Autor: José Feitosa
Poucas vezes nos lembramos de refletir sobre alguns assuntos que, embora frequentes na atualidade, produzem consequências consideráveis. Os relacionamentos amorosos, então, sempre foram envoltos em tabus, em polêmicas cujos efeitos são a falta de informação e de interação. A civilização hebraica trouxe consigo o imperativo da monogamia, princípio defendido por Jesus e basilar no Mundo Ocidental. Em muitos trechos, o Cristo reafirma a necessidade da fidelidade entre os casais, reafirmando o mandamento segundo o qual não se pode cobiçar a mulher do próximo. Ele próprio, contudo, demonstrou compaixão pela prostituta Madalena, que, diante da bondade do Mestre, reequilibrou-se. Assim, Ele ensinou à Humanidade algo muito útil: em matéria de sexualidade, não se pode julgar, mas sim educar.
Como consequência do movimento de liberalização que desde a década de 60 varre o mundo, o “ficar” tornou-se prática comum. E esse processo foi, de certa forma, positivo, pois significou o fim de uma repressão e, portanto, de um limitador do livre-arbítrio. O fato de poder escolher por si mesmo um parceiro tem grande valor; as pessoas, a partir de então, podem conhecer possíveis companheiros antes de se unirem matrimonialmente. Não é isso que ocorre hoje em dia, porém, na maior parte dos casos, porque muitos, sem se conhecerem, relacionam-se intimamente.
Quando se trata do outro, a responsabilidade deve ser ressaltada. Pense comigo: se não há respeito entre os “ficantes”, o quadro é de desvalorização do ser. Muitas vezes nem sequer os nomes dos envolvidos são ditos. Assim, ninguém se conhece. Você poderá dizer que, em geral, as pessoas sabem qual o tipo de relação as espera quando “ficam”, e, por isso, não existe desrespeito. Infelizmente, é evidente que as coisas não se dão desse modo. Para se apaixonar, basta um instante, e uma relação infeliz só gera sofrimento e desilusão. Se formos causadores desse sofrimento e dessa desilusão, teremos de responder à lei de causa e efeito, que nos educará.
Não se trata de sustentar uma postura moralista. Carinho, amor, sexo, tudo isso é bom e está contido na Lei de Reprodução, descrita pelos Espíritos Superiores em “O Livro dos Espíritos”. Mas o sentido disso se perde quando o sentimento de comunhão inexiste e os apelos unicamente carnais dominam os amantes. O Espiritismo se abstém de dizer aos seus adeptos o que devem ou não fazer, visto que é uma doutrina esclarecedora e, diria eu, pedagógica. Fruto do Século da Razão, Ele respeita o livre-arbítrio, mesmo porque só é válida a decisão tomada por uma consciência livre. Como disse Paulo, “tudo posso, mas nem tudo me convém”.
O que proponho nessas linhas despretensiosas é apenas refletir sobre a superficialidade de certas relações modernas, sem a intenção de crítica. O artificialismo, o egoísmo e o orgulho dos que se afastam das emoções sexuais para aparentar pureza diante do público, aliás, é também negativo, conforme a questão 698. Nós, os que nos vinculamos à proposta espírita, sabemos que é bom direcionarmos nossas atitudes para algo produtivo, agradável, que faça bem a nós e aos outros. Nem sempre conseguimos fazê-lo, mas sempre é tempo de reavaliar valores.
Talvez fosse necessário alterar a condução da orientação sexual a que se almeja em escolas e lares. Obviamente, deve-se dar informações sobre como prevenir-se de DSTs e de uma gravidez indesejada. Entretanto, mais que isso, é preciso educar para a afetividade. Seria interessante discutir sentimentos nos romances, as manifestações da paixão e do amor, como expressá-los segundo a personalidade do educando, como aceitar a si mesmo e ao outro no relacionamento, enfim. Se possível, debater isso com pais, professores em quem se confia. Tal ideia não é minha, e sim do doutor Eliano Pellini, um ginecologista com experiência em sexualidade. Julguei-a útil, pertinente. Mas, como nos diz Emmanuel, “enquanto houver imundície no coração de quem analise ou de quem ensine, os métodos não passarão de coisas igualmente imundas”.