Autor: Dr. Nubor Orlando Facure
Descrição de Casos
“Surto alucinatório benigno na adolescência”
“Transtorno mental de origem mediúnica”
Caso 1 – Angélica
Menina de 14 anos, acompanhada da mãe, com fortes sinais de estar dopada por medicamentos antipsicóticos.
Inicialmente ela diz que não vai falar nada comigo porque os médicos não acreditam no que ela conta. Havia passado, naquela semana, por duas internações em hospital geral, onde foi dopada após ter destruído mobiliário do quarto, agredido a enfermagem e atirado objetos no seu médico.
Ela via, conversava com Espíritos, recebia recados, sentia suas presenças coladas ao seu corpo e sofria agressões produzidas por eles.
Foram feitos inúmeros relatos e eu consegui que a mãe os escrevesse fornecendo-me os tópicos principais do que via e sentia a menina.
Vou destacar alguns que me pareceram interessantes:
Ela ouve o choro de uma criança embaixo da janela do seu quarto. A criança chora à procura da sua mãe, que ela perdeu num acidente em que foram envolvidas.
No seu quarto ela já viu outras crianças que pediam o seu colo querendo brincar. Ela chega a me dizer que seu quarto às vezes parece um berçário.
Conversava com Espíritos aos quais chamava pelo nome.
Brincando na rua com os coleguinhas e o namorado, ela se escondia atrás de uma árvore e, quando encontrada, debatia-se em crise de choro, contando que um “homem” lhe batia no rosto com violência.
Perguntei quantas vezes ela já foi ameaçada ou agredida e o que ela fazia nessas situações.
Foi então que ela me fez um relato extremamente interessante, difícil de ser inventado por uma menina de 14 anos e, de certa maneira, inédito no meio espírita. Ela disse que inúmeras vezes foi ameaçada por entidades de aparência ameaçadora e que, nessas ocasiões, seu avô (desencarnado) aparecia com seu cachorrinho, assustando os agressores. É o primeiro relato que conheço de um animalzinho, no plano espiritual, ser utilizado para defesa de um encarnado.
As crises de desmaio, ela as atribuía às agressões violentas que sofria. Diz que lhe batiam até que ela desmaiasse. É por isso que, ao vê-los, ela se desespera e atira objetos para afastá-los. Alguns Espíritos, ela os percebe tão de perto que chega a confundir as batidas do coração e a respiração deles com a sua.
Caso 2 – S.M.
Menina de 12 anos. Sempre foi arredia, não conversa com seus professores, não verbaliza suas queixas e mal responde a chamada de classe. Aceita a ajuda dos colegas na hora das tarefas, do lanche e da brinquedoteca. Surpreendentemente “faz os melhores desenhos da classe nas aulas de educação artística“. Apesar do esforço familiar, de professores e da fonoaudióloga, não está alfabetizada.
Veio à consulta com o diagnóstico de autismo e surto psicótico. Isso porque seu quadro teve uma mudança espantosa nos últimos dois meses. Ela começou a ouvir vozes. Sofria agressões físicas, apanhava dos Espíritos que via. Eram homens, mulheres e crianças que a xingavam de burra, tonta, diziam palavrões e faziam comentários com conteúdo sensual sobre seu corpo.
Eles a fazem pedir brinquedos para o pai e depois a fazem quebrá-los.
A mãe diz que, frequentemente, a surpreende falando sozinha. Vê crianças no telhado, esqueleto no banheiro, um menino de metal no seu quarto, que parecia não ter olhos. À noite, o incômodo era maior. Eles “ficavam enchendo o saco” e um deles passou a noite batendo os dedos na sua cama.
Tudo isso a fazia acordar agitada, chegando a quebrar coisas em casa e a agredir a própria mãe.
Durante a consulta ela interagia normalmente, mas, outras vezes, parecia debochar da nossa conversa, ria e falava coisas fora do contexto das perguntas. A meu pedido ela me trouxe desenhos que fez, confirmando ter certa habilidade, mas nenhum talento incomum.
Num dos seus retornos a mãe conta que ela passou a cantar e dançar sem parar. Agora pede que ela a leve aos bailes da cidade em que mora e se mostrou interessada em namorar um garoto negro da sua idade. A paciente é loirinha, muito branca e de olhos claros.
Diz que quando dança as músicas do “Tchan” e da “Gretchen” “eles” não a incomodam tanto.
Caso 3 – L. S.
“Surto alucinatório benigno na adolescência”
“Transtorno mental de origem mediúnica”
Menino de 14 anos. Chega à consulta com o boné abaixado, escondendo os olhos. Peço que o tire, seu olhar é fulminante. Parece que vai se levantar para se retirar da consulta. Percebe-se que a mãe está amedrontada. Ela passa a contar que no último mês seu filho está irreconhecível. Apresenta uma mudança assustadora no comportamento. Conversa sozinho; diz ser um jovem que nomeia. Pergunto a idade desse jovem; ele diz ser um pouco mais velho que ele. O intruso lhe dá ordens, diz ter outros amigos e que vão tomar conta da sua vida.
Conta a mãe que tudo teve início quando ele começou a ficar agressivo com ela, desmazelado, chegando a permitir que o cachorro da casa sujasse o seu quarto. Quando a mãe deu-lhe a ordem para recolher as fezes do animal, ele lhe respondeu violentamente. Ela insistiu e, na sequência dos desmandos, o ameaçou com uma cinta. Para espanto da mãe, ele se adiantou e disse, aos gritos, que ela podia bater quanto quisesse, porque quem sofreria seria o garoto, LS, filho dela. Era nítido para a mãe que ele estava como que possuído por outra personalidade.
Caso 4
As alucinações do maestro
Seu João Lenhoso já tinha ultrapassado seus 70 anos, quando veio me consultar, devido a umas visões que vinha tendo nos últimos meses. Era maestro, exímio pianista. Toda tarde gostava de sentar-se ao seu piano, na sala de jantar, tocando músicas amenas, descansando do ritmo exigente da orquestra. De um momento para outro, começa a ver um casal que próximo à janela. Levantou-se para conferir, mas o casal desapareceu. Os dias passam, ele vê mais gente na janela. Sempre desaparecendo quando ele vai conferir quem é. Com o tempo, essas “pessoas” começam a entrar na sala, e em certas noites aparecem no seu quarto. O curioso é que a manifestação se manteve apenas visual. O Seu João nunca escutou qualquer palavra por parte dessas visões.
Depois que o atendi, pude acompanhá-lo por alguns anos e comecei a notar muitas mudanças nas imagens. Elas apareciam distorcidas, às vezes reduzidas em seu tamanho e era possível vê-las entrando em uma garrafa da sala.
Seis ou sete anos depois, Seu João estava apresentando um quadro declarado de demência e sua visão tinha sido inteiramente tomada pela catarata.
Esse quadro sugere dois problemas interessantes:
As doenças dos olhos, tipo catarata, podem produzir alucinações visuais. Não sei se com a riqueza de detalhes que Seu João via.
Em segundo lugar, ensina Allan Kardec, em “O Livro dos Médiuns”, que uma doença cerebral pode levar o paciente a ter visões retidas em seu próprio cérebro. Só não sei se de maneira crônica e tão prolongada como foi esse caso.
Contribuição ao pensamento espírita
(Opiniões pessoais do autor)
1 – Ao descrever as funções da pineal, a partir do plano espiritual, André Luiz (pelo médium Chico Xavier) nos revela outro paradigma fisiológico. Para mim, esse modelo de interação descrito por André Luiz introduz uma nova compreensão dos fenômenos de ação da mente sobre o cérebro.
2 – Sugeri o nome de “fenômenos espírito-somáticos” a um grupo de fenômenos em que a atuação do fluido mental (derivado do “fluido cósmico universal”, segundo Allan Kardec) tem papel preponderante, com particularidades que estão muito acima das limitações, por exemplo, dos neurotransmissores.
3 – Organismos inferiores, como uma bactéria, não precisam “renascer” bactéria. Seu material genético “espiritual” pode ser incorporado a outros seres vivos mais ou menos complexos. Afinal, nosso corpo físico transita carregando em suas vísceras, trilhões de micro-organismos.
4 – Creio que os centros de forças (chacras) atuariam no cérebro através de vias anatômicas (feixes nervosos) que os neurologistas chamam de “sistemas difusos” de atividade cerebral.
O chacra cerebral de localização frontal estaria ligado ao sistema dopaminérgico. O chacra coronário ao sistema endócrino, à pineal e ao eixo hipotálamo/hipofisário (hormônios).
Os chacras plexuais (plexos nervosos) laríngeo, gástrico, esplênico, genésico estariam ligados ao sistema nervoso autônomo (acetilcolina e noradrenalina).
5 – Para mim, a mediunidade é um automatismo cerebral complexo com a participação orquestrada de duas mentes interdependentes. Os núcleos da base e o lobo frontal seriam as principais áreas desses automatismos.
6 – André Luiz aponta a sintonia, o condicionamento, a aceitação e a sugestão como indispensáveis ao fenômeno mediúnico. Eu incluiria o aprendizado. Todo automatismo passa antes por um treinamento.
7 – Nos médiuns pintores, o aprendizado cria nos centros de automatismo cerebral (núcleos da base e região pré-frontal) um programa específico para a capacidade de pintar. O Espírito pintor traz pronta a tela, que é resgatada para o plano físico dentro desse programa automático. Como o PowerPoint, resgata as imagens da nossa câmara fotográfica. No que concerne à mistura das tintas e sua expressão na tela, deve ocorrer um fenômeno tipo mediunidade de “efeitos físicos”, que obriga a tinta a “obedecer” às misturas que a mente do pintor determinou.
8 – Diversas situações clínicas, como a histeria, a hipnose, a narcolepsia, o membro fantasma, a anorexia nervosa, podem expressar a existência de um “corpo mental” que obedece a uma fisiologia distinta da que ocorre com o corpo físico.
9 – Na literatura, a definição de mente costuma ser complexa, discordante e contraditória. Frequentemente é interpretada como sendo a própria consciência. André Luiz tem a mente como sinônimo de Espírito. Para mim, consciência é uma propriedade da mente, que nos permite identificar e interagir com o meio interno e externo que nos atinge. Essa propriedade vai se constituindo com a progressão da evolução dos seres vivos. Assim como um elemento simples como o oxigênio ou o carbono tem determinadas propriedades, esses mesmos elementos, à medida que se combinam compondo substâncias cada vez mais complexas, como, por exemplo, proteínas, se enriquecem com outro padrão de propriedades. A consciência implica, então, na aquisição de uma organização mais ampla e complexa de um mesmo elemento.
10 – Nossas memórias são eternas. No mundo físico, aprendemos que “nada se perde, tudo se transforma”. No mundo mental, pensamentos e ideias vibram para sempre.
11 – André Luiz ensina que o Espírito produz o pensamento e o transfere ao cérebro físico atuando sobre os corpúsculos de Nissl. A neurologia esclarece que esses corpúsculos correspondem ao retículo endoplasmático rugoso, que está encarregado de transcrever proteínas que participam da membrana celular e enzimas que participam da química dos neurotransmissores. Parece, então, que podemos sugerir que o próprio Espírito tem em suas mãos o poder de construir o tipo de neurônio que lhe convém.
12 – A reencarnação não se processa numa trajetória linear. As ideias de “vidas sucessivas e o progresso constante do átomo ao arcanjo” parecem sugerir isso. Assim como ocorre em qualquer organismo vivo, onde, do ponto de vista material, o que interessa é levar adiante os seus genes, para o “Princípio Espiritual”, o que interessa é ocupar um corpo qualquer para viver. O próprio material genético já conquistado não nos deixaria retroceder. As aquisições são progressivas. Aptidões, habilidades, instintos e conhecimento estão aprimorando genes. A trajetória que eles vão seguir é ascendente, mas seguramente tortuosa.
13 – Acreditamos haver no cérebro a “via do bem-estar”, da mesma maneira que existe o circuito do estresse que nos faz reagir diante das agressões físicas ou psicológicas. Numa situação de perigo o cérebro põe todo um sistema de alerta que nos favorece a luta ou a fuga imediata. Esse processo mediado por cortisol e adrenalina é altamente destrutivo para o organismo. A reação de bem-estar que estamos propondo incluiria a pineal e centros talâmicos, como o núcleo accumbens ligado à sensação de recompensa. Os mediadores químicos seriam a melatonina e a dopamina.
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