Autor: Altamirando Carneiro
Nelson Mandela foi não somente o libertador no seu país de uma raça altiva, dominada pelo branco opressor, mas também um exemplo de governante e um homem de uma grande responsabilidade social como líder e como cidadão. Alguns episódios aconteceram na África do Sul para que finalmente houvesse, com Mandela no comando, uma reflexão maior sobre o respeito humano, como quando em Clive o coração de um homem negro foi transplantado num homem branco, o que motivou considerações como: “se o coração de um negro pode pulsar no peito de um branco, por que ambos não podem gozar dos mesmos direitos políticos e sociais?”
O apartheid (separação) foi um regime de segregação racial adotado de 1948 a 1994 pelos sucessivos governos do Partido Nacional na África do Sul, onde os direitos da grande maioria dos habitantes foram cerceados pelo governo formado pela maioria branca.
A segregação racial na África do Sul teve início no período colonial e o apartheid foi introduzido como política oficial após as eleições gerais de 1948.
Reformas no regime durante a década de 1980 não conseguiram conter a crescente oposição. Em 1990, o presidente Frederik Willen de Klerk iniciou negociações para acabar com o apartheid, que culminou com a realização de eleições multirraciais e democráticas em 1994, que foram vencidas pelo Congresso Nacional Africano, sob a liderança de Nelson Mandela.
Nelson Rolihlahla Mandela, nascido em Mvezo, em 18 de julho de 1918, advogado, ex-líder rebelde e ex-presidente da África do Sul de 27 de abril de 1994 a 16 de junho de 1999, é considerado o mais importante líder da África Negra, ganhador do Prêmio Nobel da Paz de 1993, Pai da Pátria da moderna nação sul-africana e um dos maiores líderes morais e políticos.
A África do Sul deu um exemplo para o mundo. E quando um negro, Barack Obama, assumiu a presidência dos Estados Unidos, um sinal foi dado: é hora de mudar os conceitos, deixar de lado a altivez ilusória, o orgulho vil, o egoísmo destruidor, o preconceito que não leva a nada.
Na memória de todos, a lembrança das palavras de Martin Luther King: “Eu tive um sonho. Sonhei que um dia este país viverá seu ideal tal qual redigido em sua declaração de independência: temos esta verdade por evidente: que todos os homens são criados iguais.” Com apenas 25 anos, Luther King foi a pessoa mais jovem agraciada com o Prêmio Nobel da Paz.
Os idealistas são destemidos. Como a costureira Rosa Parks, que foi presa e multada por ter-se recusado a ceder o lugar, num ônibus, a um branco. Por tudo isso, essa frase constou das mensagens de celulares, nos Estados Unidos: “Rosa Parks sentou para Martin Luther King caminhar. King caminhou para Obama correr. E Obama correu para que as próximas gerações possam voar.”
A grande e poderosa nação não poderia suportar por muito tempo tanta demonstração de pobreza de espírito. E o movimento pela igualdade atinge o auge em 1964, com a Lei Federal dos Direitos Civis, que baniu a discriminação racial em todos os estabelecimentos públicos.
Dentro desse espírito, décadas antes a Assembleia Geral das Nações Unidas estabeleceu uma série de valores que devem ser respeitados: a Declaração Universal dos Direitos Humanos, aprovada em 10 de dezembro de 1948, que estabelece no seu Artigo I que todos os seres humanos nascem livres e iguais, em dignidade e direitos. São dotados de razão e de consciência e devem agir em suas relações com espírito de fraternidade.
Muito antes, em 26 de agosto de 1789, a Assembleia Nacional da França aprovou a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. O Artigo 1º. estabelece que os homens nascem e são livres e iguais em direitos. As distinções sociais só podem fundamentar-se na utilidade comum. O Artigo 4º. diz que a liberdade consiste em fazer tudo que não prejudique o próximo: assim, o exercício dos direitos naturais de cada homem não tem limites senão aqueles que asseguram aos outros membros da sociedade o gozo dos mesmos direitos. Esses limites apenas podem ser determinados pela lei.
Enfim, o mundo hoje compreende melhor que as diferenças entre as pessoas, muito menos a cor da pele, não podem ser empecilho para as ações do dia a dia, e muito menos podem impedir as demonstrações do sentimento.
Estadista no verdadeiro sentido, Nelson Mandela foi um governante cujas ações só mudam o mundo para melhor. Mostrando como travar uma luta nobre e digna contra um regime criminoso, teve a grandeza de, ao sair da prisão, renunciar à vingança – empregando a justiça, tendo como parâmetro o perdão e a bondade. Teve a grandeza de não se vingar, de estender a mão. Enfim, uma atitude cristã.
Com grandeza de Espírito, criou a Comissão de Verdade e Reconciliação, quando os que se confessassem e pedissem perdão eram anistiados. Gestos de extrema generosidade, como o de chamar à sua posse seus antigos carcereiros ou o de promover o esporte dos brancos racistas, tema do filme Invictus.
Como estadista, Nelson Mandela foi o político mais próximo da generosidade de Gandhi. Deixa um exemplo de política feita sem ódio, sem enfrentamento, sem rancores. Enquadrando-o nas lições do Evangelho, ele é o exemplo do homem que construiu sua casa sobre a rocha, e veio o vento, a chuva, a tempestade, e nada a derrubou. Em suma, o verdadeiro homem de bem, aquele que cumpre a lei de amor, de justiça e de caridade, no seu verdadeiro sentido.
Líder e cidadão. Esse é o exemplo de Nelson Mandela, que fica para os governantes de todos os tempos. Pois é assim que o poder deve ser exercido. Não apenas a liderança da força, mas a liderança moral, que dá a quem a exerce o respeito de todas as gerações por todos os tempos e séculos da Humanidade.
O consolador – Ano 7 – N 344 – Artigos