Constantemente ouvimos no movimento espírita a assertiva “Mocidade não tem idade” e, não raras vezes, observamos que não são os jovens que dizem isso. Na maioria dos casos são os “jovens há mais tempo”, ou os “jovens-adultos” que dizem isso buscando de alguma forma afirmar para si, e para os outros, sua condição de jovem. Interessante é observar que os jovens realmente jovens, não precisam se afirmar como tal, pois são jovens, todos o sabem e o reconhecem.
A questão da idade é um dos assuntos muito questionados quando se pensa em estruturar um grupo de Mocidade no Centro Espírita. Com que idade pode começar a fazer parte? Até que idade vai? Alguns Centros Espíritas têm isso bem claro em seus Regimentos, outros fazem disso uma questão de pouca importância.
No Brasil, desde a publicação do chamado Estatuto da Juventude (LEI Nº 12.852, de 5 de agosto de 2013), temos uma diretriz para fundamentar nosso pensar pois a Lei, em vigor desde 2 de fevereiro de 2014, diz que “são consideradas jovens as pessoas com idade entre 15 (quinze) e 29 (vinte e nove) anos de idade” (Art. 1 § 1).
Enganam-se aqueles que pensam que nosso objetivo é expulsar ou fechar as portas para aqueles que não se enquadram nessa faixa etária. Pelo contrário, queremos garantir aos jovens o seu espaço.
Se perguntarmos qual o espaço ideal para as atividades mediúnicas na Casa Espírita, a maioria responderá os grupos de estudo e prática da mediunidade. Se perguntarmos qual o espaço ideal para as atividades de assistência social, a resposta será a área de assistência e promoção social espírita. E assim podemos ir perguntando até esgotarem-se todas as atividades desenvolvidas pela instituição espírita, e a resposta será sempre um grupo que desenvolve aquela atividade com a devida habilidade. E aí perguntamos: Porque com a juventude tem que ser diferente?
A Mocidade Espírita é o espaço que o jovem tem dentro do Centro Espírita para ser jovem. Nas outras atividades que ele participa, nem sempre lhe oferecem espaço para suas dúvidas ou mesmo para seu comportamento espontâneo e cheio de energia.
Temos conhecimento e acompanhado muitas Mocidades que têm pessoas mais velhas participando e/ou coordenando as atividades, com grande prejuízo a participação dos jovens e o desenvolvimento de seus potenciais de liderança e autonomia, pois sempre tem alguém mais velho para resolver os problemas.
Sabemos o quão agradável, acolhedor e alegre é o ambiente da Mocidade, e deve ser por isso que algumas pessoas não querem deixar de fazer parte desse grupo, buscando de toda maneira permanecer, sem que perceba que sua “Síndrome de Peter Pan*” pode estar mais atrapalhando do que auxiliando. E por isso esclarecemos aqui que além da Mocidade, outras atividades no Centro Espírita necessitam da experiência adquirida na Mocidade, sem que com isso percamos a espontaneidade, a alegria e a jovialidade na execução das tarefas.
Outra situação que observamos é de pessoas com certa dificuldade de relacionamento e/ou aprendizado que encontram na Mocidade a acolhida verdadeira. Esses e outros casos servem para relativizar a questão e nos impedir de ser taxativos nesse ponto. Mais uma vez afirmamos que não é nossa intenção impedir ninguém de participar dos grupos de Mocidade, e sim de garantir o espaço da Mocidade aos jovens.
O mesmo processo se observa na difícil transição entre a Infância e a Mocidade. A alternativa de muitos Centros Espíritas, nesse caso, foi a criação da chamada Pré-Mocidade que reúne os que têm entre 12 e 14 anos.
Importante destacar que se o jovem se sentir deslocado em seu ambiente natural, buscará outros ambientes, até mesmo fora do Centro Espírita, afim de que possa se juntar com os de sua idade. É claro que queremos que os jovens, em especial os espíritas, encontrem nos Centros Espíritas um espaço para confraternizar, estudar e viver plenamente sua juventude.
Isso tudo dissemos referente aos grupos de Mocidade vinculados aos Centros Espíritas, porém quando pensamos nos Departamentos de Mocidades das USEs Locais, Regionais ou mesmo na coordenação estadual, mais importante do que a idade da pessoa é o compromisso dela com os trabalhos de Juventude na instituição espírita. Já é requisito regimental ser membro de uma Mocidade Espírita para ser diretor de um DM/USE, por isso é que é comum termos jovens como diretores e trabalhadores no Movimento Espírita.
Aos dirigentes espíritas e coordenadores de Mocidade com mais idade, sugerimos que pensem em compartilhar a direção das Mocidades Espíritas com os mais jovens, para que esses possam já ir se habituando às responsabilidades. Oportunidade e orientação para garantir que o espaço da Mocidade seja realmente de jovem para jovem, sem prejuízo aos objetivos das atividades a serem desenvolvidas. Afinal de contas, a pouca idade é um “problema” que o tempo resolve.
Nota
*A Síndrome de Peter Pan foi aceita em psicologia desde a publicação de um livro escrito em 1983 “The Peter Pan
Syndrome: Men Who Have Never Grown Up” ou “síndrome do homem que nunca cresce”, escrito pelo Dr. Dan Kiley.
Segundo Kiley, o indivíduo tende a apresentar rasgos de irresponsabilidade, rebeldia, cólera, narcisismo, dependência e negação ao envelhecimento. (Grifo nosso. Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre. Acessado em 24/03/14).
Dica
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