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Momentos de nossa existência

Autor: Thiago Rosa – Fala MEU! Edição 54, ano 2007

“… Se lembra quando a gente chegou um dia acreditar, que tudo era pra sempre, sem saber, que o pra sempre, sempre acaba…”

Quem é que tem medo da morte?

Parece até uma pergunta estranha ao fazermos a um bando de jovens espíritas assíduos em suas mocidades, ou à diferentes pessoas que já estudaram e continuam no estudo das obras básicas, palestras e cursos referente ao espiritismo. Afinal, morte não existe. Você sabe disso, eu sei e quase todo mundo tem um pouco desta certeza.

Mas quando faço esta pergunta, não me refiro ao pós-morte. E ficaria muito surpreso se no meio de um monte de respostas, ninguém falasse “eu tenho medo”. Não seria muita hipocrisia, ou eu que estou viajando nas ideias?

O assunto não é a morte, mas a vida.

Pense num momento marcante de sua vida, que te traga sensação de felicidade, alegria. Seja lá que momento for. Quantos momentos em sua existência foram tão importantes assim? Qual o valor que se dá a situações como esta? Qual o valor que você dá a sua vida hoje?

Dar valor a vida não é só o fato de você preservá-la em uma redoma e tentar ter os melhores hábitos de saúde. Isso é claro que é importantíssimo. Mas será que só isso basta?

Existe uma expressão hoje que passou a ser conhecida por muitas pessoas: “Carpe Diem”. Expressão vista na literatura através do poeta latino renascentista Horácio, em Odes, tinha o sentido de usufruir as coisas concretas como no trecho: “Enquanto falamos, foge o tempo inimigo / aproveita o dia sem acreditar o mínimo no amanhã.”.

Ultimamente este termo tem sido usado vulgarmente por muitas pessoas. No filme “Sociedade dos Poetas Mortos”, de 1989, com Robin Willians, além de ficar mais popular, ficou muito mais fácil decifrar este termo e introduzi-lo na nossa realidade. Carpe Diem virou bonito, palavra de ordem referente a preocupação das pessoas em realmente aproveitar o seu dia, gozar a vida no que ela propõe de melhor, como se cada minuto fosse o último. No período moderno em que vivemos, até perfume leva este nome. A questão do bem estar virou marketing, propaganda e todo mundo já olha no relógio e vê o quanto o dia passa tão depressa.

Lembremos que o tempo não existe. Ele apenas serve para criar um controle na sua vida, da mesma forma que você separa o seus dias numa agenda. É uma combinação de códigos que faz você saber o quanto você vive, fica velho ou o que você realmente faz do seu dia. Olhe no relógio e veja o quanto você já fez hoje. O quanto você fez ontem. Semana passada. Mês passado. Ano passado. Toda a sua existência. Será que todos os dias você vive intensamente? Na procura do bem estar íntimo, pessoal e dos outros? O que você faz para o seu dia ser mais produtivo? Para conquistar momentos de felicidade? Leva em consideração o aprendizado das tristezas?

A frase que abre o texto, tirada da canção de Renato Russo e muito bem interpretada pela voz de Cássia Eller, encaixa muito bem em nossa reflexão. Afinal, não se esqueça que o “pra sempre”, “sempre acaba”. Então, que tal aproveitar o seu momento atual de forma oportuna e produtiva!?

Você já ouviu uma bela canção? Já? Tem certeza? Já ouviu mesmo? Já parou diante do aparelho sonoro, colocou uma música que lhe agrada e ficou a escutar a perfeição de sua sonoridade envolver o ambiente, criar sensações em seu corpo, em sua mente?

Ou mesmo, ler uma boa história!? Quando que você para com um livro entre os dedos e debruça seu olhar encantado nas linhas retas que descem até o fim de cada página? Prestou atenção aos detalhes das coisas? Já olhou realmente para o contorno de sua casa, do seu quarto, da poeira que se espreita debaixo da porta, do quadro na parede que entorta, dos riscos no chão de anos pisados dia após dia? Já olhou bem para o seu rosto no espelho, as expressões marcadas pela idade, o detalhe dos lábios e a profundidade dos olhos, o fio do cabelo que escorre pela testa? Observou mais a natureza? O debruçar das trepadeiras nos muros, o desabrochar exuberante da flor cheirosa, o movimento dos insetos que colorem a mãe natureza, a água que escorre como rios criados por sinuosos degraus no chão, a luz do sol que irradia pela manhã e a chuva densa que escorre por vidraças e janelas diferentes?

São tantos detalhes que passam despercebidos na correria dos pensamentos, do serviço diário e dos compromissos que nos tomam por completo. Quando vemos, o ano que tão cedo começou já começa a desfalecer entre os últimos meses da primavera e, de tantas primaveras, as marcas do corpo lhe remetem a um futuro tão mais que presente, onde a vida passa.

Não é uma tragédia. Faz parte da lei da natureza, Divina. Mas, a rapidez com que tudo passa, o que fez você para aproveitar de bom estes momentos? São só momentos? E a saudade que fica? Se a morte faz parte da prova de nossa existência, não podemos deixar que ela seja o marco do encerramento de uma vida que passa em vão. Aproveitar o dia é fazer de cada minuto que roda em seu relógio uma oportunidade de crescimento e evolução. Uma oportunidade de conhecimento, aproveitamento dos fatos e abrir o coração para novas oportunidades e pessoas. Conhecermos uns aos outros, praticarmos o que aprendemos em busca do bem íntimo e do bem daquilo que está ao nosso redor.

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