Autora: Cristina Sarraf
Pensando na vida, lembro que tive um bom vizinho. Houve colaboração mútua. Agora vejo falhas de minha parte. Ajudaria se tivesse falado de forma incisiva diante de certas situações? Teria criado indisposições, opinando sem ser chamada? Provavelmente!
Foi o que foi… Sua passagem para o outro lado da vida, do modo como aconteceu, deixou em muitos vizinhos, na ocasião, a dúvida se teria havido falha de percepção ou se há momentos em que se fica “nublado” para a vida acontecer, sem interferência, conforme a necessidade de cada um.
E aí vem de novo a reflexão, não diretamente sobre a desencarnação, mas sobre nossa vida diária: qual é essa necessidade? Qual a profunda necessidade que precisa ser atendida, antes que a Vida o faça? Necessidade não percebida no geral, mas que foi e está sendo forjada por nosso modo de pensar e ser?
Estamos nos observando em nossas reações, emoções e motivações? Estamos observando os sinais que a vida trás? Nós que sendo espíritas temos uma espécie de privilégio, pois sabemos da evolução gradativa e pessoal feita em cada encarnação e desencarnação; do arbítrio de cada um; da mediunidade; da nossa ação mental sobre a matéria fluídica, qualificando-a e ao ambiente; da diuturna influência oculta dos Espíritos, por sintonia…
O dia a dia nos chama para fora, para agir, resolver situações, cumprir compromissos, atender necessidades… Se não atentarmos para isso, não sobra tempo para nós mesmos, para reflexões e autoexame comportamental. E vamos seguindo pela vida, empurrados por ela.
Mas há momentos em que somos chamados a “andar sobre as águas”, como Pedro, na passagem que está em Mateus 14, 27 a 32. Ou seja, chamados a agir com mais confiança e de uma forma diferente da que vínhamos adotando. Certamente porque já podemos, mas não estamos percebendo isso. Por quê? Porque chegou a hora de flexibilizar e encontrar maneiras mais coerentes com o modo como pensamos na atualidade. É que a evolução se faz por maturação, do menos para o mais e do inconsciente para o consciente. Devagar ou mais rápida, conforme a bagagem psíquica que temos.
Aprender é mais fácil que pôr o aprendizado em prática. Ver no outro o que é preciso mudar, é mais fácil do que descobrir isso em nós mesmos. E não há censura nessas palavras, e nem poderia ter, porque é apenas a constatação de como funcionamos, de como nosso “grau” evolutivo nos limita e pede o empenho da vontade para laceá-lo; saindo aos poucos das dificuldades que já nos incomodam.
Lembrando que os pensamentos determinam nossa vida, porque eles qualificam o perispírito e as vibrações deste são registradas deterministicamente no corpo físico (sujeito às leis físico-químico-biológicas deterministas), vemos que os problemas físicos, fruto de como pensamos, ajudam e muito! Eles como que nos forçam a refletir e a mudar pensamentos.
Bom… se estamos imaturos, terceirizamos responsabilidades e procuramos fortalecer esses mesmos pensamentos e a conduta correspondente, o que só piora a situação. Até “cair a ficha”…
Mas, quem já está mais maduro, mais sofrido, mais consciente, consegue se curvar diante da sabedoria da Vida e, mesmo tremendo na base, assumir um pensamento renovado e a conduta decorrente.
A mudança moral, ou seja, comportamental, depende intrinsecamente da vontade, que é a expressão do arbítrio. “A vontade é o pensamento em ação”. Como o arbítrio depende intrinsecamente das nuances da evolução, a vontade oscila se ainda estamos aprendendo e nos firmando em nova postura mental. Mas isso é natural, esperado e diminui na proporção dos resultados melhores que aumentam a confiança.
E assim vamos caminhando… nada dramático, se bem que muitas vezes pareça ser!
É que fazer drama pelas dificuldades da vida é uma especialidade em extinção. Chega a ser bem feio… Uma forma de manipular pessoas e não assumir o trabalho de tomar atitudes já possíveis. Mas… essa é uma observação sem julgamento, porque todos estamos em contínuo processo evolutivo, gradual e individual.