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Médiuns espíritas

Autor: Irmão X (espírito)

Você quer saber, meu amigo, a maneira pela qual os médiuns são interpretados na Vida Espiritual.

Creio não tenhamos aqui qualquer diferença no padrão de aferi-los. Contudo, diante do apreço com que a sua indagação está formulada, será lícito alinhavar algumas notas em torno do assunto, ainda mesmo somente para dizer que, para nós, Espíritos desencarnados, os médiuns são criaturas humanas como as outras.

Admito, porém, que devemos qualifica-los, para determinar situações e definir responsabilidades.

Em boa sinonímia, a palavra médium designa o intermediário entre os vivos e os mortos, ou melhor, entre os encarnados e desencarnados.

Você não ignora que a existência de sensitivos habilitados a estabelecer o intercâmbio do homem com o Mais Além corresponde, em todos os tempos, a necessidades fundamentais da mente humana. Antigamente eram chamados oráculos, magos, sibilas e pitonisas e achavam-se em Tebas, Jerusalém, Olímpia, Roma… Ontem classificados por bruxos e feiticeiros, viam-se lançados às fogueiras da Idade-Média pelo fanatismo religioso. E, se examinados pelo prisma da simples curiosidade, são igualmente médiuns, nos dias de hoje, os videntes e psicômetras, faquires e adivinhos, habitualmente remunerados, que pululam nas metrópoles modernas.

À vista disso, presumimos seja recomendável denominar médiuns espíritas os medianeiros em tarefas nas casas espíritas-cristãs, de vez que todas as pessoas que estejam agindo sob a influência dos que já desenfaixaram do veículo físico são médiuns. Lutero, ouvindo vozes do mundo espiritual, era médium reformista. Teresa D’Ávila, relatando visões de outros planos, era médium católica. E ninguém pode negar que, em condições inferiores, quantos se movimentem, dominados por entidades perturbadas ou infelizes, sejam também médiuns. Assim é que médiuns espíritas, em nosso despretensioso parecer, são aqueles que se dispõem a interpretar as Inteligências domiciliadas nas regiões espirituais, seareiros do bem, consagrados à doutrina do Espiritismo, indicada a restaurar os princípios cristãos na terra.

Falemos, assim, dos médiuns espíritas, nossos companheiros de ideal e de luta.

Não cremos sejam eles de estalão incomum. São individualidades terrestres, positivamente naturais. Tanto assim que os médiuns espíritas devem ter profissão e vida social digna.

Nada os impede de casar e constituir a própria família, quando desejem tomar compromissos no matrimônio.

Não se lhes pode exigir certidão de santidade, entre os seres humanos de cujas características participam; entretanto, qual ocorre com todos os seres humanos responsáveis, são convocados a lutar as tentações que lhes aguilhoam a carne.

Os problemas do sexo, de modo geral, nas organizações mediúnicas, são parecidos com os das outras pessoas. Inquietações, frustrações, inibições, exigências, anseios… No entanto, como acontece a todas as pessoas interessadas na educação própria, são convidados pelas circunstâncias a se conformarem nas provações orgânicas que tenham trazido ao renascer, tanto quanto a honrarem o lar que porventura hajam erguido, mantendo carinho e fidelidade para com o companheiro ou a companheira, sem trilhas de acesso à devassidão ou à poligamia. Em suma, no que tange às ligações afetivas, carecem de hábitos morigerados, no interesse real deles mesmos, competindo-lhes viver em paz com a natureza e com os imperativos da reta consciência, na intimidade doméstica.

No que se reporta à alimentação, estamos convictos de que lhes é permitido comer de todos os acepipes, consumidos por homens e mulheres de bom-senso, escusando-se à gula, ao álcool e aos agentes tóxicos. E, na apresentação social, decerto não necessitam mostrar a palidez e o desconsolo dos primitivos ascetas, a fim de evidenciarem a própria fé; entretanto, nada justifica se exibam nos excessos e disparates que se praticam, de tempos a tempos, em nome da moda.

Evidentemente, que os instrutores desencarnados anelam sejam eles criaturas modestas sem afetação e respeitáveis sem luxo, com disciplinas de atividade e repouso, banho e oração.

Atribui-se-lhes a obrigação de estudar sempre, elevando o nível dos conhecimentos que possuam, compreendendo-se que o Espiritismo não aplaude a ignorância, e cabe-lhes trabalhar intensamente, na extensão do conhecimento espírita, notadamente no socorro ao próximo, porquanto médiuns espíritas não existem sem a cobertura da caridade, e é forçoso que sirvam espontaneamente, persuadidos de que, auxiliando os outros, auxiliam a si mesmos, para que não estejam no apostolado mediúnico, que é construção cristã de bondade e alegria, instrução e conforto, esclarecimento e progresso, lembrando animais descontentes, atrelados à canga.

Em hipótese alguma devem cobrar honorários pelos benefícios que prestem e, em nenhum momento, se justificará qualquer iniciativa tendente a situá-los em regime de privilégios, mas, também por serem médiuns espíritas, não será justo que se lhes tumultue o lugar de trabalho, aniquilando-se-lhes a possibilidade do ganha-pão honesto, em nome do bem, e nem é lícito, a pretexto de fraternidade, que se lhes convulsione a residência e se lhes devasse a vida. Por serem médiuns espíritas, não estão obrigados a fazer tudo o que se lhes peça, a título d beneficência ou solidariedade, e nem a assumir atitudes em desacordo com a própria consciência, para satisfazer ao sentimentalismo superficial, inferindo-se que pela mesma razão de serem médiuns espíritas é que precisam agir com segurança e discernimento, convictos de que não podem e nem sabem tudo, porque saber e poder tudo é apanágio de Deus.

Indiscutivelmente, se lançam a mediunidade a influências políticas ou discriminações sociais, deixam de ser médiuns espíritas, porque o Espiritismo se baseia no Cristianismo vivo, que considera irmãos todos os homens, com o dever de os mais fortes se constituírem apoio aos mais fracos.

Não, não conhecemos médiuns espíritas maiores ou menores. Todos são credores de estima e acatamento na prática criteriosa das faculdades que exerçam. No dia em que os espíritas ou os Espíritos intentassem estabelecer qualquer casta mediúnica, os médiuns espíritas desapareciam, porquanto surgiria, em lugar deles, toda uma nobiliarquia religiosa. Todos sabemos que, perante os ensinamentos do Cristo, rótulos e brasões, comendas e apelidos honoríficos, embora respeitáveis nas convenções políticas do mundo, são, diante do Evangelho, autênticas patacoadas.

E, quanto aos médiuns espíritas que se esforçam pelo engrandecimento da verdade e do bem, oferecendo de si quanto lhes é possível, em louvor dos semelhantes, tratemo-los com o apreço que nos merecem, mas fujamos de perdê-los com lisonja e idolatria.

Se você encontra, demasiada severidade em nossas opiniões, recorde o conceito do próprio Cristo, quando definiu o maior no reino dos Céus como sendo aquele que se fizer, na terra, o servidor de todos.

Não desconhecemos que nós, Espíritos desencarnados e encarnados, em dívidas volumosas perante a Lei, estamos atualmente procurando reviver o Evangelho, na Doutrina Espírita, e, compulsando o Evangelho, é fácil verificar que, em torno de Jesus, apareciam talentos de renovação e oportunidades de trabalho para todos, mas não houve adulações e nem medalhas para ninguém.

Nota

O conto acima, psicografado por Francisco Cândido Xavier, faz parte do livro Contos Desta e Doutra Vida.

Obra completa: https://www.febeditora.com.br/contos-desta-e-doutra-vida

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