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O maior mandamento

Autor: Marcus De Mario

Encontramos na narrativa do evangelista Mateus um episódio bastante significativo da vida de Jesus Cristo, quando ele travou diálogo com um fariseu, doutor da lei, que chamou Jesus de Mestre e perguntou qual era o maior mandamento da lei. Ele se referia à lei divina, tão estudada pelos judeus a partir do Decálogo recebido por Moisés, e através das revelações trazidas pelos profetas da história do povo judaico. A resposta foi imediata: Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento. Jesus recitou ao doutor da lei o primeiro mandamento do Decálogo, que obviamente o mesmo conhecia muito bem. Na verdade, a pergunta era um teste, tinha uma segunda intenção, que era tentar pegar Jesus em alguma contradição, ou seja, se ele desse uma resposta que fosse considerada em desacordo com o ensinamento e a crença judaicas, poderia ser preso e condenado, entretanto, a resposta fez calar o doutor da lei e seus seguidores. Aproveitando a ocasião, Jesus complementa sua resposta apresentando um segundo mandamento da Lei Divina: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo. E arremata dizendo que esse segundo mandamento é semelhante ao primeiro, e que ambos resumem toda a lei e todos os profetas.

Pego de surpresa com esse ensinamento, e embaraçado com a proposição do segundo mandamento, pois o amor ao próximo não fazia parte das cogitações religiosas judaicas, o doutor da lei perguntou quem seria seu próximo, recebendo como resposta a Parábola do Bom Samaritano, onde um homem não identificado é assaltado e deixado inconsciente na estrada, passando por ela, sucessivamente, um sacerdote, um escriba e um samaritano. Os dois primeiros, religiosos, nada fizeram, mas o terceiro prestou todo o socorro que estava ao seu alcance, preocupando-se com o bem-estar daquele homem. Ao término da história, Jesus indaga ao doutor da lei quem, dos três, havia usado de compaixão para aquele homem. Não tendo como se esquivar da única resposta possível, o fariseu responde ter sido o terceiro. Sim, de fato, foi o terceiro viajante, ou seja, o samaritano, que era um judeu da região da Samaria, e todo judeu nascido nessa região era mal visto pelos fariseus, normalmente nascidos na região da Judeia.

Moral da história: Jesus colocou o doutor da lei numa situação embaraçosa, pois fora um samaritano, e não um representante farisaico, o socorrista. E, ainda pior: o socorro fora feito a um homem que poderia ser qualquer pessoa: um romano, um pobre, um grego, um ladrão, pois ele não tinha sido identificado pelo Mestre, que arrematou a lição dizendo: Então vai e faze o mesmo.

Aprendemos com essa lição, e com a esperança que o doutor da lei também tenha aprendido, que o amor é tudo, que somente através do amor poderemos nos melhorar e melhorar a humanidade, e para que possamos amar devemos combater em nós todo preconceito, toda discriminação, por serem incompatíveis com esse sentimento, apresentado por Jesus como a força maior da lei divina. E não poderia ser o ensino do Mestre diferente, pois foi dele a apresentação de Deus como Pai de bondade e misericórdia, de justiça e amor, alterando o conceito judaico de senhor da guerra, de distribuidor de privilégios e castigos. Deus não castiga seus filhos, pois os ama incondicionalmente, dando-lhes redentoras oportunidades de reparação dos erros e construção da felicidade. Tudo no Universo vibra no Amor, pois o amor emana de Deus, o Pai e Criador.

Por que não conseguimos ainda nos amar? Por que ainda vivemos envoltos em brigas, rancores, ódios e desejos de vingança? Por que ainda alimentamos guerras e crueldades as mais diversas? Por que, passados mais de dois mil anos dos ensinos de Jesus, ainda não conseguimos nos cristianizar? O Espiritismo, através dos ensinos dos Espíritos Superiores, que vieram reviver a pureza do Evangelho com a visão da alma imortal e da vida futura, explica: é que ainda insistimos em cultivar o egoísmo e o orgulho, fazendo opção pela dor, e não pelo amor.

De geração em geração utilizamos a educação para manter ambições, desejos inconfessáveis, paixões e vícios, pois alimentamos o desenvolvimento intelectual, mas deixamos em segundo plano o desenvolvimento do senso moral, a formação do caráter em valores enobrecidos e espiritualizados. Assim, assistimos um cortejo quase ininterrupto de desgraças individuais, familiares e sociais, que nada mais representam do que as consequências do egoísmo e do orgulho.

Contudo, é a educação a chave para a mudança desse quadro, mas não nos referimos à educação da inteligência, e sim à educação moral, que combate as más tendências trazidas pelo Espírito e dá-lhe novas diretrizes e valores de vida. Essa é a grande finalidade do Espiritismo, doutrina de educação do Espírito imortal: realizar a transformação moral da humanidade pela transformação moral dos indivíduos, o que somente conseguiremos quando realizarmos esforços em amarmos a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos, os dois maiores mandamentos da Lei Divina, a qual devemos seguir em espírito e verdade.

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