Ao tempo do Cristo, os perfumes eram muito usados pelos homens e pelas mulheres de Israel. Serviam-se deles os judeus, tanto para atenuar os inconvenientes da sudação, no país quente em que viviam, quanto por apurado bom gosto.
Lê-se no Velho Testamento que a rainha de Sabá trouxe camelos carregados de perfumes ao rei Salomão; que Ester, antes de se apresentar ao rei Assuero tinha se perfumado durante um ano. A noiva descrita no Cântico dos Cânticos derramava óleo de odores fortes.
Por isso mesmo, as mulheres de Israel encontravam, nos textos sagrados, um grande encorajamento para utilizarem perfumes.
Em Jerusalém, as mulheres podiam dispender em perfumes um décimo de seu dote, preparando-se, com certeza, de forma muito especial para o seu amado na sua noite de núpcias.
Algumas chegavam mesmo a portar, sob os pés, minúsculos vaporizadores de pele. Ao desejarem, bastava-lhes pressionar o dedo grande para que uma onda de perfumes as abraçasse, encantando o seu pretendente.
Alguns perfumes eram extremamente caros e raros. Tal o nardo, de odor penetrante, esse mesmo que Maria, de Betânia, derramou sobre a cabeça de Jesus e inundou a sala inteira, durante o banquete, em casa de Simão, o antigo leproso.
Maria era irmã de Lázaro e Marta. Viviam em Betânia, lugarejo na encosta oriental do Monte das Oliveiras, no caminho de Jerusalém para Jericó.
Cercada por imensos campos de cevada, pequenos bosques de olivedos e figueiras que sombreiam a estrada de Jericó serpenteante junto às muralhas, Betânia ficava a uma hora de Jerusalém.
Tudo ali era bucolismo: tapetes de flores miúdas caíam sobre a relva verdejante e a coroa do Monte das Oliveiras ao longe tingia com o verde-cinza das árvores a paisagem deslumbrante.1
Os irmãos de Betânia haviam feito de Jesus membro da família e recebê-lO em casa representava o engastar de uma estrela nas paredes domésticas.1
Seu lar era rodeado de rosas perfumadas e construído de paredes cobertas de plantas trepadeiras. Ao redor, cedros e pessegueiros em flor. A casinha era cúbica, de alpendre com colunas abraçadas por hera verde-escura.1 Um lugar de aconchego e paz.
Muitas vezes Jesus foi hospedar-Se naquela casa. Em uma das oportunidades, encontramos Maria sentada aos pés de Jesus, desejando beber avidamente de tudo o que saía daqueles lábios.
Marta, a mulher prática, desejava oferecer a Jesus e Seus acompanhantes o melhor, e corre de um a outro lado, tentando preparar o repasto, arrumar os leitos, dispor a mesa.
Afável, aproxima-se e observa ao Mestre que sua irmã O está importunando, sem se preocupar em tudo preparar para a refeição de logo mais.
A palavra é semente de vida, diz Jesus. E completa: Maria escolheu a melhor parte, que não lhe será tirada. ( Lc, 10:42 )
Então, narra a parábola do Rei que visitou a casa de um homem casado. Quando o monarca chegou, ele se quedou a escutá-lo, enquanto a esposa perdeu-se nas tarefas do lar. O Rei ficou pouco tempo e partiu. Somente aquele que o escutou se inteirou do programa do seu reinado, o que era mais importante…1
Durante o célebre banquete oferecido por Simão, uma semana antes da morte de Jesus, Maria ousaria provocar um escândalo. Era uma mulher que amava profundamente aquele Mestre que vinha semear luzes nas mentes e acalentar corações sofridos.
O banquete, ela sente, era uma festa de despedida. Ela sabia que, desde a ressurreição de Lázaro, os adversários de Jesus tinham apertado o cerco em torno dEle. Ela pressentia que Ele estava se despedindo. Eram os últimos dias do Amigo entre eles.
Por isso, foi buscar em casa um vaso de alabastro finíssimo, cheio de bálsamo de nardo genuíno. Talvez fosse o perfume que guardava, em seu dote, para o esposo, na noite das núpcias. Pesava quase uma libra, ou seja, trezentos e cinquenta gramas. Diz-se que Judas teria comentado a respeito do desperdício, avaliando o produto pela fortuna de trezentos dinheiros, o que teria alimentado três mil pobres, segundo o cálculo de Filipe, outro Apóstolo de Jesus.
Um murmúrio percorre a sala. Os discípulos, instigados por Judas, comentam, conforme as anotações do Evangelista Mateus. (Mt., 26:8-9)
Os demais se escandalizam, possivelmente por imediatamente fazerem a associação ao processo de sedução utilizado pelas mulheres, em que o perfume era o ingrediente primordial. Estaria ela, em público, declarando o seu amor Àquele homem!? Ele era um rabi!
Eis porque Jesus, entendendo-lhe a intenção e o grande amor que ela expressava, disse: Por que molestais esta mulher? Ela fez-me verdadeiramente uma boa obra. Porque vós tendes sempre convosco os pobres; mas a mim nem sempre me tendes. Por isso, derramando ela este bálsamo sobre o meu corpo, fê-lo como para me sepultar. Em verdade vos digo que em toda a parte onde for pregado este Evangelho por todo o mundo, publicar-se-á também para sua memória o que ela fez. (Mt., 26:10-13)
Maria, em seu coração, parece ter previsto também que não seria possível dar ao corpo de Jesus, após a Sua morte, as honras que Lhe seriam devidas, conforme o costume de Israel. E tudo oferece ao Amigo Sublime antes, não se importando com os falatórios, nem com sua própria reputação.
Ela ama e o expressa, enquanto o Amigo está entre eles. Sublime lição. Ato de Beleza e de Poesia.
Referências
1.FRANCO, Divaldo Pereira. A família de Betânia. In:___. As primícias do Reino. Pelo Espírito Amélia Rodrigues. Rio de Janeiro: Sabedoria, 1967.
2.ROHDEN, Huberto. O banquete em Betânia. In:___. Jesus Nazareno. 6. ed. São Paulo: União Cultural. v. II, pt. 2.
3.ROPS, Daniel. Usos e costumes – toucador e ócios. In:___. A vida quotidiana na Palestina ao tempo de Jesus. Livros do Brasil. cap. 11, item II.
4.SALGADO, Plínio. O perfume do nardo. In:___. Vida de Jesus. 21. ed. São Paulo: Voz do Oeste, 1978. pt. 4, cap. LXII.
5.TEIXEIRA, J. Raul. Saber escolher. In:___. Quem é o Cristo? Pelo Espírito Francisco de Paula Vítor. Niterói: Fráter, 1997. cap. 11.
6.VAN DEN BORN, A . Betânia. In:___. Dicionário enciclopédico da bíblia. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 1985.
Nota Juventude Espírita
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