Autor: Guaraci de Lima Silveira
Eis que etapas a etapas estamos vencendo grandes desafios. Partimos da divindade e a ela retornaremos. O caminho é longo, às vezes pedregoso, às vezes florido. Vezes há em que lágrimas brotam de nossas faces, outras há em que brota o aroma sutil que norteia. Haveremos assim de nos tornarmos heróis de uma batalha em que o vencedor será o amor em nós e por nós. O difícil é crer nesta hipótese e, por isso, nos armamos com as ferramentas disponíveis e capazes de destroçar e destruir, sendo a pior delas a língua ferina que se estica de nós e atinge o que se encontra mais distante, incomodando-o, retirando dele o seu conforto pessoal, psicológico e familiar. É próprio ainda do homem em seus estágios primeiros quando apenas observa as primícias do Reino de Deus em si.
É necessário avançar, surpreender-se, trocar conexões neurais, utilizando-se da neuroplasticidade para alavancar o progresso espiritual. O tempo atual está cheio de informações sábias e contundentes a respeito da vida e sua dinâmica. O tempo do “eu não acredito” já passou. O desacreditar pressupõe proposta nova, diferente e inovadora e não a simples negação sem sentido ou atributos que a sustentem. Eis então que surge a neuroplasticidade também conhecida como plasticidade neuronal, referindo-se à capacidade do sistema nervoso de mudar, adaptar-se e moldar-se a nível estrutural e funcional ao longo do desenvolvimento neuronal e quando sujeito a novas experiências.
Antes a informação era a de que não mudávamos. O que fora estabelecido e arquivado no cérebro se repetiria vida afora. Assim, o pau que nascesse torto morreria torto, segundo a expressão popular. Nada seria capaz de desentortar aquela madeira moldada erroneamente pela natureza. E o indivíduo torto teria que ser aceito ou eliminado, dependendo do tempo e da civilização à qual pertencesse. Regras, leis, dogmas, costumes, usos, cultura… Se ele não se adaptasse era considerado a ovelha negra, o patinho feio, a mula sem cabeça que mais servia para assustar que contribuir. E os assim considerados nenhum esforço faziam para modificações, uma vez que já estavam rotulados e traziam em si, pendurado em seu ser, o guizo da sua marca.
Segundo André Luiz, o cérebro é o ninho da mente
Segundo a ciência, a neuroplasticidade é um processo coordenado, dinâmico e contínuo que promove a remodelação dos mapas neurossinápticos a pequena, média e longa duração, para aperfeiçoar e/ou adaptar a função dos circuitos neuronais. Sabe-se que os circuitos neuronais são formados a partir de nossas escolhas e vivências, necessidades e realizações. Assim sendo, todos nos modelamos segundo nossas perspectivas e arquivos do inconsciente. Há, contudo, atualmente a proposta da remodelação. Diz-nos a neurociência que “… esta remodelação compromete o estado básico da atividade neuronal e promove uma ruptura no balanço da atividade normal do cérebro”. Acontece ao nível da libertação de neurotransmissores que atuam nas mudanças das formações das redes neurais. À guisa de informação colocamos aqui que o neurotransmissor, ou agente químico elaborado por uma célula présináptica, atravessa a sinapse, assegurando a transmissão dos influxos nervosos, levando comunicações para que o cérebro funcione da forma como deseja o Espírito.
Continua a ciência nos informando que esta plasticidade ocorre em variados níveis e inclui numerosos eventos, desde a abertura de certos canais iônicos que promovem despolarização das membranas dos neurônios, formação de potenciais de ação e a remodelação das estruturas sinápticas (nível celular/molecular) até à reorganização dos circuitos neuronais e mapas sinápticos a eles associados (nível de circuitos), criando conexões neuronais mais duradouras. É toda uma maquinaria a serviço da mente, pois, segundo André Luiz, o cérebro é o ninho da mente. Sendo assim a mente que, segundo Emmanuel é “o espelho da vida” estaria subdividida, segundo ainda o autor, a um escritório e suas diversas seções de serviços, em que a vontade é a gerente esclarecida e vigilante, governando os setores da ação mental. Desta forma, quando a vontade está aureolada pela razão após laboriosa e multimilenária viagem do ser pelas províncias obscuras do instinto, pode operar maravilhas nos campos da ação, reação, construção e remodelação.
Pela vontade o Espírito muda o rumo da sua vida
“O cérebro é o dínamo que produz energia mental, segundo a capacidade de reflexão que lhe é própria; no entanto, na vontade temos o controle que a dirige nesse ou naquele rumo, estabelecendo causas que comandam os problemas do destino” – informa Emmanuel no capítulo 2 do livro Pensamento e Vida. A vontade é, segundo ele, “o impacto determinante”. Assim, pela vontade o Espírito muda o rumo da sua vida e nesse quesito ele é soberano. Jesus nos disse: “Seja o vosso falar sim, quando for sim, e não quando for não” Neste momento Ele atestou nossa soberania nas escolhas, contudo orientou-nos no tocante às mesmas escolhas direcionando-as para dois eventos: ou a escolha certa ou a escolha errada. E é o que fazemos continuamente: escolhemos o certo ou o errado e respondemos por isso. Escolher está diretamente ligado às nossas convicções, que se manifestam no cérebro através dos circuitos neuronais. Ora, o Espírito sabedor de si, buscador dos seus avanços, aplica em si lições e experiências renovadas visando seu aprimoramento constante.
Assim, constantemente ele necessita modificar suas conexões neuronais objetivando vislumbrar novas premissas e/ou horizontes. Então há um mecanismo que promove essas mu-danças. A ciência nos indica que é na mudança da força de transmissão sináptica, modelada pelo ritmo a que neurotransmissores são libertados e capturados, que reside a base para o fenômeno de plasticidade. Esta dita as mudanças molecularmente complexas estruturais e funcionais ao nível sináptico que se reflete na dinâmica das redes neuronais. A neuroplasticidade está, portanto, intimamente relacionada com a reestruturação cerebral promovida por mudanças coordenadas, pelo comando do Espírito, nas estruturas sinápticas e proteínas asso-ciadas que levam ao remapeamento dos circuitos neuronais e, por conseguinte, ao processamento de informação e formação de memórias.
Podemos mudar no tempo e na hora que desejarmos
A princípio estes termos parecem de difícil assimilação; nós os preservamos no intuito de promover o pensamento de seriedade que vem sendo estudado pelos neurocientistas. Sabe-se hoje que podemos realizar cerca de sessenta trilhões de sinapses em nossos cérebros. Isto nos capacita a vivermos no mundo de relação, enriquecidos e apropriados de informações que nos conduzam a aprendizados renováveis, possíveis pela plasticidade dessas sinapses. Ou seja, nada é rígido. Podemos mudar no tempo e na hora que desejarmos. O famoso jargão “sou assim, vou viver assim e morrer assim” só vale para aqueles que sinceramente o desejam.
Emmanuel nos lembra no livro Pensamento e Vida, capítulo 4, que “duas asas conduzirão o espírito humano à presença de Deus. Uma chama-se amor; a outra, sabedoria. Pelo amor, que, acima de tudo, é serviço aos semelhantes, a criatura se ilumina e aformoseia por dentro, emitindo, em favor dos outros, o reflexo de suas próprias virtudes; e pala sabedoria, que começa na aquisição do conhecimento, recolhe a influência dos vanguardeiros do progresso, que lhe comunicam os reflexos da própria grandeza, impelindo-as para o Alto”. Vê-se aí a importância de estarmos sempre atentos e prontos às mudanças. Imaginemos que o Alto está cheio de dados ainda não captados pelo Espírito humano e que só o fará se estiver pronto a modificar-se permanentemente.
A neuroplasticidade e a neuromodelação têm um papel importante na alteração do estado de excitabilidade do cérebro e na regulação de estados comportamentais. Continuemos extraindo da ciência suas preciosas informações: “A capaci-dade do cérebro sofrer alterações sinápticas faz com que os circuitos neuronais sejam capazes de se transformarem e é esta característica única que está na base da aprendizagem e da memória. Este é um processo constante e contínuo, visto que está impreterivelmente ligado a uma adaptação ao ambiente circundante e às novas experiências que vão surgindo”.
Nossos corpos físicos podem sofrer alterações não herdadas
Aqui podemos pensar nos estudos do Evangelho e da Doutrina Espírita. À medida que nos vamos apropriando dos conteúdos teóricos, vamos modificando comportamentos e estes alteram nossas sinapses e construções neuronais. Dentro de um determinado tempo o Espírito, atento e vivificante nas mudanças, automatiza seus conteúdos e passa a ser cristão sem rótulo empoderado da verdade cristã, porque apro-priada em si. Muda de categoria conforme nos indicou Allan Kardec n´O Livro dos Espíritos, questão 110.
Agora vejamos que na base do processo de aprendizagem e armazenamento de memória está o processo hebbiano de neuroplasticidade que implica mais persistência por parte do agente modifi-cador, o Espírito. Daí percebemos que a fé e a perseverança devem estar juntas para que nos transformemos seriamente e nos modifiquemos interiormente. Disse-nos Jesus que devemos fazer brilhar nossa luz. Emmanuel nos fala que “a lição de Jesus deve ser aplicada em todas as condições, todos os dias”. Corroborando assim com a ciência que pede persistências para que as redes neuronais se modifiquem e estabeleçam como um novo padrão de comportamento. Então o ato de evangelizar-se passa por princípios teológicos, filosóficos e científicos. Teológico por uma necessidade que a criatura sente, em determinado momento da sua evolução, de ligarse definitivamente ao Criador; daí o esforço de mudança. Filosófico porque necessita adquirir conhecimentos para operar tal mudança em si; e científico como um elemento empírico necessário à consolidação da experiência.
Junto com a neurociência e a neuroplasticidade contamos ainda com as informações da epigenética. O termo “epigenética” tem origem no grego, em que “epi” significa “acima, perto, a seguir”, e estuda as mudanças nas funções dos genes, sem alterar as sequências de bases da molécula de DNA. Em outras palavras significa dizer que nossos corpos físicos podem sofrer alterações não herdadas dos nossos ancestrais.
Viver em glória com o Senhor é ser um em dois
Dessa forma, o Espírito modifica sua estrutura tanto cerebral quanto no organismo como um todo, de acordo com suas opções, comportamentos e decisões. A epigenética é um estudo novo e corrobora com o que Emmanuel já havia dito em 1958 quando do lançamento do livro Pensamento e Vida. Está no capítulo 5: “O corpo humano, devidamente estudado, revelou-se, não mais como matéria coesa, senão espécie de veículo energético, estruturado em partículas infinitesimais que se atraem e se repelem, reciprocamente, com o efeito de microscópicas explosões de luz. Na intimidade desse glorioso império da energia temos os raios mentais condicionando os elementos em que a vida se expressa”.
Explosões de luz, raios mentais, condicionamento de elementos, tudo isso sendo vivido e alterado por opções do gerenciador que é o Espírito. Mudamos nossos cérebros e organismos de acordo com o que desejamos. É sempre bom que nos lembremos das palavras de Jesus quando nos disse que Deus é justo e dá a cada um de acordo com suas obras. Desejando um cérebro confuso, basta permitir-me confuso. Desejando um corpo doente ou deficitário, basta comportar-me como doente e deficitário. “Estejamos, assim, procurando incessantemente o bem, ajudando, aprendendo, servindo, desculpando e amando, porque, nessa atitude, refletiremos os cultivadores da luz, resolvendo, com segurança, nossos problemas de companhia” – diz-nos Emmanuel no capítulo 8 do livro Pensamento e Vida.
De fato, nossas companhias refletem em nós o que são e, por nossa vez, refletimos nelas o que somos, numa permuta permanente de enriquecimentos do mal ou do bem. Dese-jando sinceramente viver na glória do Senhor, necessito buscar sua presença, sua companhia. Isto posso fazer, posso mudar, capacitar-me e ser outro a partir de mim mesmo, uma vez que viver em glória com o Senhor é ser um em dois, como nos disse Jesus: “Eu e o Pai somos um”. (Jo 10:30)
O consolador – Especial