Autor: Silas Lourenço
O título provocativo não tem por finalidade criar polêmica, mas sim nos levar a pensar sobre um dos temas mais relevantes da Doutrina Espírita; portanto para desenvolvê-lo respondo logo. O que morre é o corpo e quem desencarna é o espírito.
O termo desencarnação compõe o vocabulário espírita, próprio da ciência espírita; ao abandonarmos os termos próprios criados pelo mestre Allan Kardec, ou cunhados pelos próprios espíritos auxiliares da codificação, expurgaremos da Doutrina uma de suas faces mais importantes que é a cientifica.
Embora os dogmáticos “cientistas” atuais não aceitem, porque para considerarem ciência admitem somente aquilo que a própria ciência reconheça como científico, apesar deles, o Espiritismo é uma ciência de observação, com objeto, método e vocabulário próprios.
Superado este detalhe importantíssimo passamos a analisar o tema naquilo que expressa de mais preocupante para todos nós: a morte.
O corpo vai morrer, o de todos, todos indistintamente. O fenômeno é tão importante na vida do espírito que nem o ser mais perfeito, nem aquele que serve de guia e modelo, a ele se furtou. O corpo de Jesus morreu também, e o seu espírito desencarnou, para retornar ao seu Reino cheio de esplendor e glória.
Deus ao criar a vida humana, como a criou, dotou-nos de mecanismos apropriados que nos dificultassem a deserção. Temos instintos, dentre eles o de preservação da vida; em situação de perigo o corpo reage de forma que nos faz defender a vida com uma tenacidade por vezes surpreendente. E algumas pessoas desenvolvem, ainda por causa ignorada, um temor excessivo da morte do corpo, o que torna o assunto sempre atual e necessário.
Falávamos da vida, sua preservação, mas o que é a vida?
A ciência humana ainda não decifrou seu início e ainda luta para entender sua natureza. O Mestre de Lyon estabelece que a vida nos vem do fluido vital, à época dele e ainda hoje desconhecido, que hoje chamaríamos de éter ou plasma, que é derivado de um outro plasma ainda desconhecido da ciência humana, o fluido universal. É uma certa energia que nos distingue das coisas inanimadas. Assim, nos três famosos reinos da natureza, teríamos os minerais desprovidos dessa energia, enquanto os vegetais e os animais estariam por assim dizer impregnados dela.
Essa energia varia de espécie para espécie e na quantidade ou volume entre os indivíduos de uma mesma espécie. Assim poderemos ver pessoas com uma energia de vida superabundante e outras que dispõem apenas do suficiente para viver. O que torna mais interessante, e que a experiência demonstrou, é que ela pode ser transferida entre pessoas.
A vida termina com a falência dos órgãos, quer seja natural ou provocada. Na falência natural, por doença ou por desgaste, o fluido vital, que é limitado, se esgota e o corpo morre. Igualmente, na interrupção abrupta ou violenta, o corpo deixa de funcionar e morre.
Uma vez morto o corpo físico, a matéria se submente à Lei de Lavoisier: “na natureza, nada se cria, nada se perde; tudo se transforma”. A energia que ainda restar do fenômeno vida retornará à fonte, ou ao lugar de onde veio. O Espírito se verá livre das amarras ou laços que o mantinham preso à matéria e assumirá sua verdadeira e eterna vida.
Do ponto de vista do Espírito, Allan Kardec pôde apurar que após seu desencarne todos os espíritos passam por uma espécie de perturbação, ou um aturdimento, como se acordássemos em um lugar diverso daquele no qual fomos dormir. Essa perturbação pode demorar mais ou menos, a depender principalmente do desapego dos bens e prazeres materiais, mas também do conhecimento do fenômeno morte. Após esse fenômeno, que pode variar, segundo a aferição de tempo dos encarnados, de apenas alguns instantes até semanas e meses, o espírito assume o lugar no mundo dos espíritos conforme seja seu grau de evolução. O sofrimento ou a bem-aventurança dependerá unicamente de seu mérito. Sendo a escalada evolutiva ascendente, contínua e infinita rumo ao Pai Celestial, todo e qualquer sofrimento experimentado pelo espírito após a morte será temporário e não eterno.
O Espírito desencarnado receberá nossas preces, e aí bem entendido, a prece no seu sentido cristão e espírita, aquela que vem do coração; um pensamento, alegre que seja, recairá sobre o espírito desencarnado como um bálsamo, um consolo, um agradável eflúvio. Por nós mesmos, nosso comportamento será decisivo. Caso nossa fé seja forte, aquela fé espírita que deriva de um raciocínio lógico e humilde, a fé naquilo que a nossa razão não refuta, que aceita o desconhecido e confia no Criador de tudo, enfrentaremos algo que o descrente e o ateu têm como perda definitiva, como apenas uma separação temporária.
Assim sendo, para concluir, podemos afirmar com toda a segurança que o estudo do Espiritismo nos prepara para a morte, e sobretudo nos ajuda na conquista de uma vida atual mais leve e a antever nosso lugar na vida futura, a depender daquilo que merecermos.
O consolador – Artigos