Autor: Rogério Miguez
Quando o final de mais um ano se aproxima, surge muita expectativa sobre o próximo, quando acreditamos tudo será diferente. Começamos a sonhar, idealizando as coisas boas desejadas e não realizadas no período a se findar, entretanto, segundo o nosso entendimento, certamente no próximo ano se tornarão realidade. É de se esperar esta posição, nada a condenar.
Enchemo-nos de esperança, afinal, o que passou, passou, agora é olhar para frente com fé, e nada melhor do que um ano novinho em folha para nos insuflar a confiança.
Não há a menor dúvida sobre a propriedade do pensamento positivo, faz bem e é salutar, contudo, reflitamos: como esperar uma existência melhor se não construirmos os caminhos a nos conduzir para estes momentos de alegria, satisfação e de prazer em viver?
A natureza não dá saltos, ensina a Doutrina, e a nossa evolução também não se dá aos pulos. Tudo acontece gradativamente, em resposta direta aos nossos esforços em nos melhorarmos, se não fosse assim, algo estaria errado na providência divina, pois, por acaso, sem empenho e trabalho, poderíamos acordar melhores do que somos, ao longo de apenas uma noite, exatamente a noite da virada do ano: o espírita está muito bem informado sobre a inexistência do acaso.
Esclarece o Espiritismo ser necessário repetir testemunhos de aprendizado e renovação, dia após dia, em razão de ninguém evoluir em um dia apenas e para um dia somente. De modo a consolidar reais avanços em nossas virtudes e conhecimentos, deve haver trabalho e dedicação persistentes de nossa parte para com convicção esperarmos algo melhor do futuro. Por outro lado, não basta apenas pedir a Deus, é preciso dar sustentação ao pedido através de boas ações, continuamente, por largo tempo.
Tomemos como exemplo o querido Francisco Cândido Xavier. No livro No Mundo de Chico Xavier1, Elias Barbosa fez um exercício matemático aproximado descortinando alguns números da vida do médium mineiro, após 40 anos de atividades mediúnicas, isto se deu em 1967. Chico teria participado de 6240 reuniões; haveria realizado 1.000.000 de contatos pessoais; totalizava 73.000 horas de serviço doutrinário, na base de cinco horas diárias, equivaleria a 8 anos, 12 dias e 10 horas de tempo integral de vida dedicado à Doutrina, entre outras muitas atividades, inclusive profissionais. É claro não se esperar obra de tamanho vulto de todos nós, Espíritos ainda muito acanhados e noviços na prática do bem, nada obstante, nos dão uma dimensão, a ser atingida no futuro, do significado de trabalhar na seara bendita.
O ano novo se apresentará com novas oportunidades de aprendizado, é fato, pois a Divindade sempre nos proporciona novas chances de evolução, assim, não nos aprisionemos ao passado, somos imortais, nunca é tarde para recomeçar, aproveitemos, porquanto, outras portas se abrirão, avancemos, sejamos agora vitoriosos.
Confiemos em Deus, em razão de já haver sido dito: Ajuda-te e o céu te ajudará. E como nos ajudaremos? Trabalhando, nos esforçando, vigiando, orando, estudando, sem estes requisitos, jamais poderemos aguardar novos e iluminados horizontes, pois tudo fica como está, quando não promovemos mudanças.
Sabemos ser o tempo relativo, uma convenção, teremos todo o tempo que se fizer necessário para alcançar a relativa perfeição, contudo, quando não aproveitamos a oportunidade oferecida na existência atual, o cenário no futuro se modifica, e a nova ocasião favorável de aprendizado voltará, porém, seguramente modificada, normalmente mais limitada.
Quando for ano novo aqui, em outras regiões do mundo ainda é ano velho, e em outras partes já estão no ano novo faz algumas horas, então, por maior seja a magia emprestada àquela badalada do sino soando à meia noite do dia 31 de dezembro, observemos ser tudo relativo, nada se modificou no primeiro segundo do primeiro minuto da primeira hora do primeiro dia do ano que se inicia, tudo está como sempre esteve. A diferença aparecerá como resultado de nossa atitude ao longo deste novo ano.
Alguns, mais “precavidos”, acreditam nos velhos costumes criados ao longo do tempo, assim, deliberam segui-los à risca, sob pena de, não os praticando, serem “amaldiçoados” no futuro, afinal, se não fizer bem mal não faz, argumentam! Há muita superstição e fantasia, entre tantas, podemos elencar as seguintes:
- Entrar o ano com o pé direito traz sorte e felicidade, todavia, para muitos é com o pé esquerdo;
- Comer bolinho japonês;
- Vestir-se de branco, afinal a cor branca é a cor da paz, vestindo-se assim, certamente se encontrará a tão almejada pacificação interior;
- Pular sete ondas, mas só se for de costas;
- Tomar sopa de lentilha traz fartura à mesa;
- Colocar uma nota de dinheiro dentro do sapato é garantia de mais riquezas ao longo do novo ano;
- Fazer oferendas, usar fitas multicores no pulso, andar com patuás…
Nada disto tem qualquer valor, já tendo afirmado Emmanuel: o melhor talismã é o bom coração.
Inventamos todo o tipo de esdrúxulas práticas e atitudes, em função de nossa significativa ignorância, visando viabilizar a presença da saúde, paz, fortuna e alegria em nossas existências, porém, esquecemos: Deus não se impressionará e jamais se sensibilizará com ações exteriores, toda transformação deve acontecer no nosso interior.
Outros ainda se deixam enganar pelos autointitulados bruxos, quiromantes, feiticeiros, magos, avidamente os procurando em suas tendas. Iludidos, assim o fazem, de modo a serem informados sobre o próprio futuro, cruzando os braços após as consultas, porquanto o porvir, segundo estes aproveitadores da fé pública, já estaria delineado. Quão distantes estamos de Deus para darmos crédito a supostas previsões realizadas pelos embusteiros de todos os tempos.
Ajuda menos quem tarde serve, sendo assim, sirvamos agora, a hora é esta, nem precisamos esperar o próximo ano, não deixemos para amanhã aquilo a ser feito agora.
Se realmente desejamos um ano novo repleto de alegrias, modifiquemo-nos para melhor, porquanto, ninguém poderá promover a nossa evolução, a não ser nós mesmos.
Referência:
1 BARBOSA, Elias. No mundo de Chico Xavier. 1. ed. São Paulo: Editora Calvário, 1968. cap. 6. Diálogo com Chico Xavier.