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O diabo não tem chifres

Autor: Everaldo Ferraro

De tanto se ver filmes de vampiros e lobisomens, chega-se quase a acreditar na sua existência. Se formos mais fundo, encontraremos essa crença arraigada no inconsciente coletivo, formulado por Carl Gustav Jung. Se parece inverossímil ao homem moderno crer nessa fantasia da mente, a realidade pode se apresentar diferente quando se olha no outro lado do espelho.

No plano espiritual, entidades menos evoluídas, voltadas ao mal, assumem formas animalescas, expressões de sua degradação moral e espiritual, conforme nos explicam André Luiz e outros autores do mundo invisível, graças à mudança que operam no seu perispírito. Dessa forma podem apresentar-se a alguém, dotado de vidência, com fisionomia diabólica, com rabos e chifres. Seja como for, por trás das máscaras haverá sempre o ser humano, visto que o Espírito nada mais é do que o homem sem o corpo físico.

É bom lembrarmos que a figura do demônio, lúcifer ou satanás foi implantada nas mentes através dos séculos por religiosos fanáticos ou pela superstição popular, que atribuíam a essas entidades mais poderes do que o próprio Deus. Em tudo havia o dedo do diabo e para se ver até onde chegava a ideia satânica, coitado do infeliz que nascesse canhoto, pois era tido como “portador de más notícias, praticante de bruxaria e discípulo do diabo”. Só com muita sorte não era queimado na fogueira. Talvez por este fato, a mão esquerda seja chamada de sinistra.

Para tranquilidade de todos, felizmente, em boa hora foi-nos dada uma doutrina esclarecedora, que colocou o diabo no seu verdadeiro lugar, qual o de uma entidade temporariamente voltada ao mal e que, mais cedo ou mais tarde, em se arrependendo, entrará para o rol dos bons Espíritos, convertendo-se, algumas vezes, em protetor daqueles a quem atormentava.

Sendo nós criaturas divinas, torna-se difícil imaginar como, até hoje, religiões rendem verdadeiro culto ao demônio, a quem atribuem um poder ilimitado e uma atividade incessante em recrutar almas para o seu reino de chamas, enquanto pintam Deus sentado num trono, em atitude estática e pouco ligando para seus filhos, que O contemplam num êxtase beatífico e inútil pela eternidade. Pelo ritmo em que andam as coisas, não é difícil deduzir que ainda temos uma alma mais diabólica do que divina. Em abono do que dissemos, ouvimos em certa ocasião um clérigo dedicar todo o sermão às virtudes do chefe das fornalhas e, uma única vez, referir-se a Deus.

É difícil não aceitarmos a ideia de que tenhamos sido, em algum momento de nossa evolução, um pequeno ou grande diabo, infernizando a vida dos semelhantes, mas que, por amor de entes elevados, melhoramos nosso desempenho e aportamos nesse mundo, onde optamos por seguir o caminho do Bem. Ainda hoje, talvez por trazermos acesas lembranças do passado, é comum ouvirmos de uma mãe o desabafo em relação a um filho traquina:

– Este menino tem o capeta no corpo!

Assim como não há somente um Espírito Santo, também não há somente um demônio, mas milhões que se imiscuem em nossas vidas, e que os espíritas denominam, simplesmente, obsessores, e são acolhidos nas reuniões mediúnicas com amor e esclarecidos com bondade, abandonando os caminhos trilhados por equívoco. São todos eles, com ou sem chifres, nossos irmãos, filhos do mesmo Pai amoroso, que deixa a porta sempre aberta aos rebentos pródigos que somos todos nós.

O consolador – Ano 7 – N 331

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