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O farol

Autor: Christina Nunes

Meu mentor espiritual, Caio Fábio Quinto, vem me fazendo uma sabatina terapêutica a respeito de se manter o foco, num período em que me vejo compelida a sair em busca de alternativas viáveis para algumas coisas até então acomodadas num certo padrão ao longo de vários anos. Compele-me a não me distrair dos objetivos que, de índole e por compromisso espiritual, direcionam minha vida. Ilustra-me, de forma acalentadora, esta disposição, compelindo-me a leituras adequadas ou até mesmo a deparar filmes justo no ponto em que, eventualmente, o personagem interpreta com oportunidade esta necessidade, que hoje em dia se confirma como primordial para todos ao redor do mundo.

Ontem mesmo, à noite, e por dois dias seguidos, “por acaso” e em horários diferentes, me guiou a ver na tv o filme Gladiador, já começado. E ontem, especificamente, bem na cena final, quando o militar romano, Maximus, que durante toda a trama fora perseguido e ultrajado pelo imperador Cômodus, luta com o mesmo e, mesmo ferido traiçoeiramente, arranja forças em si para vingar a família assassinada pelo martírio, e ao mesmo tempo livrar Roma do governo do monstro até então instalado no poder. Compenetrada como me achava, virando a esmo os canais enquanto sentia a presença do mentor querido, cheguei a sorrir para mim mesma, ouvindo com a audição espiritual os comentários a respeito do que o filme exibia. O recado, por analogia, se fazia óbvio, embora naquele minuto eu comentasse com o companheiro das esferas invisíveis que as complexidades do mundo, em todas as épocas, nem sempre tornam esta disposição fácil para o ser humano.

O  “Mas se forem mal recebidos, saiam logo daquela cidade. E, na saída, sacudam o pó das suas sandálias, como sinal de protesto contra aquela gente” (Lucas 9:5)”, ensinado por Jesus aos discípulos bem-intencionados que saíram ao mundo para anunciar o Reino – leia-se aqui, no contexto do Espírito! – nem sempre é coisa simples de se realizar, dada a heterogeneidade humana em todos os quadrantes do planeta. Sua cultura, diversidades religiosas e educacionais, discrepâncias de índoles e de visão, e tantas outras complexidades nos emprestam a sensação reincidente de ser coisa quase impossível sedimentar na Terra o reino de Amor com que sonhou o Mestre, dois milênios atrás.

Recordo-me muitas vezes dos cumes de sombras atingidos na história humana até os dias de hoje. Daqueles instantes em que mais pesado se fez o fardo de dor, em vários recantos do planeta. Desde os tempos do Cristo, na época das barbáries e das crucificações de cristãos, passando pelas fogueiras da Idade Média até a bomba nuclear em Hiroshima, e ao atentado do onze de setembro de 2011, nestes extremos de desespero e de dor, portanto, que há de fazer o ser humano perplexo, ainda empenhado no esforço diário, individual, de crer num panorama mais luminoso, mais amoroso para o mundo? Não é incomum que uma quase desorientação se nos apodere do ânimo combalido em instantes assim, porque, paralelo a estes eventos críticos que vitimam nações, há os de ordem individual. Todos, sem margem a dúvidas, possuem seus momentos de prova, de lágrimas inevitáveis, a cobrar valor e fibra para seguir em frente com discernimento, sem inflexibilidade para as mudanças necessárias à renovação dos tempos, embora também conservando os valores atemporais!

Quando vieram abaixo aquelas duas torres americanas, de altura vertiginosa, pejadas de seres mergulhados num dos maiores paroxismos de terror de que se tem notícia até a atualidade, lembro-me de ter ficado extática diante das imagens da tv, mãos diante da boca, em choque, e apenas as lágrimas dolorosas dizendo o inexprimível que acometia não apenas a mim, mas a todas as pessoas dotadas de solidariedade para com a dor humana. Durante aquele dia trevoso, fronteiras se dissiparam e a humanidade tornou-se una, dividindo o mesmo desnorteamento, a mesma amargura pungente. Diferente de épocas em que os eventos aconteciam isolados do conhecimento planetário instantâneo, próprio da nossa era globalizada, colhíamos naquele dia inesquecível, simultaneamente, os frutos da faceta mais sombria da eficiência da informação. Víamos, diante de nossos olhos, ao vivo, a hecatombe hedionda, de centenas de pessoas comuns, trabalhadores, pais de família como todos somos, de nacionalidades várias, se lançando a partir dos prédios nas alturas dos céus enevoados, compelidos pelo desarvoramento irracional da fuga à tragédia iminente da morte, ou em meio aos incêndios terríveis se desencadeando nos cumes vertiginosos do World Trade Center, ou pela queda dos dois gigantes atingidos pelo atentado desfechado pelas forças obscuras que, em cada fase da história, de tempos em tempos lançam a humanidade nos abismos dos resultados da insana ambição pelo poder!

E, portanto, também naqueles instantes críticos, marco histórico profundamente doloroso para milhares de seres ao redor do globo, novamente me perguntava, de algum modo, como sacudir o pó das sandálias e prosseguir crendo, ainda, no propósito leve, abençoado da difusão da luz no mundo?

Onde o farol, a nos sustentar na rota da esperança, da superação de todas as dores inerentes à jornada evolutiva já de há tantos milênios perdidos no passado? Pois, após essas incontáveis crises, desesperadoras a ponto mesmo de nos roubar toda a lucidez e resistência, a firmeza de ideais em busca daquele cenário de paz e amor com que tantos sonharam, e em nome de que se sacrificaram e se empenharam no curso de suas jornadas terrenas, pensamos nos perder do norte!

Para onde olhar, portanto, e reencontrar referências positivas – a âncora, o lume que nos sustente na rota que, a despeito e acima de nossas perplexidades, se mantém incólume, à espera de que cada um de nós e cada povo reencontre o rumo definitivo que nos leve a atingir o panorama ideal de todos os nossos melhores ideais?

Ontem, e durante esses dias, deste modo, meu mentor vem me recordando com insistência de que o lume é interno, permanente, inatingível, e que devemos lutar para não nos desconectarmos desta luz perene que, inatingível pelas piores vivências transitórias que nos colhem à conta de aprendizado, tem o condão de nos fortalecer; de nos tornar mais sábios para, de vontade própria, prosseguir em direção às mudanças incessantes, mantendo a sintonia com as frequências vibratórias superiores que habitam no mesmo padrão.

Mantenha o foco! – Caio me repete, amoroso – Porque o farol a que se refere começa em você mesma, e entra em ressonância inevitável com tudo no universo que vibra em níveis de energias idênticos, de modo que a escolha é sempre sua! Esmoreça, desista, passe a ver tudo ao redor sem olhar para as alternativas incessantes de felicidade que lhe acenam sem parar, e tudo o que enxergará será um beco sem saída! Com um mínimo de esforço, porém, e apesar do desânimo momentâneo, se volte com firmeza para o ideal de luz que, por si só, se sustenta em seu íntimo, indicando o rumo correto! E logo se perceberá sempre sintonizada a nós, e às possibilidades incessantes com que Deus nos comprova, a cada minuto, que o enredo da vida é de cocriação nossa! E que, portanto, a continuação da história, para melhor, atenderá às nossas intenções, desde que aproveitemos cada dia para não perder de vista este farol que nos orienta os passos, tanto na calmaria, quanto nos mares tempestuosos, na direção infalível do remanso de paz que alcançaremos se nos dispusermos a lutar, incansáveis, pelos nossos melhores sonhos!”

O consolador – Ano 8 – N 368

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