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Mediunidade, tesouro bendito

Autor: Temi Mary Faccio Simionato

Caríssimos, não acrediteis em todos os Espíritos, mas provai se os Espíritos são de Deus, porque são muitos os falsos profetas que se levantaram no mundo

I João, 4:1

Todos aqueles que são tentados a explorar os fenômenos em proveito próprio, fazendo-se passar por enviados de Deus, não podem abusar por muito tempo da credulidade alheia, porque logo serão desmascarados. Aliás, esses fenômenos nada provam por si mesmos, pois a missão se prova por efeitos morais, que nem todos podem, ainda, aprimorar. Esse é um dos resultados do desenvolvimento da ciência espírita que, pesquisando a causa destes, levanta o véu de muitos mistérios. Os que preferem a obscuridade à luz são os únicos interessados em combatê-la.

Os médiuns que fazem mau uso de sua faculdade, que não se servem dela com o objetivo do bem, serão duplamente punidos, porque têm um meio a mais para se esclarecerem e não o aproveitam. Em nota, em O Livro dos Médiuns, capítulo 20, questão 226, subitem 8, Kardec esclarece: “Há a se observar que, quando os bons espíritos julgam que um médium cessa de ser bem assistido e se torna, pelas suas imperfeições, a presa dos Espíritos enganadores, provocam, quase sempre, circunstâncias que revelam suas manias e afastam as pessoas sérias e bem intencionadas, de cuja boa fé poderia ser abusada.” Os médiuns levianos e pouco sérios atraem magneticamente os Espíritos da mesma natureza e por isso, suas comunicações são marcadas por banalidades, frivolidades, ideias sem sequência. Certamente eles podem dizer e dizem algumas vezes coisas boas, mas é nesse caso, sobretudo, que é preciso fazer um exame sério e escrupuloso, porque no meio dessas boas coisas, certos espíritos hipócritas insinuam com habilidade e com uma deslealdade calculada, fatos controvertidos, asserções mentirosas, a fim de enganar a boa fé dos seus ouvintes. Estes são os Espíritos enganadores, orgulhosos e pseudossábios que passaram da Terra para a erraticidade e se disfarçam com nomes veneráveis, para procurar, através da máscara que usam, tornar aceitáveis as suas ideias, frequentemente as mais bizarras e absurdas.

Assim, poderemos entender que a mistificação experimentada por um médium traz sempre uma finalidade útil, que é a de afastá-lo do amor próprio, da preguiça no estudo de suas necessidades próprias, da vaidade pessoal ou dos excessos de confiança em si mesmo. Os fatos de mistificação não ocorrem à revelia dos seus mentores mais elevados que, somente assim, o conduzem à vigilância precisa e às realizações da humildade e da prudência no seu mundo subjetivo.

Quando um médium resolve transformar suas faculdades em fonte de renda material, será melhor esquecer suas possibilidades psíquicas e não se aventurar pelo terreno dos estudos espirituais. É necessário procurarmos entender que a remuneração financeira, no trato das questões profundas da alma, estabelece um comércio criminoso do qual o médium deverá esperar, no futuro, os resgates mais dolorosos pois, a mediunidade não é ofício do mundo e, os Espíritos esclarecidos na verdade e no bem conhecem mais que os seus irmãos da carne as necessidades dos seus intermediários.

É preciso perceber que o médium sincero, antes de cogitar da doutrinação dos Espíritos ou de seus companheiros de luta na Terra, precisa iluminar-se pelo conhecimento, pelo cumprimento dos deveres mais elevados e, pelo seu esforço na assimilação perfeita dos princípios doutrinários, jamais se descuidando da vigilância, buscando aproveitar as possibilidades que Jesus concedeu-lhe na edificação do trabalho estável e útil. O estudo da Doutrina e, sobretudo, o cultivo da autoevangelização devem ser ininterruptos, fugindo da exploração material ou sentimental, compreendendo, em todas as ocasiões, que o mais necessitado de misericórdia somos nós mesmos, uma vez que o primeiro inimigo do médium reside dentro de si mesmo. Frequentemente é o personalismo, a ambição, a ignorância ou rebeldia no voluntário desconhecimento dos deveres à luz do Evangelho, os fatores de inferioridade moral que, não raro, conduzem o médium à invigilância e a leviandade.

As portas do tesouro psíquico devem ser vigiadas com segurança, pois, este tesouro representa o ápice do esforço de transformação para o bem, como afirma Jesus que, o Reino de Deus não vem com aparência exterior, pois a realização divina começa no íntimo de cada um, constituindo gloriosa luz do templo interno.

Muitas vezes, defrontamo-nos com irmãos nossos, com boa margem de serviços à causa, admirados de que entidades amigas não lhes atendem, como esperavam, a curiosidade, seja no campo pessoal ou na explanação de tema doutrinário. Estranham que os benfeitores não lhes   ministrem, como desejam a verdade salvadora. Não ignoramos que adiar o conhecimento da verdade e de certos fatos não constitui mentira ou omissão, seja dos Espíritos ou dos encarnados esclarecidos, mas revela, segundo as motivações, ótimo discernimento. A hora exata e o momento oportuno para que se transmita esta ou aquela orientação no campo pessoal ou de assuntos doutrinários, constitui sinal de compreensão evangélica e maturidade espiritual. Lembremos que, muitas perguntas feitas por Allan Kardec aos Espíritos elevados, embora ajuizadas e sérias, ficaram sem respostas em O Livro dos Espíritos, isto porque o tempo ainda não permitia a focalização de certos assuntos que só mais tarde seriam desenvolvidos com proveito.

Todo conhecimento da verdade da parte dos Espíritos e dos esclarecedores cuidadosos, é feito no sentido de que compreendamos a missão do Espiritismo: educar-nos no amor e na moral, preparando-nos, assim, para gloriosa destinação nos mundos de luz. É por isso que, desapontando curiosos e supostos sábios, os bons Espíritos não explicam tudo ao homem.

Fica claro, portanto, que o desinteresse é a mais absoluta e a melhor garantia contra o charlatanismo. Se não assegura sempre a boa qualidade das comunicações inteligentes, retira, pelo menos, aos maus, um poderosos meio de ação, e fecha a boca de certos detratores. A mediunidade uma faculdade dada para o bem, os bons Espíritos se afastam de quem quer que seja, que não responda aos objetivos da Providência. As portas da sabedoria e do amor permanecem constantemente abertas e os tesouros da ciência, as alegrias da compreensão humana, as glórias da arte e as luzes da sublimação interior são acessíveis a todos. No entanto, do rio de graças da vida, cada alma somente retira a porção de riquezas que possa perceber e utilizar proveitosamente.

Recordando que Deus a ninguém dá seus dons por medida, cada alma traz consigo, portanto, a medida que instalou no próprio íntimo para a recepção dos dons de Deus. Assim, cuidemos para que os ensinamentos do nosso divino Mestre cresçam em nossos corações e nos ajudem na perfectibilidade espiritual possível, discernindo entre os bons e os maus Espíritos, aos quais   poderemos aplicar o ensinamento deixado por Jesus: “O homem bom, do bom tesouro do seu coração tira o bem; e o homem mau, do mau tesouro tira o mal.” (Lucas, 6:15-20)

Bibliografia

KARDEC, Allan – O Livro dos Médiuns – 85ª edição – Editora IDE – Araras/SP/ – capítulo 20, questão 230 e capítulo 28, questão 306 – 2008.

XAVIER, C. Francisco – O Consolador, ditado pelo espírito Emmanuel – 29ª edição – Editora FEB – Brasília/DF/ – Perguntas: 399, 401, 402, 409 e 410 – 2013.

KARDEC, Allan – O Livro dos Espíritos – 182ª edição – Editora IDE – Araras/SP – livro segundo: Espíritos pseudossábios – 2009.

XAVIER, C. Francisco – Seara dos Médiuns – ditado pelo espírito Emmanuel – 20ª edição – Brasília/DF/ Editora FEB – Brasília/DF/ – lição 49 – 2015.

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