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Mediunidade: Estudo antropológico

Autor: Dr. Nubor Orlando Facure

Antropologia é a ciência que estuda a Humanidade e sua cultura no decurso de toda sua existência.

Na mediunidade, esse estudo seria extenso e curioso. Poderíamos começar com uma curiosidade: como ela teria se apresentado no homem primitivo, no seio daquele grupo de humanos que viviam nas cavernas? Qualquer informação sugerida hoje será, obviamente, meramente especulativa. Podemos conjecturar, porém, que a espiritualidade esteve ali presente, acompanhando, atuando e interferindo na extensa jornada humana nesse planeta.

Podemos perguntar, também, quanto esse contato espiritual atuou na criação das crenças, dos rituais, dos valores morais e éticos, na cultura dos diversos povos que floresceram e desapareceram nos núcleos humanos que povoavam o planeta.

Por outro lado, seria interessante nos determos no contexto cultural que podemos apreciar diretamente ainda hoje em diversas regiões da Terra. Na velha Índia, por exemplo, floresce um caldeirão de fenômenos inesgotáveis.

Na Inglaterra e nos Estados Unidos, pesquisadores trabalham rotulando fenômenos paranormais de diversos tipos. No Brasil, especialmente rico na sua mística regional, existe um gigantesco laboratório de expressões mediúnicas de diversificada apresentação; qualquer um pode testemunhá-los nos Centros Espíritas, nos terreiros de Umbanda, nos cultos protestantes, nas benzedeiras e nos “santuários” de cirurgia espiritual, onde podemos verificar uma intensa movimentação entre “nosso mundo” e a população de Espíritos que nos influencia, acode e orienta continuamente.

Podemos constatar, então, que na cultura dos diversos povos a clínica da mediunidade varia de lugar para lugar.

Deve-se lembrar que essa diversidade ocorre, também, na emotividade de cada povo, nas suas personalidades particularizadas, nas suas criações artísticas e até nas manifestações das suas doenças mentais.

Como se inicia a mediunidade?

O início da mediunidade pode ser lento, trabalhoso, contraditório, confuso, duvidoso, exigindo dedicação, conhecimento e muita disciplina para se confirmar diante de um mínimo de manifestações comportamentais se elas justificam receber o rótulo de mediunidade. Na dúvida é melhor pedir orientação a um Centro Espírita de confiança – devemos iniciar sempre com uma triagem médica para não colocar a pessoa em risco.

Outras vezes, a mediunidade pode ter um começo tão explosivo quanto um quadro psicótico com alucinações perturbadoras, transtornos graves do comportamento e mudanças na personalidade.

Há alguma diferença entre o homem e a mulher médiuns?

Apesar das características quase opostas tanto na personalidade como na sensibilidade emocional entre o homem e a mulher, a mediunidade faz pouca distinção de gênero.

Gêmeos idênticos são médiuns idênticos?

Allan Kardec ensina em “O Livro dos Médiuns” que a mediunidade se processa através do cérebro dos médiuns, o que nos permite pressupor que cérebros iguais conviveriam com mediunidades iguais clinicamente. Tenho conhecimento de duas jovens irmãs gêmeas que são médiuns – apesar de idênticas fisicamente, suas personalidades e suas mediunidades não são exatamente iguais. Espero poder conhecer novos gêmeos para saber se a personalidade seria mais influente que a semelhança física do cérebro de cada um.

Características da mediunidade a partir da infância

A idade é um fator marcante na mediunidade, os livros dão destaques particulares para cada idade.

A vidência é prevalente na criança e nos idosos; os fenômenos de efeitos físicos no adolescente; a escrita psicográfica e a fala mediúnica no adulto.

O ambiente interfere no fenômeno?

Condições ambientais interferem fortemente na mediunidade.

O que mais favorece a riqueza dos fenômenos mediúnicos são, reconhecidamente, os seguintes fatores: uma sala fechada, ambiente silencioso, levemente frio, grupo de pessoas com certa homogeneidade e vínculos afetivos, um ritual organizado e sistematizado, aprendido em diversos encontros desse mesmo grupo, sugerindo um comportamento disciplinado e condicionado.

A personalidade do médium é muito importante?

A personalidade sensível, introvertida e feminina, talvez indicando mais facilidade de submissão, permitiria mais acesso para abordagem e domínio das entidades espirituais.

Mediunidade é doença?

Existem perguntas difíceis, e essa é uma delas, mas um estudo clínico sério pode responder e esclarecer.

A mediunidade é uma doença? As doenças mentais são de alguma forma estados mediúnicos? A mediunidade, clinicamente, é passível de mistificação?

Doença é uma perturbação no bem-estar físico, psíquico, social e espiritual do indivíduo. Sendo assim, pode-se, com o máximo de cuidado ético e respeito ao médium, considerar que certas manifestações clínicas da mediunidade podem ser tidas como “doença”, especialmente naqueles momentos em que sua presença perturba o indivíduo na sua homeostase física e psíquica.

Não devemos considerar o médium, enquanto pessoa, como um doente, nem podemos correr o risco de reeditar o atraso da Idade Média quando possíveis médiuns foram levados à fogueira da inquisição.

Nessa época os fenômenos de possível natureza mediúnica eram atribuídos a manifestações demoníacas; esse nível de ignorância é que jamais pode ser aceito nos nossos dias.

A mediunidade, mais particularmente, o fenômeno mediúnico, pode ser de tal forma florido em sua clínica que se confunde com vários transtornos mentais. O difícil é o seu diagnóstico correto.

A Mediunidade e os transtornos mentais

As doenças mentais são fragilidades da Alma e, por isso, facilitadoras da atuação compartilhada de Espíritos. Escancaram as portas para a obsessão. São irmãos nossos comprometidos com a ignorância, quase sempre perturbadores, querelantes e exigentes de direitos que cobram do paciente perturbado mentalmente. Esse quadro, extremamente comum, constitui uma associação clínica simbiótica de muita gravidade. Acredito que na Esquizofrenia, na Bipolaridade e nas Paranoias diversas ocorre uma frequente troca ambivalente entre o orgânico e o espiritual. A associação entre a doença mental e uma perturbação espiritual é, a meu ver, a regra na psicopatologia humana.

O médium pode mistificar? Fazer por conta própria o que diz ser de um Espírito? O que é mistificação?

Diga-se de passagem que ela é um fenômeno tão corriqueiro na mente humana que sempre deve ser considerada nas avaliações clínicas da mediunidade. Assim como um médico bem treinado percebe um quadro histérico numa mulher que mistifica uma paralisia, um doutrinador espírita deverá adquirir experiência para saber detectar o que é animismo, o que é mediunidade e onde começa a mistificação. Nem por isso o médium deve ser condenado ou exorcizado. Quero repetir: mistificar é uma atitude comum no ser humano – até uma criança sabe fingir que gostou da camisa vermelha que aquela tia trouxe de presente de aniversário.

Dica

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