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Não obrigue seu filho a comer

Autora: Eugênia Pickina

Se temos a possibilidade de tornar mais feliz e mais sereno um ser humano, devemos fazê-lo sempre.

Hermann Hesse

Na infância eu tinha uma colega de classe chamada Paola. Ela era filha única e morava em uma casa que tinha um vasto jardim e casinha de madeira povoada de bonecas e panelinhas. Era uma delícia brincar em uma casinha que parecia de verdade: porta, janelas e cortinas de renda branca.

Eu gostava da Paola, mas achava um horror a hora das refeições na casa dela, legítimo cenário de opressão. Sua mãe sempre achava que o que a filha comia era insuficiente e, em razão disso, tinha início a cadência de frases aparentemente inocentes como “se você não comer, a mamãe vai ficar triste” ou “se não comer o pepino, não ganha sobremesa”. Mesmo pequena eu achava aquela prática infeliz, norteada por uma flagrante manipulação emocional. Na minha casa, comíamos se tínhamos fome e nunca por chantagem ou obrigação.

Ainda que a alimentação seja uma das maiores preocupações dos pais durante os primeiros anos de vida de seus filhos, pediatras e nutricionistas alertam que por detrás de pacientes com sobrepeso e obesidade costumam existir histórias de horas intermináveis à mesa, onde ninguém se levantava até o prato estar totalmente vazio. Pois, na realidade, isso provoca desajustes sérios como chegar à idade adulta com problema para parar de comer quando já se está saciado.

Aviõezinhos, teatrinhos, utilização de telas (celular com vídeos e tablets com desenhos animados) e tudo o que obriga uma criança a comer são recursos violentos que desconectam a criança de seu corpo, ensinando a hora da refeição como algo aborrecido ou aversivo.

A criança é a única que sabe quanto deve comer, não o sabemos nós os pais. Apenas a criança sabe e por causa de um mecanismo que funciona há milênios: a fome.

À medida que obrigar uma criança a comer não é ético, não é educativo, o que fazer para a hora da refeição ser um momento agradável? Evitemos TV e telas, evitemos situações conflitivas. Sejamos bons exemplos. As crianças aprendem por imitação, de modo que se comermos no dia a dia alimentos saudáveis no final elas também o farão (e sem uso de suborno ou opressão).

O consolador – Ano 12 – N 596 – Cinco-marias

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