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O candidato intelectual

Autor: Irmão X (espírito)

Conta-se que Jesus, depois de infrutíferos desentendimentos com doutores da lei, em Jerusalém, acerca dos serviços da Bom-Nova, foi procurado por um candidato ao novo Reino, que se caracterizava pela profunda capacidade intelectual.

Recebeu-o o Mestre, cordialmente, e, em seguida às interpelações do futuro aprendiz, passou a explicar os objetivos do empreendimento. O Evangelho seria a luz das nações e consolidar-se-ia à custa da renúncia e do devotamento dos discípulos. Ensinaria aos homens a retribuição do mal com o bem, o perdão infinito com a infinita esperança. A Paternidade Celeste resplandeceria para todos. Judeus e gentios converter-se-iam em irmãos, filhos do mesmo Pai.

O candidato inteligente, fixando no Senhor os olhos arguciosos, indagou:

– A que escola filosófica obedecerá?

– A escola do céu respondeu complacente, o Divino Amigo.

E outras perguntas choveram, improvisadas.

– Quem nos presidirá à organização?

– Nosso Pai Celestial.

– Em que base aceitará a dominação política dos romanos?

– Nas do respeito e do auxílio mútuos.

– Na hipótese de sermos perseguidos pelo Cinéreo, em nossas atividades, como proceder?

– Desculparemos a ignorância, quantas vezes for preciso.

– Qual o direito que competirá aos adeptos da Revelação Nova?

– O direito de servir sem exigências.

O rapaz arregalou os olhos aflitos e prosseguiu indagando:

– Em que consistirá desse modo, o salário do discípulo?

– Na alegria de praticar a bondade.

– Estaremos arregimentados num grande partido?

– Seremos, em todos os lugares, uma assembleia de trabalhadores atenta à Vontade Divina.

– O programa?

– Permanecerá nos ensinamentos novos de amor, trabalho, esperança, concórdia e perdão.

– Onde a voz imediata de comando?

– Na consciência.

– E os cofres mantenedores do movimento?

– Situar-se-ão em nossa capacidade de produzir o bem.

– Com quem contaremos de imediatos?

– Acima de tudo com o Pai e, na estrada comum, com as nossas próprias forças.

– Quem reterá a melhor posição no ministério?

– Aquele que mais servir.

O candidato coçou a cabeça, francamente desorientado, e continuou, finda a pausa:

– Que objetivo fundamental será o nosso?

Respondeu Jesus, sem se irritar:

– O mundo regenerado, enobrecido e feliz.

– Quanto tempo gastará?

– O tempo necessário.

– De quantos companheiros seguros dispomos para início da obra?

– Dos que puderem compreender-nos e quiserem ajudar-nos.

– Mas não teremos recursos de constranger os seguidores à colaboração ativa?

– No Reino Divino não há violência.

– Quantos filósofos, sacerdotes e políticos nos acompanharão?

– Em nosso apostolado, a condição transitória não interessa e a qualidade permanece acima do número.

– A missão abrangerá quantos países?

– Todas as nações.

– Fará diferença entre senhores e escravos?

– Todos os homens são filhos de Deus.

– Em que sítio se levanta as construções de começo? Aqui em Jerusalém?

– No coração dos aprendizes.

– Os livros de apontamento estão prontos?

– Sim.

– Quais são?

– Nossas vidas…

O talentoso adventício continuou a indagar, mas Jesus silenciou sorridente e calmo.

Após longa série de interrogativas sem resposta, o afoito rapaz inquiriu ansioso:

– Senhor, por que não esclareces?

O Cristo afagou-lhe os ombros inquietos e afirmou:

– Busca-me quando estiveres disposto a cooperar.

E, assim dizendo, abandonou Jerusalém na direção da Galiléia, onde procurou os pescadores rústicos e humildes que, realmente nada sabiam da cultura grega ou do Direito Romano, mantendo-se, contudo, perfeitamente prontos a trabalhar com alegria e servir por amor, sem perguntar.

Nota

O conto acima, psicografado por Francisco Cândido Xavier, faz parte do livro Contos Desta e Doutra Vida.

Obra completa: https://www.febeditora.com.br/contos-e-apologos

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