Autor: Marcus Vinicius de Azevedo Braga
Em um dos meus raros momentos de meditação, onde sob a luz da penumbra eu ligo o som e fecho os olhos, envolvido em lembranças, lembrei dos meus tempos na Juventude Espírita, na nossa grande “Mocidade Mariana” no Centro Espírita de Jacarepaguá. Lembrei-me dos domingos ensolarados em que encarávamos um condomínio de prédios na árdua Campanha do Quilo, das idas à comunidade carente do “Canal do Anil”, onde evangelizávamos as crianças. Ainda lembro os nomes: o Zequinha, o Quequé, o Luciano… Como eram bons aqueles domingos em que íamos cantar e discutir à beira do canal com aquelas crianças as alegrias do Evangelho.
Bem verdade, tínhamos grandes dirigentes e naqueles momentos de dúvidas e revolta, encontrava sempre neles o ombro amigo. Amigos, fizemos bastante no convívio, na luta, com a confraternização no Culto no Lar mensal e nas festas de aniversário surpresa. Fazíamos também grandes festas para arrecadar recursos para as atividades junto às crianças. Estudos conduzíamos com empolgação e pesquisávamos a fundo a Doutrina Espírita para elaborá-los. Em uma atitude pioneira, a coordenação da mocidade nos colocou para proferir palestras nas reuniões públicas da casa periodicamente. Imagine, um jovem de 16 anos subindo a tribuna e seus amigos lá assistindo, vibrando por ele…
É… Eu me lembrei disso tudo e vi que havia um “quê” de mágico, um quê de uma lembrança muito boa armazenada lá no perispírito. Sim, não nos preocupávamos com o novo modelo de carro ou com quanto ganharíamos no nosso futuro emprego. Queríamos um mundo melhor e isso era de uma magia fascinante!
Falei dessas mágicas lembranças para lembrar também que hoje essa magia se perdeu… Deve estar apenas nas páginas de “Harry Potter” ou do “Senhor dos Anéis”. Parece papo de velho, né? Seria bom que fosse, mas o convívio com a geração nova que tive mais amiúde em atividades do campo profissional me mostrou outras preocupações: Sensações, emoções, conhecer novos lugares, prazer, quanto eu vou ganhar nessa profissão, qual a profissão em que eu não faço nada, como eu faço para ser feliz… O individualismo se alojou de tal forma nessa geração que esvaziou tudo. Quando visito os trabalhos assistenciais, vejo aquela “moçada” de antes que já não está tão moça assim. Na casa espírita, que eu acordava cedo no domingo de manhã, vejo jovens chegando contrariados e alguns até obrigados, fazendo com que dirigentes mais incautos usem artifícios como festas e passeios para trazer o jovem para a casa. Motivações enganosas não conquistam corações e mentes. O jovem, destemido e questionador, cede lugar a um tipo mais acomodado e individualista. Claro, falo de generalizações, onde conhecemos sempre exceções. Como pela minha profissão eu me mude sempre, colhi vários cenários para exemplificar o que falo.
Será que não preparamos essa geração direito? Foi a tecnologia? O Espiritismo já não está atendendo as expectativas deles? Onde foi que erramos?
Sinceramente, acho que não erramos em nada, ou quase nada, para não ser prepotente. Acho que o mundo também está envolvido um pouco nessa onda e estamos com um problema de referencial. As mudanças ciclópicas no nosso modo de vida e nos nossos valores ainda não foram totalmente digeridas e essa transição “pós-moderna” favorece o medo, o individualismo e a busca incessante de conforto, ao invés do confronto. O amor ao próximo, o próximo mais próximo, esse está caindo de prioridade. Como dizia uma letra da década de 80, está démodé.
Essas não são questões fechadas e sim questões para a meditação e a ação. Você, caro amigo, também acha que essas coisas são reais? A juventude está passando realmente por este processo? O que podemos fazer? Vamos pensar! Afinal, a sorrir eu pretendo levar a vida…
O consolador – Ano 3 – N 140