Autor: Juan Carlos Orozco
Na vida, temos dúvidas e incertezas com a morte do corpo físico, se tudo acabará no nada ou se a vida continuará pela imortalidade do Espírito. Por conseguinte, questionamos sobre o verdadeiro sentido da vida: Quem somos? De onde viemos? Para onde vamos? Por que sofremos? Qual o objetivo da nossa existência?
Allan Kardec, no livro “O Céu e o Inferno”, no Capítulo I, em “O porvir e o nada”, no item 1, inicia a sua análise com as reflexões: “Vivemos, pensamos e operamos – eis o que é positivo; e que morremos, não é menos certo. Mas, deixando a Terra, para onde vamos? Que seremos após a morte? Estaremos melhor ou pior? Existiremos ou não? Ser ou não ser, tal a alternativa. Para sempre ou para nunca mais; ou tudo ou nada: Viveremos eternamente ou tudo se aniquilará de vez? (…) Todo homem experimenta a necessidade de viver, de gozar, de amar e ser feliz. Dizei ao moribundo que ele viverá ainda; que a sua hora é retardada; dizei-lhe sobretudo que será mais feliz do que porventura o tenha sido, e o seu coração rejubilará”.
Afastando-se o horror do nada, tendo-se a certeza de que a vida continuará após a morte do corpo físico, o ânimo para viver será outro, porquanto a crença na vida futura fará viver com fé, confiança, esperança, resignação e alegria, mesmo diante das duras provações e expiações que provocam sofrimentos e dores nos seres humanos.
Por outro lado, a crença de que tudo se acabará com a morte, a motivação na vida será exatamente oposta, como observa Kardec: “De que serviriam, então, essas aspirações de felicidade, se um leve sopro pudesse dissipá-las? Haverá algo de mais desesperador do que esse pensamento da destruição absoluta? Afeições caras, inteligência, progresso, saber laboriosamente adquiridos, tudo despedaçado, tudo perdido! De nada nos serviria, portanto, qualquer esforço na repressão das paixões, de fadiga para nos ilustrarmos, de devotamento à causa do progresso, desde que de tudo isso nada aproveitássemos, predominando o pensamento de que amanhã mesmo, talvez, de nada nos serviria tudo isso. Se assim fora, a sorte do homem seria cem vezes pior que a do bruto, porque este vive inteiramente do presente na satisfação dos seus apetites materiais, sem aspiração para o futuro. Diz-nos uma secreta intuição, porém, que isso não é possível”. (Kardec. O Céu e o Inferno. Cap. I, em “O porvir e o nada”, item 1.)
Assim, há grande diferença entre o pensamento materialista, entendendo que tudo se acabará ao final de uma vida física na Terra, e a visão espiritualista, que acredita na vida futura, prosseguindo além do fim de uma existência corpórea.
Conceitualmente, o nada não existe, podendo significar vazio, ou o nada não é coisa alguma, logo não existe; ou traduz a ideia que se tem da não existência de coisa alguma. Mentalmente, concebemos o nada pela ausência de qualquer coisa que seja, como o vazio absoluto, ou o fim de tudo.
Na mesma direção, em “O Livro dos Espíritos”, na questão 23, ao responder acerca da natureza do Espírito, tem-se a afirmação: “Ficai sabendo: coisa nenhuma é o nada e o nada não existe”. Na questão 36, Kardec pergunta se o vácuo absoluto existe em alguma parte no Espaço universal, tendo como resposta: “Não, não há o vácuo. O que te parece vazio está ocupado por matéria que te escapa aos sentidos e aos instrumentos”.
Kardec, no livro “A Gênese”, no Capítulo I, em “Caráter da revelação espírita”, nos itens 35 e 37, comenta: “Com a doutrina do nada após a morte, todas as relações cessam com a vida e, assim, os seres humanos não são solidários no futuro. (…) Nada esperando depois da morte, faz de tudo para aumentar os gozos do presente; se sofre, só tem a perspectiva do desespero e o nada como refúgio. Com a certeza do futuro, com a convicção de encontrar novamente aqueles a quem amou e com o temor de tornar a ver aqueles a quem ofendeu, todas as suas ideias mudam”.
Ainda Kardec, no livro “O Céu e o Inferno”, no Capítulo I, em “O porvir e o nada”, no item 2, esclarece:
“Pela crença em o nada, o homem concentra todos os seus pensamentos, forçosamente, na vida presente.
Logicamente não se explicaria a preocupação de um futuro que se não espera.
Esta preocupação exclusiva do presente conduz o homem a pensar em si, de preferência a tudo: é, pois, o mais poderoso estímulo ao egoísmo, e o incrédulo é consequente quando chega à seguinte conclusão: gozemos enquanto aqui estamos; gozemos o mais possível, pois que conosco tudo se acaba; gozemos depressa, porque não sabemos por quanto tempo existiremos.
Ainda consequente é esta outra conclusão, aliás mais grave para a sociedade: gozemos apesar de tudo, gozemos de qualquer modo, cada qual por si; a felicidade neste mundo é do mais astuto”.
No item 4, Kardec continua: “Todos somos livres na escolha das nossas crenças; podemos crer em alguma coisa ou em nada crer, mas aqueles que procuram fazer prevalecer no espírito das massas, da juventude principalmente, a negação do futuro, apoiando-se na autoridade do seu saber e no ascendente da sua posição, semeiam na sociedade germens de perturbação e dissolução, incorrendo em grande responsabilidade”.
A visão acerca da vida terminar no nada, sem uma perspectiva futura, é desastrosa para a evolução da Humanidade, posto que, dominada pelo egoísmo materialista, afasta a necessidade da aquisição de virtudes e atributos morais para o progresso dos seres humanos, quer individualmente ou sob o aspecto coletivo para o avanço da sociedade.
“Equivale isso a dizer que o materialismo, com o proclamar para depois da morte o nada, anula toda responsabilidade moral ulterior, sendo, conseguintemente, um incentivo para o mal; que o mau tem tudo a ganhar do nada. Somente o homem que se despojou dos vícios e se enriqueceu de virtudes pode esperar com tranquilidade o despertar na outra vida.” (Allan Kardec. O Evangelho segundo o Espiritismo. Introdução.)
Por conseguinte, nada esperando depois da morte, o ser humano fará de tudo para aumentar os gozos do presente. Se sofre, só terá a perspectiva do desespero e o nada como refúgio. A incredulidade, a simples dúvida sobre o futuro, as ideias materialistas serão os maiores incitantes às quedas do ser humano. Que compensação lhes podem oferecer? Que esperança lhes podem dar? Nenhuma, a não ser o nada.
A Doutrina Espírita traz luz a questões existenciais à medida que esclarece sobre: Deus, sua Natureza, seus atributos e sua ação providencial; a criação do Universo, as leis e os princípios que o regem; o bem e o mal; a criação, a imortalidade e a progressão dos Espíritos; a crença na vida futura; a lei de causa e efeito; a lei do progresso; a lei do amor; a lei do trabalho; o objetivo da reencarnação; a pluralidade de existências; a compreensão dos sofrimentos e das dores; e a busca da perfeição relativa à Humanidade, tendo Jesus como modelo e guia: o caminho, a verdade e a fonte de vida eterna em direção ao Pai.
A imortalidade do Espírito e a vida futura são de difícil aceitação e compreensão, apesar dos testemunhos e das revelações evangélicas, bem como do ceticismo para com os fenômenos espirituais e da descrença nas comunicações mediúnicas recebidas por inúmeros médiuns, independente de eles serem religiosos ou não.
O Espírito Joanna de Ângelis, no livro “Amor imbatível amor”, na psicografia de Divaldo Pereira Franco, ensina: “Existir significa ter vida, fazer parte do Universo, contribuir para a harmonia do Cosmos. A existência humana é uma síntese de múltiplas experiências evolutivas, trabalhadas pelo tempo através de automatismos que se transformam em instintos e se transmudam nas elevadas expressões do sentimento e da razão. À medida que os automatismos biológicos se convertem em impulsos dirigidos – ressalvados alguns que permanecerão sem a contribuição da consciência – o ser psicológico passa a sobressair, conduzindo, de início, a carga dos atavismos que deverão ser remanejados, diluindo aqueles de natureza perturbadora e aprimorando aqueloutros que se transformarão em fontes de alegria, de prazer e de paz…”.
Algumas citações da Bíblia relacionadas com o tema:
“O Espírito é o que vivifica, a carne para nada aproveita; as palavras que eu vos digo são Espírito e vida” (João, 6: 63).
“Disse-lhe Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida. Aquele que crê em mim, ainda que morra, viverá; e quem vive e crê em mim, não morrerá eternamente. Você crê nisso?” (João, 11: 25-26).
“Seis dias depois, Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João e os levou a um alto monte, onde ficaram a sós. Ali ele foi transfigurado diante deles. Suas roupas se tornaram brancas, de um branco resplandecente, como nenhum lavandeiro no mundo seria capaz de branqueá-las. E apareceram diante deles Elias e Moisés, os quais conversavam com Jesus. Então Pedro disse a Jesus: ‘Mestre, é bom estarmos aqui. Façamos três tendas: uma para ti, uma para Moisés e uma para Elias’. Ele não sabia o que dizer, pois estavam apavorados. A seguir apareceu uma nuvem e os envolveu, e dela saiu uma voz, que disse: ‘Este é o meu Filho amado. Ouçam-no!’ Repentinamente, quando olharam ao redor, não viram mais ninguém, a não ser Jesus. Enquanto desciam do monte, Jesus lhes ordenou que não contassem a ninguém o que tinham visto, até que o Filho do homem tivesse ressuscitado dos mortos.” (Marcos, 9: 2-9).
“O anjo disse às mulheres: Não tenham medo! Sei que vocês estão procurando Jesus, que foi crucificado. Ele não está aqui; ressuscitou, como tinha dito. Venham ver o lugar onde ele jazia. Vão depressa e digam aos discípulos dele: Ele ressuscitou dentre os mortos e está indo adiante de vocês para a Galileia. Lá vocês o verão. Notem que eu já os avisei” (Mateus, 28: 5-7).
“Amedrontadas, as mulheres baixaram o rosto para o chão, e os homens lhes disseram: Por que vocês estão procurando entre os mortos aquele que vive? Ele não está aqui! Ressuscitou! Lembrem-se do que ele disse, quando ainda estava com vocês na Galileia: É necessário que o Filho do homem seja entregue nas mãos de homens pecadores, seja crucificado e ressuscite no terceiro dia. Então se lembraram das palavras de Jesus” (Lucas, 24: 5-8).
“Quando Jesus ressuscitou, na madrugada do primeiro dia da semana, apareceu primeiramente a Maria Madalena, de quem havia expulsado sete demônios. Ela foi e contou aos que com ele tinham estado; eles estavam lamentando e chorando. Quando ouviram que Jesus estava vivo e fora visto por ela, não creram. Depois Jesus apareceu noutra forma a dois deles, estando eles a caminho do campo. Eles voltaram e relataram isso aos outros; mas também nestes eles não creram. Mais tarde Jesus apareceu aos onze enquanto eles comiam; censurou-lhes a incredulidade e a dureza de coração, porque não acreditaram nos que o tinham visto depois de ressurreto” (Marcos, 16: 9-14).
“Então, se não há ressurreição dos mortos, nem mesmo Cristo ressuscitou; e, se Cristo não ressuscitou, é inútil a nossa pregação, como igualmente é improdutiva a vossa fé” (1 Coríntios, 15: 13-14).
“E o pó volte à terra, como o era, e o espírito volte a Deus, que o deu” (Eclesiastes, 12: 7).
“Jesus morreu e ressuscitou e assim acontecerá com os que são dele” (1 Tessalonicenses, 4:14).
Apesar das revelações evangélicas, o Espírito Manoel Philomeno de Miranda, na psicografia de Divaldo Pereira Franco, no livro “Transição Planetária”, constata: “Religiosamente, todos estamos informados de que o túmulo não significa aniquilamento, portanto, sabemos que a vida prossegue. Seria lógico, em consequência, vivermos de maneira compatível com essa convicção, o que realmente não ocorre”.
Manoel Philomeno de Miranda acrescenta:
“Jesus morreu, a fim de que pudesse ressuscitar ao terceiro dia, demonstrando a imortalidade e comunicando-se com os amigos queridos que haviam ficado na retaguarda, aguardando a confirmação das Suas palavras luminosas.
Graças ao Seu retorno, é que o Evangelho pôde ser confirmado e a mensagem de que é portador tornou-se esperança de todos aqueles que sofrem e se encontram à borda do abismo, sem entregar-se ao medo ou ao desânimo.
Confiar, portanto, que há um reino além da carne que nos espera a todos, é dever de todo cristão, cuja doutrina se assenta na certeza da vitória sobre o decesso tumular”.
Embora, para os cristãos, Jesus na transfiguração do Monte Tabor conversou com os Espíritos de Elias e Moisés, ressuscitou ao terceiro dia e realizou as suas aparições espirituais depois de ressuscitado, comunicando-se com os amigos queridos, para nos demonstrar a imortalidade do Espírito, mesmo assim duvidamos da imortalidade do Espírito e da vida futura.
Sobre a imortalidade dos Espíritos, em “O Livro dos Espíritos”, nas questões 80, 83 e 115, somos esclarecidos que todos os Espíritos são permanentemente criados simples e ignorantes por Deus e que as suas existências não têm fim. O Espírito nasce simples e ignorante, começando a sua jornada evolutiva na busca da perfeição (resposta à questão 132) em pluralidade de existências.
Além disso, sem a reencarnação não é possível atingir o aperfeiçoamento e a evolução espiritual, pois na questão 132 de “O Livro dos Espíritos: “Deus lhes impõe a encarnação com o fim de fazê-los chegar à perfeição”. Logo, a encarnação é um determinismo divino para se atingir a perfeição.
Assim, a crença na vida futura pela imortalidade do Espírito, em constante progresso intelectual, moral e espiritual, conduz para a busca da perfeição e da felicidade decorrentes das ações renovadoras e edificantes do passado, presente e futuro. Para tanto, importante viver o permanente agora como uma oportunidade consciente de que a vivência atual terá consequências na vida futura.
Para tanto, será necessária a aquisição dos bens imperecíveis, representada pelo tesouro do conhecimento e da moral. No entanto, trata-se de tarefa árdua, de investimento contínuo, mas garantidor de felicidade duradoura, no presente e no futuro, em ambos os planos da vida. A chave da felicidade revela-se, segundo o Espiritismo, na prática do bem, no qual se é possível exercitar a caridade, porquanto as ações desenvolvidas pelo homem, no presente, influenciarão a sua vida futura.
Por fim, “Sob o domínio da crença de que tudo se acaba com a vida, a imensidade é o vácuo, o egoísmo reina soberano entre vós e a vossa palavra de ordem é: ‘Cada um por si’. Com a certeza do futuro, os espaços infinitos se povoam ao infinito, em parte alguma há o vazio e a solidão; a solidariedade liga todos os seres, aquém e além da tumba. É o reino da caridade, sob a divisa: ‘Um por todos e todos por um’. Enfim, ao termo da vida dizíeis eterno adeus aos que vos são caros; agora, simplesmente direis: ‘Até breve!’” (Allan Kardec. A Gênese. Capítulo I. Item 62.)
Bibliografia
ÂNGELIS, Joanna de (Espírito); na psicografia de Divaldo Pereira Franco. Vida feliz. 18ª Edição. Salvador/BA: Editora Leal, 2020.
BÍBLIA SAGRADA.
KARDEC, Allan; tradução de Evandro Noleto Bezerra. A Gênese. 2ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2013.
KARDEC, Allan; tradução de Evandro Noleto Bezerra. O Céu e o Inferno. 2ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2013.
KARDEC, Allan; tradução de Guillon Ribeiro. O Evangelho segundo o Espiritismo. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2019.
KARDEC, Allan; tradução de Guillon Ribeiro. O Livro dos Espíritos. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2019.
KARDEC, Allan; tradução de Evandro Noleto Bezerra. Obras póstumas. 2ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2013.
KARDEC, Allan; tradução de Evandro Noleto Bezerra. O que é o Espiritismo. 2ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2017.
MIRANDA, Manoel Philomeno de (Espírito); Divaldo Pereira Franco (psicografado por). Transição Planetária. 5ª Edição. Salvador/BA: Editora Leal, 2017.
O consolador – Artigos