Autor: Marcus de Mario
Você sabe qual é a visão que outras religiões possuem sobre o fenômeno morte? Será que existem semelhanças com a visão espírita? E o que pensa o Espiritismo sobre a morte? Esses são os assuntos que vamos tratar neste texto.
O Catolicismo e a Morte
A recompensa máxima esperada pelo fiel católico é a salvação de sua alma, que após a morte adentrará o Paraíso e lá gozará de descanso eterno, junto de Deus Pai, dos santos e de Jesus Cristo.
No caso de um cristão morrer com algumas “contas em aberto” com o plano celestial, ele terá de fazer acertos – que talvez incluam uma passagem pelo Purgatório, espécie de reino intermediário onde a alma será submetida a uma série de suplícios e penitências, a fim de se purificar. A intensidade dos castigos e o período de permanência nesse estágio vão depender do tipo de vida que a pessoa levou na Terra. Mas o grande castigo mesmo é a condenação da alma à perdição eterna, que acontece no Inferno. É para lá que, de acordo com os preceitos católicos, são conduzidos os pecadores renitentes. Um suplício e tanto, que jamais se acaba e inclui o convívio com Satanás, o senhor das trevas e a personificação de todo o Mal.
O Judaísmo e a Morte
O entendimento dos conceitos de corpo, alma e espírito no Judaísmo varia conforme as épocas e as diversas seitas judaicas. O conjunto dos livros sagrados (Tanach) não faz uma distinção teológica destes, usando o termo que geralmente é traduzido como alma (néfesh) para se referir à vida, e o termo geralmente traduzido como espírito (ruakh) para se referir a fôlego. Deste modo, as interpretações dos diversos grupos são muitas vezes conflitantes, e muitos estudiosos preferem não discorrer sobre o tema.
O conjunto dos livros sagrados (Tanach), excetuando alguns pontos poéticos e controversos, jamais faz referência a uma vida além da morte, nem a um céu ou inferno, pelo que os saduceus posteriormente rejeitavam estas doutrinas. Porém, após o exílio em Babilônia, os judeus assimilaram as doutrinas da imortalidade da alma, da ressurreição e do juízo final, e as constituíram em importante ensino por parte dos fariseus.
Nas atuais correntes do Judaísmo, as afirmações sobre o que acontece após a morte são postulados e não afirmações, e varia-se a interpretação dada ao que ocorre na morte e se existe ou não ressurreição. A maioria das correntes crê em uma ressurreição no mundo vindouro, enquanto outra parcela do Judaísmo crê na reencarnação, e o sentido do que seja ressurreição ou reencarnação varia de acordo com a ramificação.
O Hinduísmo e a Morte
O Hinduísmo é uma das religiões mais antigas do mundo, engloba as mais antigas crenças religiosas. A visão hindu de vida após a morte é a ideia de reencarnação. A ideia de que a vida na Terra é parte de um ciclo eterno de nascimentos, mortes e renascimentos compõe o capítulo dessa religião. Toda pessoa reencarna cada vez que morre. Contudo, se levar uma vida voltada para o bem, à risca, ela pode libertar-se dessa cadeia cíclica. Diferentemente de outras religiões, o Hinduísmo não tem fundador, credo fixo, nem organização de espécie alguma. Para todos os hindus a suprema autoridade são os quatro Vedas: Rig-Veda, Sama-Veda, Yojur-Veda e Atharva-Veda.
O nascimento e a morte seriam uma mudança de cenário para a alma. A alma nunca se modifica, é a essência intacta do ser. Apenas a roupa que ela está usando (o escafandro) é quem morre e, depois da morte, ela recebe um novo corpo para habitar na existência material. Quando a alma, após muitos nascimentos dentro desta existência material, entra em contato com um santo verdadeiro (Sad-Guru), ela pode desenvolver a fé no caminho da autorrealização e começar seu retorno ao mundo transcendental de Deus. Lá, a alma poderá viver em plena eternidade. Chama-se de Vaikuntha esse plano. As crenças e cultos de antigas populações do vale do rio Indo e dos Arianos formaram as bases do Hinduísmo.
O Islamismo e a Morte
Antes de Maomé iniciar sua pregação, os povos Árabes (e nisto estão englobados não só os povos da península Arábica, mas também os Sírios e os Mesopotâmicos), estavam entregues a diversas religiões. Uma característica comum a boa parte, senão a todos desses cultos, era o politeísmo. Acompanhava essa tendência politeísta um fenômeno de intenso “profetismo”, ou seja, a cada dia surgiam mais e mais profetas que pregavam alguma nova doutrina, ou mesmo a vinda de um messias. É curioso notar que em boa parte desses cultos havia uma divindade comum que, em muitas ocasiões, se sobrepunha às demais. Essa divindade era Allah. Sendo assim, é perfeitamente explicável que Maomé, por influências judaico-cristãs, tenha aceitado o monoteísmo e, assim sendo, associou como figura divina o nome do principal deus que conhecia, ou seja, Allah. Dessa forma, Allah não era para Maomé apenas mais um deus, mas sim o Deus.
Entre alguns costumes banidos pelo Islã está o de chorar, lamentar e demonstrar pesar excessivo pelos mortos. Os ensinamentos do Islamismo sobre a morte é de que ela não é a aniquilação do indivíduo, que o elimina da existência, e sim uma passagem de uma vida para outra, e, por mais que se possa lamentar, nada trará os mortos de volta à vida ou modificará o decreto de Deus. Aquele que crê deve receber a morte do mesmo modo como recebe qualquer outra calamidade que possa atingi-lo, com paciência e dignidade, repetindo o versículo alcorânico: “Somos de Deus e a Ele retornaremos”.
O Protestantismo e a Morte
No século 16, um padre alemão chamado Martinho Lutero iniciou um movimento de reforma religiosa que culminaria num cisma, ou seja, numa divisão no seio da Igreja Católica. Foi assim que surgiram outras igrejas, igualmente cristãs, mas não ligadas ao Papado.
Lutero e os outros reformistas desejavam que a Igreja Cristã voltasse ao que eles chamavam de “pureza primitiva”. A mediação da Igreja e dos Santos deixaria de existir, prevalecendo então a ligação direta entre Deus e a Humanidade. É por isso que, nas igrejas protestantes, não vemos imagens de santos nem temos o culto a Virgem Maria, mãe de Jesus.
Os protestantes creem que a Bíblia é a única fonte da revelação especial de Deus à Humanidade, e, como tal, ela ensina a nós tudo o que é necessário para nossa salvação do pecado.
Os protestantes creem que, baseados na fé apenas em Cristo, os crentes são justificados por Deus, quando todos os seus pecados são pagos por Cristo na cruz e Sua justiça é a eles imputada. Os protestantes creem que por sermos justificados por Cristo apenas, e que a justiça de Cristo é a nós imputada, quando morremos iremos direto para o céu para estarmos na presença do Senhor.
O Budismo e a Morte
No Budismo, a palavra “morte” significa “o que vai nascer”. Porque o que morre no mundo material, na verdade está nascendo no mundo espiritual. Depois de passar para o mundo espiritual, onde vive durante um período que pode variar de alguns anos a dezenas, centenas ou mesmo milhares de anos, o ser humano renasce no mundo físico. Durante o curso de sua vida terrena, ou à medida que vai executando as suas tarefas, o homem acumula – de modo consciente ou inconsciente – impurezas e máculas em seu corpo espiritual. Quando as doenças ou a velhice deterioraram o seu corpo físico, impedindo-o de cumprir as suas tarefas, ele abandona o corpo e volta para o mundo espiritual.
Quando a alma ingressa no mundo espiritual, começa, geralmente, a ser purificada de suas máculas. Dependendo da quantidade de suas nuvens, ela viverá num plano mais alto ou mais baixo do mundo espiritual. A quantidade de máculas também irá determinar se o período de purificação será longo ou curto. Esse período pode variar de alguns poucos anos a centenas e milhares de anos. E quando o Espírito está purificado até um certo grau, renasce por ordem de Deus.
O Espiritismo e a Morte
A visão espírita é semelhante, em muitos pontos, à visão budista, mas possui diferenças marcantes que a distinguem desse pensamento de origem oriental. Primeiro, o Espiritismo considera que a morte não é o fim da vida, mas apenas do corpo físico, que, na verdade, passa pelo processo de desagregação molecular, retornando seus elementos à natureza. Assim, todo ser humano é uma alma, e quando desencarna, passa a ser chamado de Espírito.
O Espírito continua a viver, mantendo sua identidade através do perispírito (corpo espiritual), e também sua personalidade, pois deve assumir as consequências do bem e do mal que praticou quando na Terra. Os Espíritos vivem no mundo (ou dimensão) espiritual, onde prosseguem seus aprendizados, vinculam-se ao desenvolvimento de diversos serviços, aguardando o momento oportuno para reencarnar. O tempo de permanência no mundo espiritual é muito variável, pois depende das necessidades do Espírito.
O mundo espiritual é dinâmico, com colônias (ou cidades), postos avançados de socorro e muito mais, do qual podemos fazer uma ideia olhando a própria organização social humana, que é cópia imperfeita da realidade espiritual.
Tudo isso é regido pela lei de evolução, conforme desígnio de Deus, e o Espírito poderá ter aqui na Terra tantas reencarnações quanto o necessário, até que esteja intelectualmente e moralmente preparado para reencarnar num mundo mais adiantado. Quando chegar ao estado de perfeição, ou puro Espírito, ele não precisará mais reencarnar, e estará em ligação direta com o Criador, trabalhando pelo bem e o progresso dos seus irmãos, assim como codirigindo a vida universal.
Ainda o Espiritismo estabelece que as dimensões espiritual e material interagem, se interpenetram, e após a morte o Espírito pode estabelecer comunicação com os chamados vivos, ou seja, com aqueles que continuam encarnados, isso através da chamada mediunidade, da qual muitas pessoas são dotadas em maior ou menor grau.
Conclusão
O pensamento espírita sobre a morte difere muito do pensamento das doutrinas do Catolicismo, do Judaísmo, do Hinduísmo, do Islamismo e do Protestantismo. É mais racional e lógico. E difere do pensamento do Budismo, por não ser, o pensamento espírita, místico.
Recomendamos aos nossos leitores o estudo de duas obras espíritas de máxima importância sobre o assunto: “O Livro dos Espíritos” e “O Céu e o Inferno”, ambas de Allan Kardec, que aprofundam o tema e descortinam uma nova visão sobre a vida e a morte.
O consolador – Especial