fbpx

Mistérios ocultos

Autor: Cláudio Bueno da Silva

O que leva o incrédulo a não aceitar as verdades espirituais? O que o faz manter-se impermeável a certas doutrinas espiritualistas? De onde vem a dificuldade para aceitar a doutrina espírita, por exemplo, já que os princípios universais que esta declara existem desde sempre; não foram conjecturados para formar mais uma filosofia, dentre tantas, mas consolidar ideias e práticas aceitas milenarmente em muitos lugares e por várias civilizações.

Uma pessoa do meu convívio, que não chega a ser ateia, mas reluta sistematicamente em concordar com os argumentos espíritas, me disse que entende Deus como uma grande incógnita, um profundo mistério, acima das nossas pobres cogitações humanas, por isso não cuida Dele.

Com esse viés de incredulidade, ela se recusa a aceitar explicações que não sejam obtidas pela metodologia da ciência acadêmica que, como não é difícil compreender, é inadequada para aferir resultados de causa espiritual.

Em casos como este é inútil se pensar no argumento de Tomé: “É preciso ver para crer”, pois “ver”, para a maioria dos incrédulos, não muda suas concepções. Também não é possível se dizer o que Deus deve fazer para superar a sua incredulidade, pois Deus não se submete a quaisquer exigências ou imposições. Apenas “ouve com bondade os que o procuram humildemente, e não os que se julgam mais do que Ele”.

A compreensão das questões transcendentais que envolvem o problema de Deus, do ser e das leis divinas, parece não depender só da inteligência, pois muitas pessoas preparadas intelectualmente costumam rejeitar as respostas obtidas com a ajuda do conhecimento espiritual.

Allan Kardec afirma que essa compreensão é bastante facilitada e mais completa com o desenvolvimento do senso moral no indivíduo (1), o que lhe permite entender, sem esforço, a preponderância do elemento espiritual e suas leis específicas sobre o elemento material, que lhe é subalterno e coadjuvante.

Sobre a questão de muitas pessoas terem dificuldade em aceitar as verdades espirituais, assimiladas tão naturalmente por tantas outras, há n’O Evangelho segundo o Espiritismo um comentário de Kardec esclarecendo um texto do evangelista Mateus (XI: 25): Mistérios ocultos aos sábios e prudentes.

Nele, o codificador afirma que Deus jamais oculta a luz da verdade a nenhuma criatura, ao contrário, a espalha prodigamente por toda a face da Terra. Explica que a inteligência no mundo, quase sempre, está associada ao orgulho e à vaidade que, normalmente, levam o homem a supor-se autossuficiente, satisfeito em buscar os segredos da Terra, que para ele bastam, pondo assim, uma venda nos próprios olhos.

Enquanto os vícios morais impedem o orgulhoso de “ver”, o simples e humilde pode, com as virtudes conquistadas, desvendar os segredos do Céu.

Portanto, são dois sentimentos antagônicos — orgulho e humildade — que situam os seres em níveis diferentes de compreensão, e que os colocam mais ou menos próximos do ideal de verdade, proposto por Jesus de Nazaré e ratificado pelo Espiritismo.

Os que já detêm a sabedoria do Céu continuarão se aprimorando, com a amplitude de vistas que esse conhecimento lhes faculta. Os que se contentam com as razões do mundo precisarão amadurecer para compreender, e preparar o coração para sentir.

Deus, que não quer abrir os seus olhos à força, os aguardará, enquanto lutam contra o próprio orgulho, até que passem a reconhecer Nele a mão que os governa. 

Referências

(1) Allan Kardec, O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo XVII, Os bons espíritas.

O consolador – Ano 6 – N 268

spot_img