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Novas formas de fazer a caridade

Texto retirado do livro Comunicação & Discernimento, editora EME

A forma de exercer a caridade entre os espíritas é algo positivo que pode melhorar ainda mais. Muito espírita ainda pensa que deve fazer tudo escondido. Assim, deixa pela manhã no orfanato, 20 quilos de farinha de trigo. Certamente essa pessoa está com a consciência tranquila, satisfeita por ter feito uma boa ação. O orfanato, no entanto, estava precisando de sal, óleo e margarina e tinha tanta farinha que elas se estragaram, criaram bicho. Podemos até pensar que o problema é do orfanato que deve gerenciar a falta ou excesso de alimentos trocando, por exemplo, com outra instituição. Um pouco cômodo da nossa parte. Toda a responsabilidade para os outros e nenhuma para nós. Ora, a caridade pressupõe o uso inteligente dos recursos para atender a todos com eficácia, sem desperdício, inclusive do tempo dos voluntários, que quantas vezes é consumido em ações menos expressivas, deixando de lado tarefas mais produtivas e prioritárias.

Devemos fazer o bem no nível em que estamos capacitados a fazer

É comum o voluntário passar um dia inteiro em uma instituição sem ter feito quase nada produtivo e com qualidade. Esta última, coitada, é costumeiramente deixada de lado, pois tanto o voluntário como a instituição tendem a pensar equivocadamente, que nada se pode exigir de uma doação (cavalo dado não se olha os dentes).

É, muita coisa precisa mudar e felizmente já está mudando para melhor. No princípio pode ser apenas mais um modismo, pois a partir dos anos 90 ficou chique ser voluntário. Nas rodas sociais acabam tendo destaque positivo quem faz algum trabalho voluntário. Para conseguir um bom emprego, muitas vezes é fator relevante.

É o começo. Não podemos esperar que todos iniciem um novo trabalho com um claro entendimento dos problemas sociais, do senso de responsabilidade com a própria sociedade do ponto de vista econômico, social, moral e espiritual. Isso nós alcançamos gradativamente e o espiritismo também tem muito a contribuir, mas não só ele.

Passamos da fase de fazer qualquer bem. Devemos fazer o bem no nível em que estamos capacitados a fazer, sem desprezar nenhuma oportunidade. É preciso ter comprometimento, técnicas, métodos, estratégias, metas, indicadores, avaliações e redefinições. Sobretudo, é necessário buscar sempre os melhores resultados.
No tempo de Kardec, a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, incentivava apenas a caridade individual que deveria ser feita de forma mais velada possível. Apenas quando o espiritismo penetrou no Brasil é que a forma de fazer a caridade encontrou a sinergia do trabalho em grupo, que oferece mais recursos e gera mais estímulos para a motivação das pessoas em favor do próximo.

O foco excessivamente religioso tende a abafar o raciocínio e a análise, gerando paradigmas quase intransponíveis. Quantas vezes escutamos líderes espíritas dizendo que o “importante é fazer o bem”. Com isso quer justificar que fazer o bem está na frente de qualquer outra coisa, como o estudo da doutrina, por exemplo. Que o bem deve ser feito de qualquer jeito, pois o que vale é a intenção. Um tanto pior são alguns líderes confusos por seus próprios sofismas, que não aceitam introduzir na instituição espírita nenhuma técnica de administração, planejamento, marketing, qualidade, pois entendem que elas podem deturpar o espiritismo. Falácia. Todas as técnicas, métodos, doutrinas podem ser bem ou mal empregadas. Até na bíblia encontramos passagens mostrando um Deus sanguinário, vingativo que só pode ser agradado com obediência cega, sacrifícios de animais, sangue e até oferecimento de bebidas alcoólicas. É preciso discernimento.

Precisamos continuar a usar também o conhecimento espírita como fundamento de nossas ações, mas sem desprezar tantos outros conhecimentos e experiências que podem contribuir aos nossos propósitos de progredir e fazer progredir com o mínimo de sofrimento e a máxima participação na construção de uma vida melhor para todos. Fora da educação não há caridade eficaz.

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