Autor: Marcus de Mario
Segundo o sociólogo polonês Zigmunt Bauman (1915-2017), a sociedade pós-moderna, ou seja, aquela do após a segunda guerra mundial, herdeira do movimento modernista da primeira metade do século vinte, caracteriza-se por ter uma cultura fluida, em constante movimento, em constante transformação, muito ágil, como um líquido a escorrer. Ele denominou esse fenômeno de “modernidade líquida”.
A comunicação de massa instantânea, a globalização das relações de todos os níveis, entre outros fatores, contribuem vigorosamente para esse caldo cultural que caracteriza a sociedade atual, onde os valores são frequentemente revisitados, modismos são lançados e depois substituídos, e onde a vida humana parece, na verdade, ser muito frágil, vivendo à mercê da explosão cultural do momento.
Tudo isso leva muitas pessoas a um vazio existencial, ou, pelo contrário, a viverem no limite de suas energias, numa superexposição do corpo e da sexualidade, numa visão bastante restrita do existir. Tudo se torna fluido, líquido; vive-se o momento atual, o prazer que se pode obter de imediato, sem que se considerem consequências futuras.
E o que a educação tem a ver com essa modernidade líquida?
A resposta depende do que entendemos ser a educação, hoje muito confundida com a transmissão de conhecimentos, com a formação técnico-profissional. Depende também de como consideramos o papel da família e da escola na educação das novas gerações. E não apenas do papel individual de cada uma, mas igualmente sua interação social como pertencentes ao coletivo humano e que, portanto, não podem ser ilhas isoladas.
E será que uma das causas, senão a mais importante, para termos uma modernidade líquida, não é justamente o descaso em que temos colocado a educação? Através do ensino temos formado sociólogos, economistas, filósofos, antropólogos, psicólogos, historiadores, pesquisadores nas mais diversas áreas da ciência, e tanto mais, entretanto, é fato que essa formação nem sempre é acompanhada pela ética, pela solidariedade e por uma visão mais humanizada da vida.
Olhando para as crianças e jovens atuais, temos que fazer uma pergunta essencial: onde está o aprendizado da regra de ouro da educação, do seu pilar importantíssimo, que é aprender a fazer ao outro somente o que queremos que o outro nos faça?
Aqui entramos na educação como processo não apenas de desenvolvimento intelectual, cognitivo, mas de desenvolvimento das virtudes ou valores; a educação que combate as más tendências de caráter e humaniza o ser humano. Estamos falando da educação trabalhada em bases éticas e de respeito aos direitos de cada um e à autonomia do indivíduo, levando-o a entender que a liberdade é acompanhada da responsabilidade, que o direito é acompanhado do dever. A educação que preserva o indivíduo, mas faz com que ele pense no coletivo, afinal ele não vive sozinho, ele é um ser de relação, e o que ele faz na sociedade volta para ele mesmo como consequência.
Se a educação atual está mais preocupada com a língua portuguesa e a matemática, com o diploma a ser apresentado, com a capacidade técnica para trabalhar, não é de se espantar que as gerações estejam se sucedendo e interagindo mantendo a violência e a corrupção como características da sociedade humana.
A educação, mesmo através de uma nova visão sobre a mesma e sobre a vida, pode não ser remédio infalível para todos os desvios humanos, mas temos certeza de que as soluções para estabilizarmos essa modernidade fluida, líquida, passam pela educação que estamos promovendo.