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O medo

Autora: Joanna de Ângelis (espírito)

Decorrente dos referidos fatores sociológicos, das pressões psicológicas, dos impositivos econômicos, o medo as­salta o homem, empurrando-o para a violência irracional ou amargurando-o em profundos abismos de depressão.

Num contexto social injusto, a insegurança engendra muitos mecanismos de evasão da realidade, que dilaceram o comportamento humano, anulando, por fim, as aspirações de beleza, de idealismo, de afetividade da criatura.

Encarcerando-se, cada vez mais, nos receios justificáveis do relacionamento instável com as demais pessoas, surgem as ilhas individuais e grupais para onde fogem os indivíduos, na expectativa de equilibrarem-se, sobrevivendo ao tumulto e à agressividade, assumindo, sem darem-se conta, um com­portamento alienado, que termina por apresentar-se igualmen­te patológico.

As precauções para resguardar-se, poupar a família aos dissabores dos delinquentes, mantendo os haveres em luga­res quase inexpugnáveis, fazem o homem emparedar-se no lar ou aglomerar-se em clubes com pessoal selecionado, per­dendo a identidade em relação a si mesmo, ao seu próximo e consumindo-se em conflitos individualistas, a caminho dos desequilíbrios de grave porte.

Os valores da nossa sociedade encontram-se em xeque, porque são transitórios.

Há uma momentânea alteração de conteúdo, com a consequente perda de significado. A nova geração perdeu a confiança nas afirmações do passado e deseja viver novas experiências ao preço da aluci­nação, como forma escapista de superar as pressões que so­fre, impondo diferentes experiências.

No âmago das suas violações e protestos, do vilipêndio aos conceitos anteriores vige o medo que atormenta e sub­mete às suas sombras espessas.

A quantidade expressiva de atemorizados trabalha a qua­lidade do receio de cada um, que cresce assustadoramente, comprimindo a personalidade, até que esta se libere em des­regramento agressivo, como forma de escapar à constrição.

Quem, porém, não consiga seguir a correnteza da nova ordem, fica afogado no rio volumoso, perde o respeito por si mesmo, aliena-se e sucumbe.

Na luta furiosa, as festas ruidosas, as extravagâncias de conduta, os desperdícios de moedas e o exibicionismo com que algumas pessoas pensam vencer os medos íntimos, ape­nas se transformam em lâminas baças de vidro pelas quais observam a vida sempre distorcida, face à óptica incorreta que se permitem. São atitudes patológicas decorrentes da fra­gilidade emocional para enfrentar os desafios externos e in­ternos.

A consumação da sociedade moderna é a história da desí­dia do homem em si mesmo, enlanguescido pelos excessos ou esfogueado pelos desejos absurdos.

Adaptando-se às sombras dominadoras da insensatez, neglicencia o sentido ético gerador da paz.

A anarquia então impera, numa volúpia destrutiva, ten­tando apagar as memórias do ontem, enquanto implanta a tirania do desconcerto.

Os seus vultos expressivos são imaturos e alucinados, em cuja rebelião pairam o oportunismo e a avidez.

Procedentes dos guetos morais, querem reverter a ordem que os apavora, revolucionando com atrevimento, face ao insólito, o comportamento vigente.

Os antigos ídolos, que condenaram a década de 20 e 30 como a da “geração perdida”, produziram a atual “era da insegurança”, na qual malograram as profecias exageradamen­te otimistas dos apaniguados do prazer em exaustão, fabri­cando os super-homens da mídia que, em análise última, são mais frágeis do que os seus adoradores, pois que não passam de heróis da frustração.

Guindados às posições de liderança, descambaram, esses novos condutores, em lamentáveis desditas, consumidos pe­las drogas, vencidos pelas enfermidades ainda não controla­das, pelos suicídios discretos ou espetaculares.

A alucinação generalizada certamente aumenta o medo nos temperamentos frágeis, nas constituições emocionais de pouca resistência, de começo, no indivíduo, depois, na sociedade.

Esta é uma sociedade amedrontada.

As gerações anteriores também cultivaram os seus medos de origem atávica e de receios ocasionais.

O excesso de tecnicismo com a correspondente ausência de solidariedade humana produziram a avalanche dos recei­os.

A superpopulação tomando os espaços e a tecnologia re­duzindo as distâncias arrebataram a fictícia segurança indivi­dual, que os grupos passaram a controlar, e as consequências da insânia que cresce são imprevistas.

Urge uma revisão de conceitos, uma mudança de condu­ta, um reestudo da coragem para a imediata aplicação no or­ganismo social e individual necrosado.

Todavia, é no cerne do ser — o Espírito — que se encon­tram as causas matrizes desse inimigo rude da vida, que é o medo.

Os fenômenos fóbicos procedem das experiências passa­das — reencarnações fracassadas —, nas quais a culpa não foi liberada, face ao crime haver permanecido oculto, ou dissi­mulado, ou não justiçado, transferindo-se a consciência fal­tosa para posterior regularização.

Ocorrências de grande impacto negativo, pavores, urdiduras perversas, homicídios programados com requintes de crueldade, traições infames sob disfarces de sorrisos produ­ziram a atual consciência de culpa, de que padecem muitos atemorizados de hoje, no inter-relacionamento pessoal.

Outrossim, catalépticos sepultados vivos, que desperta­ram na tumba e vieram a falecer depois, por falta de oxigê­nio, reencarnam-se vitimados pelas profundas claustrofobi­as, vivendo em precárias condições de sanidade mental.

O medo é fator dissolvente na organização psíquica do homem, predispondo-o, por somatização, a enfermidades di­versas que aguardam correta diagnose e específica terapêutica.

À medida que a consciência se expande e o indivíduo se abriga na fé religiosa racional, na certeza da sua imortalida­de, ele se liberta, se agiganta, recupera a identidade e huma­niza-se definitivamente, vencendo o medo e os seus sequa­zes, sejam de ontem ou de agora.

Nota

Página constante do cap. 4 do livro O Homem Integral, obra psicografada pelo médium Divaldo P. Franco.

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