que decorre mais um funeral… E será uma bênção de Deus se pudermos reencarnar e ir para a maternal do DIJ!
Estaremos à espera que os Espíritos façam o que nos compete? “O Espiritismo será o que dele fizerem os homens”, diz Léon Denis. Somos todos responsáveis pela “curva descendente” que Divaldo assinalou para o nosso movimento, há 2 anos na sede da FEP. Há dirigentes que ainda se questionam se valerá a pena investir no DIJ. E quanto à falta/fuga de jovens do centro, ainda não se aperceberam do problema, quanto mais fazer o diagnóstico e depois o respectivo tratamento. Quem esperam que dirija o movimento no futuro? Pessoas que caiam do paraquedas da dor ou outras que as possam sustentar pela consolidação dos trabalhos e estudos adquiridos ao longo dos anos? Devemos ser gratos a quem deu de si em prol da doutrina, mas, como diz Chico Xavier, “Vamos incentivar os jovens. Não somos donos do Movimento!” As diversas iniciativas de formação do DIJ da FEP só terão eco se as direções dos centros tiverem liderança e motivação para uma integração real dos jovens nas suas atividades (doutrinárias, assistenciais). O jovem só sairá se não encontrar na Casa Espírita: apoio, estudo sério, amizade e trabalho.
Bibliografia
Estudo Organizado por Francis Lobo, do departamento de Mocidade da USE (União das Sociedades Espíritas – representa a FEB no estado de São Paulo)(2006).
O consolador – Ano 5 – N 238 – Crônicas e Artigos