Autor: Casimiro de Abreu (espírito)
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No sacrário das lembranças,
Revejo-te, trigueirinha,
De negras e longas tranças,
Moreninha.
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Teus lindos pés descalçados,
Pisando de manhãzinha
A verde relva dos prados,
Moreninha.
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Os primorosos cabelos
Enfeitados, à tardinha,
De miosótis singelos,
Moreninha.
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De olhar sedutor e insonte,
Quando o teu passo ia e vinha
Em busca da água da fonte,
Moreninha.
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Teu vulto de camponesa
Era o porte de rainha,
Rainha da Natureza,
Moreninha.
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Inda ouço os sons primeiros
Da tua voz na modinha
Modulada nos terreiros,
Moreninha.
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Lavando a roupa às braçadas,
Nos fios d’água fresquinha,
Sob as mangueiras copadas,
Moreninha.
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Os teus risos adorados,
Desferidos à noitinha,
Nos bandos de namorados,
Moreninha.
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A tua oração ditosa,
Nas missas da capelinha,
Tão faceira! tão formosa!
Moreninha.
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A placidez do teu rosto
Com teus modos de avezinha,
Fitando a luz do sol-posto,
Moreninha.
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O teu samburá de flores
Que levavas à igrejinha,
Enchendo a nave de odores,
Moreninha.
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O vestidinho de chita,
De rosas estampadinha,
Fazendo-te mais bonita,
Moreninha.
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O nosso idílio encantado,
Quando te achavas sozinha,
Sob o luar prateado,
Moreninha.
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Que terna recordação
De minhalma se avizinha!
De saudade, de paixão,
Moreninha.
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Ai! Ai! meu Deus, quem me dera
Rever-te, doce rainha,
Rainha da Primavera,
Moreninha.
Nota
A poesia acima, psicografada por Francisco Cândido Xavier, faz parte do livro Parnaso de Além-Túmulo
Obra completa: https://www.febeditora.com.br/parnaso-de-alem-tumulo