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No ir e vir do cotidiano

Autora: Fernanda Leite Bião

No ir e vir do cotidiano, somos convidados a participar da trama da vida. Em meio aos caminhos tortuosos, aos desafios constantes e aos campos floridos somos impelidos a construir a nossa própria história.

Marcados por mitos, cultura, condicionamentos, valores e crenças, seguimos como um lápis que realiza contornos, que modifica roteiros e transcende a percepção da vida, buscando o sagrado imerso no profano.

Muitas pessoas acreditam em Deus, falam em Deus e seguem a Deus. Outras buscam na natureza (sol, o verde, os animais) essa relação com o Ser Supremo.

Não sei precisar o que é certo ou errado, mas, afinal, será que alguém sabe?

Às voltas com esses questionamentos sobre a presença do sagrado nas crenças e valores humanos, uma ideia se aconchega em mim.

Será que Deus não passeia por meio das pessoas? Será que Sua manifestação não faz também parte de nossos comportamentos no dia-a-dia, junto aos semelhantes, nos ambientes e instituições sociais (família, escola, trabalho, amigos)?

Quando paramos para reparar todos os movimentos do nosso planeta, observamos que há no seu funcionamento uma harmonia que ora se encontra em descompasso. Hoje presenciamos certa fragmentação nesse equilíbrio. A Terra tem se manifestado bastante, entre sons e movimentos constantes, entre ruídos assustadores, águas avassaladoras, a batida do seu coração em desalinho.

Será que a Terra também não é uma entidade viva, que, assim como nós, precisa de afeto, de cuidado, para não adoecer?

Questões que sugerem reflexões a todos os habitantes, a todas as pessoas que se alimentam e se agregam a essa entidade viva planetária.

Se o sagrado pode estar na natureza, se o sagrado pode estar reagindo com fúria, ante o desrespeito e a violência praticados no Planeta, será que o sagrado, será que Deus não poderia se manifestar a nossos semelhantes, por intermédio de nós? Não só nas visitações a templos sagrados, mas no recolhimento ao sacro templo do nosso coração. No diálogo fraterno ou mais sério com pessoas da própria convivência. No cuidado com a natureza (reciclar, não desperdiçar, não acumular para além das necessidades). Na ausência do respeito a si próprio, não permitindo manifestações dos sentimentos (alegria, medo, raiva, tristeza). Nos alertas do organismo humano para os comportamentos prejudiciais à saúde biopsicofísica (má alimentação, falta de descanso, desgaste físico, mental e emocional provocado por vícios e outras condutas patológicas.

A vontade de conhecer me impele a pensar e procurar respostas nas pessoas sobre elas mesmas e a presença do sagrado em suas vidas.

Como seres que vivem envoltos na matéria, precisamos de concretudes, de matérias palpáveis que nos reservem certa segurança, que nos permitam caminhar pela vida, desenvolver os projetos que temos a realizar, cultivar as crenças que queremos confirmar, passar pela morte que procuramos vencer ou transcender e pela vida que buscamos mudar todos os dias, todas as horas, no correr dos minutos e segundos.

Olhe ao seu redor. Você não está só. Existe uma diversidade que atravessa a sua vida. São corpos diferentes, são cores diferentes, são lugares diferentes, individualidades próprias dentro da pluralidade do todo. Você é muito diferente: apesar das semelhanças com seus pares, possui particularidades que o tornam singular e distinto dos demais.

Mesmo que façamos parte de uma classificação humana, devemos questionar a nossa humanidade (o quanto nossos comportamentos são saudáveis e assertivos ou o quanto são patológicos, violentos ou passivos em demasia), a presença do sagrado em nós, nos movimentos que fazemos e que alteram as nossas experiências, o nosso porvir, e marcam os horizontes dos diferentes seres que habitam o mesmo lugar que habitamos. São eles pais, mães, irmãos, amigos, colegas, esposos, namorados, inimigos, desconhecidos.

Não espere uma manifestação milagrosa, para que você possa fazer modificações em sua vida. Comece agora, seja você também o sagrado presente na sua existência. Reavalie suas crenças e verdades, ouça o outro que está ao seu lado, perceba os sinais da vida nos pequenos detalhes, faça uma avaliação do seu dia, dos seus comportamentos, das suas reações e das reações das pessoas em sua volta. Se errar, não tenha medo de recomeçar. O recomeço é um convite a dar concretude a possibilidades e potenciais que poderão se tornar realizações futuras e gerar crescimento a você e ao outro.

Deus nos deixou um legado – a vida! – que repousa ou floresce, a depender de um só movimento, um consentimento vindo de uma só pessoa – você!

O consolador – Ano 4 – N 202

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