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O desenvolvimento da criança

Autor: Marcus De Mario

A leitura sobre as principais teorias do desenvolvimento da criança, revela que a base do pensamento é uma visão estritamente biológica sobre o homem, ou seja, temos até o presente momento uma visão materialista sobre a chamada psicogênese. A concepção espírita é espiritualista, considerando o homem uma alma imortal e a vida como criação de Deus. E antecipando-se a todas as formulações teóricas do século vinte, no ano de 1857 o Espiritismo assentava as bases do desenvolvimento psicogenético da criança, como podemos verificar na questão 351 de O Livro dos Espíritos:

No intervalo da concepção ao nascimento, o Espírito goza de todas as suas faculdades?

– Mais ou menos, segundo a fase, porque não está ainda encarnado, mas ligado ao corpo. Desde o instante da concepção, a perturbação começa a envolver o Espírito, advertindo-o assim de que chegou o momento de tomar uma nova existência; essa perturbação vai crescendo até o nascimento. Nesse intervalo, seu estado é mais ou menos de um Espírito encarnado, durante o sono do corpo. À medida que o momento do nascimento se aproxima, suas ideias se apagam, assim como a lembrança do passado se apaga desde que entrou na vida. Mas essa lembrança lhe volta pouco a pouco à memória, no seu estado de espírito.

A concepção espírita visualiza o início do processo de desenvolvimento do homem no instante da concepção, ou seja, quando temos a união da alma com o corpo. Embora envolvido pela perturbação do processo de preparação e ligação com o embrião, o Espírito conserva suas ideias, nunca perde sua individualidade. No tocante às ideias, aos conhecimentos e à percepção de si mesmo, vai entrando pouco a pouco num estado de sonolência, onde tem dificuldade de manter-se pleno, pois psiquicamente está transferindo o passado para o subconsciente, deixando na consciência apenas as estruturas necessárias para desenvolver a nova personalidade.

A resposta dada à pergunta de Kardec levanta ainda outra questão: nada se perde, pois se assim acontecesse, já não teríamos a individualidade imortal que preexiste e subsiste, e sim uma nova alma começando do início, o que não sucede, pois o corpo procede do corpo, mas o espírito não procede do espírito. Na medida em que, após o nascimento, domina o corpo, o Espírito readquire, em seu estado normal, a lembrança de seu passado, sempre de acordo com suas necessidades e sua missão na Terra, sem que isso venha a prejudicar sua atual existência.

O psiquismo do ser humano é, portanto, complexo, pois é um ser inter-existente: é uma alma num corpo. Ao mesmo tempo que inicia a aquisição de novos aprendizados, trabalha com os aprendizados que já traz das suas ulteriores existências, que espocam nas ideias inatas e nas tendências de caráter. E após o nascimento? Como se dá o desenvolvimento desse ser? A visão espírita tem semelhança com a visão dos teóricos da ciência? A resposta a tudo isso está na questão 352. Vejamos:

No instante do nascimento o Espírito recobra imediatamente a plenitude de suas faculdades?

– Não: elas se desenvolvem gradualmente, com os órgãos. Ele se encontra numa nova existência; é preciso que aprenda a se servir dos seus instrumentos: as ideias lhe voltam pouco a pouco, como um homem que acorda e se encontra numa posição diferente da que ocupava antes de dormir.

Temos em O Livro dos Espíritos a psicogênese da criança explicada muito antes do aparecimento das teorias do desenvolvimento psicológico e isso numa época, metade do século dezenove, onde ainda se considerava a criança como uma miniatura do adulto. Entendamos o que os Espíritos Superiores responderam a Allan Kardec. Todos os teóricos falam que a criança passa por determinados estágios de desenvolvimento, e que esses estágios estão intimamente ligados às faixas etárias, de acordo com o natural desenvolvimento dos órgãos. Assim as etapas de crescimento da criança devem ser respeitadas no processo educacional. O Espiritismo já afirmava em 1857 que o Espírito só recobra suas faculdades paulatinamente, de acordo com o desenvolvimento dos órgãos físicos do novo corpo, ou seja, ele só pode se manifestar – pensar e agir – de acordo com o que lhe permite o corpo. Como este está em formação, em crescimento, durante a infância o Espírito pensará como criança, agirá como criança, elaborando as estruturas mentais de sua nova personalidade. É assim que não poderá elaborar um pensamento lógico-matemático mais complexo quando está na faixa de seus 2 ou 3 anos de idade, mas que isso começa a ocorrer, por etapas, na medida em que o corpo, e neste caso todo o complexo cerebral, vai lhe dando suporte para tais pensamentos.

A gênese psicológica do ser transforma-se totalmente com a inserção da Alma (Espírito) no processo, pois as ideias, os conhecimentos, os aprendizados, o planejamento reencarnatório, tudo está arquivado nela, nada se perde. Na medida em que controla o corpo com seus instrumentos de manifestação e comunicação, a alma extrai de seu subconsciente tudo o de que precisa para sua nova existência, mas não o faz sozinha, pois necessita dos estímulos da educação que lhe é propiciada no lar e na escola, até que ali pelos sete/oito anos completa esse processo e começa a se revelar tal como realmente é, ou seja, deixa aflorar plenamente suas tendências, mas que então já estarão transformadas (se negativas) ou potencializadas (se positivas), pela educação recebida.

É fantástico esse estudo. Compreender a psicogênese da criança é fundamental para melhor educar, ainda mais com a visão espírita da imortalidade do ser. Passado, presente e futuro pertencem à individualidade espiritual que desenvolve nova personalidade e é colocada por Deus na dependência daqueles que já passaram pelo processo, já realizaram seus estágios no mundo infantil, e sabem que tudo depende não apenas do respeito a esses estágios, mas dos estímulos e da convivência social que são propiciados a essa alma.

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