Lázaro é a forma grega da abreviação hebraica lãzãr – Eleazar, significa Deus ajuda, e João o cita em seu Evangelho, nos capítulos 11 e 12.
Lázaro é apresentado como irmão de Marta e Maria, residentes todos em Betânia, distante cerca de uma hora de Jerusalém. Era uma aldeia singela, cercada por imensos campos de cevada, pequenos bosques de olivedos e figueiras1, no caminho de Jerusalém para Jericó.
A aldeia era um contraste à aspereza da Judeia, pelo verdor de que se revestia. Os declives eram cheios de folhagens, as casas brancas mostravam seus alpendres floridos e flores miúdas enfeitavam o tapete de relva verdejante.
Lázaro, como suas irmãs, amava Jesus e o dizia abertamente. Jesus era como um membro da família e recebido sempre com alegria. Quando o Mestre se encontra nas proximidades, é ali, na casinha risonha e franca, que é recebido à porta pelo amigo, com efusivo abraço e o ósculo no rosto.
Em Betânia teve Jesus uma segunda família, no ninho de afeições que lhe oferecem os amigos. O amigo dedicado, Lázaro, lá estava. Era o único lugar onde o Galileu podia gozar algumas horas de sossego, de intimidade familiar – era como se estivesse em casa. Lázaro é, pois, o grande e devotado amigo de Jesus.
Foi em Betânia, enquanto o Rabi narra ao amigo os últimos acontecimentos e explana sobre o futuro, enquanto a noite avança, que se deu o célebre episódio em que Jesus enfatiza a escolha da melhor parte, conforme narra Lucas no seu Evangelho, cap. 10:38-42.
Quando Lázaro adoeceu, no mês de shebat (fevereiro), Jesus se encontrava pregando na Pereia e as irmãs lhe remeteram um mensageiro. Foram dois dias de marcha e o recado foi breve:
Senhor, eis que está enfermo aquele que amas.
O profeta de Nazaré o sossega, despedindo-o com a certeza de que aquela enfermidade não levaria à morte, antes era para a glória de Deus. Passados dois dias, Jesus empreende a jornada de retorno à Betânia, portanto, ao chegar ao seu destino, Lázaro estava com quatro dias de sepultura, pois morrera no mesmo dia em que o mensageiro de Marta e Maria transmitira a Jesus o recado.
Por ser uma família distinta e estimada, havia muitas visitas na chácara de Betânia, quando a notícia da presença de Jesus O precede. Marta vai ao Seu encontro e, na encruzilhada, à beira da povoação, avistando-O, fala-lhe:
Senhor, se estiveras aqui não teria morrido meu irmão.
Não longe dali ficava o sepulcro de Lázaro, num rochedo da encosta. O acesso se dava por estreita escada rústica e uma escura galeria subterrânea, com um bloco de pedra, em forma de mó, tapando a boca do sepulcro.
Jesus pede a Marta que chame sua irmã e, acompanhado ainda por todos os judeus que estavam na casa àquela hora e seguiram Maria, o Mestre se dirige ao local onde o corpo do amigo estava encerrado.
Narra o Evangelista que Jesus chorou. Embora os judeus tenham comentado que aquela era a demonstração do quanto o Rabi amava Lázaro, as Suas lágrimas sentidas e sinceras se deviam à constatação da ignorância de que os homens ainda eram portadores e, consequentemente, pelas dores que os avassalariam por largo tempo empós.
Ao comando de Jesus, Marta manda abrir o túmulo. Um hálito pestífero se espalha pela vizinhança. Envolto em largas faixas embalsamadas de essências raras, o rosto coberto com um sudário, lá estava o cadáver.
Ora o Mestre e depois brada com voz vibrante:
Lázaro, vem para fora.
Alguma coisa branca se move no fundo escuro da catacumba. Aproxima-se. Os contornos parecem mais nítidos. Caminha lentamente.
E, enrolado da cabeça aos pés nas faixas do embalsamamento, Lázaro respondeu a Jesus: Eis-me aqui, Senhor!
Quando a noite se fez, Lázaro é novamente o bom hospedeiro, andando sorrindo, comendo do pão que todos comiam. Era o motivo de todas as alegrias. Ao mesmo tempo, um motivo de terror.
Para aquela gente, ele se tornou um enigma. Quais seriam suas recordações daqueles quatro dias em que estivera no Vale da Morte? Mas ninguém ousava lhe perguntar as aventuras da misteriosa viagem.
Pelo desconhecimento da letargia, nas semanas que se seguiram, quase que não se falava de outra coisa em Jerusalém e arredores. Jesus nem tocara no cadáver. Apenas ordenara e Lázaro agora estava no meio deles, em perfeita saúde. Muitos o procuravam e ele se tornou alvo de curiosidade geral. Depois de verem a Lázaro, os curiosos iam ter com Jesus, contemplando com um misto de admiração e medo aquele homem de Nazaré, que dava ordens à própria morte, e a morte lhe obedecia.
Quando, uma semana antes de Sua morte na cruz, Jesus retorna a Betânia, narram João, Marcos e Mateus que a localidade fervilhava de peregrinos, por causa das celebrações da Páscoa judaica.
Jesus foi convidado a jantar em casa de um tal Simão, chamado leproso. Talvez um daqueles que Ele curara em algum momento da Sua jornada de luz pela Terra.
Lázaro foi convidado, naturalmente, para tomar lugar à mesa do festim. Personagem tão distinto não poderia faltar. Desde que o Amigo Celeste o trouxera de retorno à vida física, despertando-o do sono letárgico, Lázaro não é mais o mesmo. Tudo ao seu redor, a paisagem risonha, a casa confortável, a delícia da vida, tudo se tornou uma coisa sem importância.
Lázaro entendera a mensagem de Jesus. Os homens o temem porque percebem que o sangue palpita nas suas veias, seu corpo é quente, seus olhos brilham, seus lábios sorriem. Ele retornou do outro lado, e dentro dele a vida canta como esplende na paisagem colorida e na asa dos pássaros.3
Em Lázaro há uma intensa alegria, pois, reconhece a verdade nas palavras de Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim viverá, ainda que tenha morrido; e quem em vida crê em mim não morrerá eternamente.
Por isto participa da Terceira Revelação. O amigo de Betânia é o que se dispõe a trabalhar com Jesus, no cortejo de Espíritos da equipe do Espírito de Verdade.
As suas páginas, A afabilidade e a doçura, Obediência e resignação, A lei de amor, O dever se encontram em O Evangelho Segundo o Espiritismo, no capítulo IX, itens 6 e 8, capítulo XI, item 8, e no de número XVII, item 7, ditadas todas no período de 1861 a 1863 em Paris.
Bem se revela Lázaro como aquele que muito amou a Jesus, elegendo-O à condição de amigo e seguindo-O, na qualidade de Guia e Modelo, quando afirma: O amor resume a doutrina de Jesus toda inteira, visto que esse é o sentimento por excelência…
…A lei de amor substitui a personalidade pela fusão dos seres; extingue as misérias sociais… Quando Jesus pronunciou a divina palavra – amor, os povos sobressaltaram-se e os mártires, ébrios de esperança, desceram ao circo.
Referências
1. As primícias do reino/Divaldo Pereira Franco/Amélia Rodrigues. Sabedoria, 1967. cap. 16.
2. Quem é o Cristo/J. Raul Teixeira/Camilo. FRÁTER, 1997. cap. 11.
3. Vida de Jesus/Plínio Salgado. Voz do Oeste, 1978. cap. LVII e LVIII.
4. Dicionário enciclopédico da bíblia/ A.Van Den Born. VOZES, 1985.
Nota Juventude Espírita
Na ausência de foto ou pintura do personagem, criamos a imagem de chamada utilizando inteligência artificial.