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Lembranças

Autor: Casimiro de Abreu (espírito)

*

No sacrário das lembranças,

Revejo-te, trigueirinha,

De negras e longas tranças,

Moreninha.

*

Teus lindos pés descalçados,

Pisando de manhãzinha

A verde relva dos prados,

Moreninha.

*

Os primorosos cabelos

Enfeitados, à tardinha,

De miosótis singelos,

Moreninha.

*

De olhar sedutor e insonte,

Quando o teu passo ia e vinha

Em busca da água da fonte,

Moreninha.

*

Teu vulto de camponesa

Era o porte de rainha,

Rainha da Natureza,

Moreninha.

*

Inda ouço os sons primeiros

Da tua voz na modinha

Modulada nos terreiros,

Moreninha.

*

Lavando a roupa às braçadas,

Nos fios d’água fresquinha,

Sob as mangueiras copadas,

Moreninha.

*

Os teus risos adorados,

Desferidos à noitinha,

Nos bandos de namorados,

Moreninha.

*

A tua oração ditosa,

Nas missas da capelinha,

Tão faceira! tão formosa!

Moreninha.

*

A placidez do teu rosto

Com teus modos de avezinha,

Fitando a luz do sol-posto,

Moreninha.

*

O teu samburá de flores

Que levavas à igrejinha,

Enchendo a nave de odores,

Moreninha.

*

O vestidinho de chita,

De rosas estampadinha,

Fazendo-te mais bonita,

Moreninha.

*

O nosso idílio encantado,

Quando te achavas sozinha,

Sob o luar prateado,

Moreninha.

*

Que terna recordação

De minhalma se avizinha!

De saudade, de paixão,

Moreninha.

*

Ai! Ai! meu Deus, quem me dera

Rever-te, doce rainha,

Rainha da Primavera,

Moreninha.

Nota

A poesia acima, psicografada por Francisco Cândido Xavier, faz parte do livro Parnaso de Além-Túmulo

Obra completa: https://www.febeditora.com.br/parnaso-de-alem-tumulo

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