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O Bem e o Mal

Autor: Renato Costa

Livrar-nos-emos do mal instruindo-nos e praticando a caridade cristã. O estudo nos permitirá discernir o que está em concordância com as leis de Deus e o que não está

Introdução 

Desde as mais remotas eras, o ser humano tem-se questionado sobre a existência do mal. Neste pequeno estudo procuraremos expor as diferentes explicações dadas à questão do mal ao longo da história, mostrando que a dificuldade do ser humano em entendê-la se devia à falta de um entendimento prévio de como havíamos sido criados e do porquê da vida, entendimento este que a Doutrina Espírita nos veio oferecer. 

O mito de adão e eva 

Segundo o livro bíblico da Gênese, o casal primevo habitava o Jardim do Éden, onde era feliz e despreocupado, sendo atendido em todas as suas necessidades pela providência divina. Contudo, diz o mito que Deus havia proibido a Adão e a Eva que comessem do fruto da árvore da ciência do bem e do mal, dizendo-lhes que, se tal fizessem, morreriam (Gen 2:17). Ocorre que, quando Adão e Eva provaram do fruto da árvore da ciência do bem e do mal, eles não foram mortos por Deus no sentido restrito do verbo matar. Eles foram, isto sim, expulsos do Éden e obrigados a “comer do pão com o suor de seu rosto”. 

A interpretação do mito é clara à luz do Espiritismo, conforme expusemos em nosso artigo Adão e Eva, publicado pela Revista Internacional de Espiritismo, em outubro de 2004. As almas que animavam os humanoides viviam a feliz vida dos demais seres do reino animal, convivendo com eles na harmonia da natureza, cada espécie evoluindo a seu modo, interagindo com as demais e desenvolvendo sua inteligência racional e emocional. Quando a consciência moral dessas almas atingiu a maturidade, elas se tornaram Espíritos, ingressando no reino hominal. O que é a maturidade da consciência moral senão a ciência do bem e do mal, o fruto da árvore proibida, segundo o mito do casal primevo?  

Tendo ingressado no reino hominal, as almas, transformadas em Espíritos, passaram a sujeitar-se à Lei da Causalidade, tornando-se responsáveis pelos seus atos. A perda da ingenuidade é representada no mito de Adão e Eva pelo condicionamento da evolução à necessidade do trabalho, do alimento obtido “com o suor do rosto”. A evolução no reino animal não depende de merecimento, uma vez que as espécies animais não possuem a consciência moral madura. O ser humano, no entanto, é responsável pelos seus atos, somente evoluindo, portanto, pelos seus esforços de aperfeiçoamento, à luz da ciência do bem e do mal que adquiriu. 

O maniqueísmo 

O nome ‘“Maniqueísmo” deriva do fato de ter esta religião sido criada por um filósofo de nome Mani, que viveu na Pérsia (hoje Irã) no século II e que dizia tê-la recebido de um anjo que o havia visitado. O Maniqueísmo foi uma das principais religiões da região da Pérsia antiga (hoje Irã), possuindo uma visão dualística do mundo, cujo domínio, para ela, estava em eterna disputa entre duas forças opostas, o bem e o mal. Apesar de extinto em sua forma original desde o século XIII, o maniqueísmo ainda sobrevive como religião em pequena escala sob o nome de neo-maniqueísmo. 

No entanto, apesar de o maniqueísmo, enquanto religião, encontrar-se hoje restrito a pequenas comunidades espalhadas pelo mundo, a visão dualística da realidade que ele prega está longe de ter desaparecido, tendo-se encontrado presente em vários momentos da história desde a antiguidade remota até o nosso século XXI e em todas as culturas. São maniqueístas todas as visões que reduzem qualquer aspecto da vida a pares de ideias opostas e vistas como mutuamente exclusivas, como: 

– em política, “de direita” é colocado em oposição a ”de esquerda”; 

– em religião, “fiel” é colocado em oposição a ”infiel”, “puro” a ”impuro”, “pecador” a ”santo”, “do bem” a ”do mal” e “salvo” a “condenado”;

– nas relações sociais: “branco” é colocado em oposição a ”negro”, “superior” a ”inferior”, “ralé” a ”elite”, e assim por diante. 

As religiões sectárias são maniqueístas quando ensinam que ou o indivíduo as segue ou está condenado ao inferno. Tanto a política externa do governo norte-americano em relação à Al Queida quanto à da Al Queida em relação aos Estados Unidos foram políticas maniqueístas, como tantas antes haviam sido ao longo da história, sendo a causa ou o pretexto de guerras, perseguições e toda sorte de violências entre os homens. 

A existência dos opostos não é o que caracteriza o maniqueísmo, a visão dualística do mundo, mas sim a crença de que tais opostos estão em eterna luta e que são irreconciliáveis, mutuamente exclusivos para sempre, não deixando espaço para as diferenças, que estão por toda parte e que são visíveis a todos aqueles que têm olhos de ver. 

No dizer do psicanalista e professor Raymundo de Lima: “O maniqueísmo não se sustenta por muito tempo, devido ao seu dogmatismo, isto é, sua incapacidade de colocar, à prova da realidade ou da lógica, suas verdades simplificadas. Como seu pensamento está reduzido a um par de verdades antagônicas, aceitar o raciocínio do outro, discordante, significa deixar-se arrastar para o domínio do mal e ser por ele tragado. A vida do maniqueísta se converte em uma prontidão de vigilância (paranoia) constante para não se deixar iludir com os “discursos sedutores”. Santo Agostinho, que inicialmente foi maniqueísta, depois de ter se afastado, escreveu em Confissões (livro 7) que nessa doutrina “não tinha encontrado paz e apenas expressava opiniões alheias”

Apesar de o professor ter dito que “o maniqueísmo não se sustenta por muito tempo”, o que vimos foi que ele sobrevive até hoje e continua fortemente presente nas relações sociais das mais diversas culturas. Ora, o que é certo e incontestável, no entanto, é que ele desaparecerá quando nossa amada Terra for promovida a mundo de regeneração. Em tais mundos não há espaço para dogmatismos sectários, sendo predominante em toda a parte a tolerância em relação às diferenças, pois todos saberão que tais diferenças são inerentes à diversidade de níveis evolutivos existente entre os seres humanos. 

Agostinho de hipona 

Agostinho de Hipona, o Santo Agostinho de nossos irmãos católicos, perplexo diante da existência do mal em um mundo criado por Deus, soberanamente bom, concebeu a noção do mal que prevalece até hoje entre irmãos de crença católica e evangélica. Dizia ele que tudo aquilo que existe é necessariamente bom, pois a ideia de bem seria consequente da ideia de ser, de existir. O mal ficaria, assim, destituído de existência real, reduzindo-se à privação, à corrupção do bem.  

O mal, para Agostinho, é uma transgressão da lei divina, uma vez que a alma foi criada por Deus para reger o corpo, e o homem, fazendo mau uso do livre-arbítrio, subordina a alma ao corpo. Voltada para a matéria, a alma se degenera e, iludida pelas sensações, considera-se a si mesma como sendo corpo. 

Até aqui, podemos dizer que a doutrina de Agostinho tem vários pontos de contato com o Espiritismo. Para nós, espíritas, tudo que Deus criou, isto é, suas imutáveis e soberanas leis, é bom. Como veremos mais adiante, o Espiritismo também nos ensina que o mal é uma transgressão das leis de Deus. A continuação da doutrina de Agostinho, no entanto, é totalmente oposta ao entendimento espírita, como veremos. 

Para o bispo de Hipona, nesse estado de decadência em que a alma se encontra, ela não pode salvar-se por suas próprias forças. A queda do homem é de inteira responsabilidade do homem, como consequência de seu livre-arbítrio. No entanto, o livre-arbítrio que causou a queda ao homem não é suficiente para fazê-lo retornar às origens divinas. Tal poder é privilégio de Deus. Esta é a doutrina agostiniana da predestinação e da graça. 

Passemos, pois, ao entendimento espírita. 

O entendimento espírita 

Em O Livro dos Espíritos 

629. Que definição se pode dar da moral? 

“A moral é a regra de bem proceder, isto é, de distinguir o bem do mal. Funda-se na observância da lei de Deus. O homem procede bem quando tudo faz pelo bem de todos, porque então cumpre a lei de Deus.” 

630. Como se pode distinguir o bem do mal? 

“O bem é tudo o que é conforme à lei de Deus; o mal, tudo o que lhe é contrário. Assim, fazer o bem é proceder de acordo com a lei de Deus. Fazer o mal é infringi-la.” 

631. Tem meios o homem de distinguir por si mesmo o que é bem do que é mal? 

“Sim, quando crê em Deus e o quer saber. Deus lhe deu inteligência para distinguir um do outro.” 

632. Estando sujeito ao erro, não pode o homem enganar-se na apreciação do bem e do mal e crer que pratica o bem quando em realidade pratica o mal? 

“Jesus disse: vede o que queríeis que vos fizessem ou não vos fizessem. Tudo se resume nisso. Não vos enganareis.” 

633. A regra do bem e do mal, que se poderia chamar de reciprocidade ou de solidariedade, é inaplicável ao proceder pessoal do homem para consigo mesmo. Achará ele, na lei natural, a regra desse proceder e um guia seguro? 

“Quando comeis em excesso, verificais que isso vos faz mal. Pois bem, é Deus quem vos dá a medida daquilo de que necessitais. Quando excedeis dessa medida, sois punidos. Em tudo é assim. A lei natural traça para o homem o limite das suas necessidades. 

Se ele ultrapassa esse limite, é punido pelo sofrimento. Se atendesse sempre à voz que lhe diz ‘basta’, evitaria a maior parte dos males, cuja culpa lança à Natureza.” 

634. Por que está o mal na natureza das coisas? Falo do mal moral. Não podia

Deus ter criado a Humanidade em melhores condições? 

“Já te dissemos: os Espíritos foram criados simples e ignorantes (115). Deus deixa que o homem escolha o caminho. Tanto pior para ele, se toma o caminho mau: mais longa será sua peregrinação. Se não existissem montanhas, não compreenderia o homem que se pode subir e descer; se não existissem rochas, não compreenderia que há corpos duros. É preciso que o Espírito ganhe experiência; é preciso, portanto, que conheça o bem e o mal. Eis por que se une ao corpo.” 

Encontramos, ainda, em O Livro dos Espíritos:

635. Das diferentes posições sociais nascem necessidades que não são idênticas para todos os homens. Não parece poder inferir-se daí que a lei natural não constitui regra uniforme? 

“Essas diferentes posições são da natureza das coisas e conformes à lei do progresso. Isso não infirma a unidade da lei natural, que se aplica a tudo.” 

As condições de existência do homem mudam de acordo com os tempos e os lugares, do que lhe resultam necessidades diferentes e posições sociais apropriadas a essas necessidades. Pois que está na ordem das coisas, tal diversidade é conforme à lei de Deus, lei que não deixa de ser una quanto ao seu princípio. À razão cabe distinguir as necessidades reais das fictícias ou convencionais. 

636. São absolutos, para todos os homens, o bem e o mal? 

“A lei de Deus é a mesma para todos; porém, o mal depende principalmente da vontade que se tenha de o praticar. O bem é sempre o bem e o mal sempre o mal, qualquer que seja a posição do homem. Diferença só há quanto ao grau da responsabilidade.” 

637. Será culpado o selvagem que, cedendo ao seu instinto, se nutre de carne humana? 

“Eu disse que o mal depende da vontade. Pois bem! Tanto mais culpado é o homem, quanto melhor sabe o que faz.”  

As circunstâncias dão relativa gravidade ao bem e ao mal. Muitas vezes, comete o homem faltas que, nem por serem consequência da posição em que a sociedade o colocou, se tornam menos repreensíveis. Mas a sua responsabilidade é proporcionada aos meios de que ele dispõe para compreender o bem e o mal. Assim, mais culpado é, aos olhos de Deus, o homem instruído que pratica uma simples injustiça, do que o selvagem ignorante que se entrega aos seus instintos. 

638. Parece, às vezes, que o mal é uma consequência da força das coisas. Tal, por exemplo, a necessidade em que o homem se vê, nalguns casos, de destruir, até mesmo o seu semelhante. Poder-se-á dizer que há, então, infração da lei de Deus? 

“Embora necessário, o mal não deixa de ser o mal. Essa necessidade desaparece, entretanto, à medida que a alma se depura, passando de uma a outra existência. Então, mais culpado é o homem quando o pratica, porque melhor o compreende.” 

Em A Gênese, capítulo III

8. – Pode dizer-se que o mal é a ausência do bem, como o frio é a ausência do calor. Assim como o frio não é um fluido especial, também o mal não é atributo distinto; um é o negativo do outro. Onde não existe o bem, forçosamente existe o mal. Não praticar o mal, já é um princípio do bem. Deus somente quer o bem; só do homem procede o mal. Se na criação houvesse um ser preposto ao mal, ninguém o poderia evitar; mas, tendo o homem a causa do mal em SI MESMO, tendo simultaneamente o livre-arbítrio e por guia as leis divinas, evitá-lo-á sempre que o queira. 

Tomemos para termo de comparação um fato vulgar. Sabe um proprietário que nos confins de suas terras há um lugar perigoso, onde poderia perecer ou ferir-se quem por lá se aventurasse. Que faz, a fim de prevenir os acidentes? Manda colocar perto um aviso, tornando defeso ao transeunte ir mais longe, por motivo do perigo. Ai está a lei, que é sábia e previdente. Se, apesar de tudo, um imprudente desatende o aviso, vai além do ponto onde este se encontra e sai-se mal, de quem se pode ele queixar, senão de si próprio? 

Outro tanto se dá com o mal: evitá-lo-ia o homem, se cumprisse as leis divinas. Por exemplo: Deus pôs limite à satisfação das necessidades: desse limite a saciedade adverte o homem; se este o ultrapassa, fá-lo voluntariamente. As doenças, as enfermidades, a morte, que daí podem resultar, provêm da sua imprevidência, não de Deus. 

Nesse item 8, verifica-se que Kardec adere à visão agostiniana do mal, dizendo ser ele a ausência do bem. Nota-se ainda que, assim como Agostinho de Hipona fez, ele também exclui a possibilidade da existência de um “preposto do mal”, ao contrário da proposta maniqueísta.  

9. – Decorrendo, o mal, das imperfeições do homem, e tendo sido este criado por Deus, dir-se-á que Deus não deixa de ter criado, se não o mal, pelo menos, a causa do mal; se houvesse criado perfeito o homem, o mal não existiria. 

Se fora criado perfeito, o homem fatalmente penderia para o bem. Ora, em virtude do seu livre-arbítrio, ele não pende fatalmente nem para o bem, nem para o mal. Quis Deus que ele ficasse sujeito à lei do progresso e que o progresso resulte do seu trabalho, a fim de que lhe pertença o fruto deste, da mesma maneira que lhe cabe a responsabilidade do mal que por sua vontade pratique. A questão, pois, consiste em saber-se qual é, no homem, a origem da sua propensão para o mal. (1)

Aqui vemos o ponto onde a Doutrina Espírita diverge da visão agostiniana do mal. Ensina a Codificação que fomos criados “simples e ignorantes”, mas “dotados de livre-arbítrio”. Assim, Deus não nos criou nem bons nem maus, deixando ao nosso encargo os caminhos que iríamos trilhar. Somos predestinados à perfeição, sim, mas para chegar a ela não dependemos da graça de Deus, mas somente de nossa vontade.

10. – Estudando-se todas as paixões e, mesmo, todos os vícios, vê-se que as raízes de umas e outros se acham no instinto de conservação, instinto que se encontra em toda a pujança nos animais e nos seres primitivos mais próximos da animalidade, nos quais ele exclusivamente domina, sem o contrapeso do senso moral, por não ter ainda o ser nascido para a vida intelectual. O instinto se enfraquece, à medida que a inteligência se desenvolve, porque esta domina a matéria. O Espírito tem por destino a vida espiritual, porém, nas primeiras fases da sua existência corpórea, somente a exigências materiais lhe cumpre satisfazer e, para tal, o exercício das paixões constitui uma necessidade para o efeito da conservação da espécie e dos indivíduos, materialmente falando. Mas, uma vez saído desse período, outras necessidades se lhe apresentam, a princípio semimorais e semimateriais, depois, exclusivamente morais. É então que o Espírito exerce domínio sobre a matéria, sacode-lhe o jugo, avança pela senda providencial que se lhe acha traçada e se aproxima do seu destino final. Se, ao contrário, ele se deixa dominar pela matéria, atrasa-se e se identifica com o bruto. Nessa situação, o que era outrora um bem, porque era uma necessidade da sua natureza, transforma-se num mal, não só porque já não constitui uma necessidade, como porque se torna prejudicial à espiritualização do ser. Muita coisa, que é qualidade na criança, torna-se defeito no adulto. O mal é, pois, relativo, e a responsabilidade é proporcionada ao grau de adiantamento. 

Todas as paixões têm, portanto, uma utilidade providencial, visto que, a não ser assim, Deus teria feito coisas inúteis e, até, nocivas. No abuso é que reside o mal e o homem abusa em virtude do seu livre-arbítrio. Mais tarde, esclarecido pelo seu próprio interesse, livremente escolhe entre o bem e o mal. 

O exemplo maior 

Jesus não era um filósofo teórico, mas foi entre nós o Mestre excelente que viveu com intensidade tudo o que ensinou. Dessa forma, não há nos evangelhos o relato de Jesus ter ensinado explicitamente ao povo ou aos sacerdotes a diferença entre o bem e o mal. Em vez disso, utilizando-se do entendimento moral do próprio povo, exemplificou pelo seu comportamento e suas palavras o homem de bem que todos devemos imitar. Quanto ao mal, deu-nos a entender de forma clara que sua causa estava em se transgredir a lei de Deus. Após fazer sarar doentes do corpo e da alma que vinham suplicar pela sua cura, certos de sua imensa bondade, muitas vezes ele se despedia deles exortando-os para que não voltassem a pecar, isto é, a praticar o mal. Deixava claro com essa instrução que os responsáveis pela nossa saúde física e emocional e pela nossa evolução somos nós mesmos, um entendimento que, como vimos, escapou totalmente a Agostinho de Hipona, ao propor a doutrina da graça. Ao curar doentes de nascença, o significado de sua despedida foi ainda mais profundo, pois colocou a origem do pecado, isto é do erro que lhes tinha causado o mal da doença, em uma existência anterior, corroborando com isso a verdade contida na lei da reencarnação. Sempre enfatizou, também, o Mestre que a responsabilidade dos homens da lei pelos seus erros era muito maior que a responsabilidade do povo, o que, dito de outra forma, equivale a dizer que cada um responde pelos seus atos conforme o grau de seu entendimento das leis de Deus.   

Jesus ensinou-nos, ainda, que orássemos ao Pai pedindo que nos livrasse do mal. Ora, qual o grande mal do qual precisamos nos livrar? Se nos lembrarmos da doutrina de Agostinho sobre o mal e aprofundarmos nosso entendimento com o ensino dos Espíritos, fica evidente que o mal é algo que nos põe em falta em relação a Deus, algo que nos permite fazer coisas e ter ideias contrárias às Suas soberanas leis. Ora, qual é a mãe de todos os erros senão a ignorância? Quando rezamos o Pai Nosso, concluímos pedindo a Deus que nos livre do mal. Entendamos, pois, que ao dizermos isso, estamos, na verdade, pedindo a Deus que nos livre da ignorância e das consequências da ignorância, seja da nossa ignorância, seja da de outrem cujos efeitos nos atinjam.  

Conclusão 

Livrar-nos-emos do mal instruindo-nos e praticando a caridade cristã. O estudo nos permitirá discernir o que está em concordância com as leis de Deus e o que não está, ensinando-nos como agir em cada circunstância para sempre fazermos a escolha certa, ficando do lado do bem. O exercício da caridade moral colocará em prática o que aprendemos, fazendo de nós instrumentos para diminuir a ignorância no mundo e suas tristes consequências, tão nossas conhecidas, pavimentando o caminho para o mundo de regeneração que tanto almejamos.

Nota

(1) O erro está em pretender-se que a alma haja saído perfeita das mãos do Criador, quando este, ao contrário, quis que a perfeição resultasse da depuração gradual do Espírito e fosse obra sua. Houve Deus por bem que a alma, dotada de livre-arbítrio, pudesse optar entre o bem e o mal e chegasse a suas finalidades últimas de forma militante e resistindo ao mal. Se houvera criado a alma tão perfeita quanto ele e, ao sair-lhe ela das mãos, a houvesse associado à sua beatitude eterna, Deus tê-la-ia feito, não à sua imagem, mas semelhante a si próprio. (Bonnamy, A Razão do Espiritismo, cap. VI.)

Referências 

1. COSTA, Renato. Adão e Eva. In Revista Internacional de Espiritismo, outubro de 2004.

2. KARDEC, Allan. A Gênese, os Milagres e as Predições segundo o Espiritismo. 36. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1995.

3. Id. O Livro dos Espíritos. 76. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1995.

4. de LIMA, Raymundo. Maniqueísmo: O Bem, o Mal e seus Efeitos Ontem e Hoje. Revista Espaço Acadêmico Ano I, no 07, Dezembro de 2001.

5. SAMPAIO, Rudini. Santo Agostinho, Elementos Fundamentais de sua Doutrina. Obtido em 29/05/2006, de http://www.ime.usp.br/~rudini/filos.agostinho.htm.

O consolador – Ano 3 N 148 e 149 – Especial

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