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Métodos contraceptivos: Uma reflexão espírita

Autor: Jorge Hessen

Ao realizar a vasectomia em comum acordo com a esposa, tendo dois filhos e sem projetos para outros, e considerando que a consorte, por recomendações médicas, não podia tomar pílula anticoncepcional, perguntou-nos certo leitor se ele estaria lesando seu perispírito?

Dissemos que a questão é complexa e deve ser analisada conforme cada caso. Explicamos que não se pode ter uma visão simplista do assunto, até porque as situações e casos devem ser abordados em particular e individualmente, por pessoas preparadas e com conhecimento desses tópicos, para melhor orientar os envolvidos.

Todavia, em face da insistência do nobre leitor para que opinássemos, dissemos a ele que temos o direito de fazer o nosso planejamento familiar e essa decisão está atrelada ao livre-arbítrio dos casais. Sem colidir com a coerência doutrinária, explicamos que a prole é programada no mundo dos Espíritos, considerando as determinações de crédito e débito, oriundas das vidas pregressas, antes da incursão no corpo físico. Portando, “planificamos a formação da família antes do renascimento terrestre, com o amparo e a supervisão de instrutores beneméritos”. (1)

Há escolhas que antecederam o planejamento reencarnatório, bem como aquelas no decorrer da encarnação. São conhecidas como momentos de decisão. Será então que “podemos proceder à escolha de nossas provas, enquanto encarnados? Sim, é possível. Mesmo na vida material, há sempre momentos em que nos tornamos independentes da matéria que nos serve de habitação”. (2)

Os filhos derivam de pactos asilados antes do processo reencarnatório pelos futuros pais, visando erguerem a família de que carecem para a inevitável evolução. Mas é de boa lembrança não deixar as coisas por conta da natureza – pode ser insensatez e imprudência. O Criador nos deu o uso do raciocínio no bom emprego das leis naturais. Não fosse assim, em que pese os prévios compromissos pactuados no “além”, teríamos que procriar indefinidamente, durante toda a existência física, o que obviamente não seria uma atitude racional.

Na literatura básica do Espiritismo não há referência específica sobre os métodos contraceptivos da vasectomia e da laqueadura de trompas. Não obstante, analisando O Livro dos Espíritos, no capítulo sobre a “Lei de Reprodução”, encontramos alguns subsídios importantes para discutir o tema. Aprendemos com os Espíritos que se pode controlar a natalidade, sem abusos. Porém, advertem-nos os Benfeitores que se o objetivo for a sensualidade, onde a predominância do lado animal esmague os anseios do espírito, acarretará gravíssimas consequências morais. E quanto mais nos sentimos culpados por alguma coisa, igualmente isto nos afeta o campo emocional.

Há os que fazem vasectomia ou a laqueadura de trompas apenas para evitar as complicações oriundas de uma gravidez indesejada. Todavia, permanecem abusando da sensualidade. Estes, naturalmente, terão na mente culpada os reflexos perversos, acicatando a consciência. A culpabilidade é de contínuo uma nesga de sombra eclipsando-nos a visão. O sentimento de Culpa é sempre um colapso da consciência e, através dele, sombrias forças do mal se insinuam.

O controle da natalidade precisa ser verificado à luz da finalidade de quem o pratique. Se o intuito for de levar a cabo um planejamento familiar que se ajuste às realidades do casal, sobretudo de ordem financeira, nada encontramos nas orientações kardequianas que o desaprove. Se, contudo, a finalidade é puramente física, de nutrir a sensualidade, de ter uma atividade sexual voltada precipuamente para o prazer, aí a circunstância muda de silhueta. Neste caso, estará sendo contrariada a Lei Natural e a implicação será a obrigatória retificação numa reencarnação subsequente, de forma bastante dolorosa.

Existindo motivo genuinamente justo, podemos limitar nossa prole, principalmente se já possuímos filhos e não desejamos ter outros. Percebemos nessa suposição corretamente admissível que podemos evitar a concepção. Se alguém escolhe fazer vasectomia ou laqueadura de trompas apenas como forma preventiva de se livrar de filhos e se despreocupar para ter uma vida sexual intensa e inconsequente, a conotação e a implicação serão uma. Se, ao contrário, em razão de uma patologia grave pela qual seria arriscado gerar filhos sob pena de vir a mãe desencarnar, a consequência será outra. A rigor, o que vai definir se haverá ou não transgressão às Leis Naturais será a intenção que motivou a decisão de fazer a cirurgia.

Chico Xavier, que não era avesso aos anticoncepcionais, disse: “acreditamos que o anticoncepcional é um recurso que nos foi concedido na Terra pela Divina Providência para que a delinquência do aborto seja sustada, uma vez que a criatura humana, por necessidade de revitalização de suas próprias forças orgânicas, naturalmente precisará do relacionamento sexual entre os parceiros que estão compromissados no assunto, mas usarão esse agente anticoncepcional para que o crime do aborto seja devidamente evitado em qualquer parte do mundo”. (3) O “Mineiro do Século” afirmou que “os anticoncepcionais não estarão invadindo a Terra sem finalidade justa. Pessoalmente, acreditamos que o casal tem direito de pedir a Deus inspiração para que não venha a cair em compromissos nos quais eles, os cônjuges, permaneçam frustrados”. (4)

Sabemos que  há métodos e métodos contraceptivos. Sobre a vasectomia ou a laqueadura de trompas, cremos que a atual tecnologia detém outras maneiras menos traumáticas para se evitar a procriação, que não precisam de procedimentos invasivos (cirúrgicos) nem ocasionam qualquer lesão física. Tais métodos de contracepção, por serem menos hostis, podem ser utilizados. Os procedimentos cirúrgicos precisam ser repensados, adiados e/ou impedidos por serem medidas extremas, definitivas e com altos índices de irreversibilidade.

A orientação espírita permite-nos contemplar a gestação como uma série de episódios que extrapolam em muito os aspectos físicos. Dessa forma, a eleição de métodos contraceptivos abarca encargos morais superiores aos que possamos imaginar. E nada mais prudente do que a informação para nos auxiliar em nossas deliberações. A possibilidade de recorrer a métodos eficazes para planejar adequadamente o nascimento dos filhos é umas das melhores contribuições da ciência. Por essa razão, os métodos contraceptivos precisam ter a restrição e a recomendação apropriada pela medicina terrena a fim de se evitar a esterilidade irreversível.

Em razão da prorrogação definitiva de uma reencarnação pré-agendada, ocorrerá sim acicates conscienciais, ferindo o perispírito. É importante considerar o grau de consciência do ato deliberado e da sua intenção, pois esses são vetores importantes que podem amenizar ou ampliar patologias emocionais, neuroses, psicoses, infertilidade, doenças sexuais diversas, compressão mental através de perseguição espiritual produzida pelos “filhos” rejeitados de “lá”. 

Por esses motivos, pode-se recorrer a diversos outros métodos menos traumáticos ao corpo psicossomático. Cremos que o ideal é o emprego de métodos anticoncepcionais capazes de apenas impedir a fecundação. Ou seja, controle feito através de métodos naturais como a tabelinha, a ovulação, o muco cervical, cópula descontínua e a temperatura, ou métodos artificiais como preservativo de látex, espermicida, diafragma, pílula anticoncepcional. Somos impetuosamente contrários ao uso da pílula do dia seguinte e fazemos ressalvas ao DIU, pois  na área da medicina muitos ginecologistas têm debatido se ele é ou não abortivo. Obviamente se não é abortivo, é um método válido para contracepção. A vida inicia na concepção, se o DIU age após a fecundação, visando interromper o processo da gravidez, é absolutamente  contrário aos preceitos espíritas.

Em suma, sobre o assunto, cada caso é um caso. Todavia, desaconselhamos a utilização rotineira e indiscriminada de medidas contraceptivas, exceto que haja um pretexto lícito e doutrinariamente aceitável, lembrando, nesse contexto, que os ditames da Lei de Deus encontram-se no âmago da consciência de cada um.

Referências

(1) Xavier, Francisco Cândido. Vida e Sexo, ditado pelo Espírito Emmanuel, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 1999, cap. 17.

(2) Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 2000, questão 267.

(3) Disponível  no portal http://www.editoraideal.com.br, acessado em 05/02/2012.

(4) Chico Xavier em Goiânia, págs. 49, 64, 65 e 66.

O consolador – Ano 5 – N 255

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