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O nobre castelão

Autor: Um desconhecido (espírito)

*

No interior

Do esplêndido alcançar,

Agonizava o senhor

Dos domínios extensos.

O dono do solar

Nos espasmos intensos

Da agonia,

Em torno dirigia

Um último olhar,

E viu então

O seu brasão

Invicto e glorioso,

Insculpido nas fúlgidas realezas

Do castelo formoso,

Transbordante de glórias e riquezas!

*

Mais alongando a vista,

Viu-lhe o feito da esplêndida conquista

Nas grandiosas searas.

Que em suas mãos avaras

Foram armas cruéis, destruidoras,

Martirizando as almas sofredoras.

Contemplou seus tesouros passageiros,

E em espasmos convulsos, derradeiros,

Opresso o coração,

Mergulhado no pranto mais profundo,

Expirou para o mundo

O nobre castelão.

*

A sua alma despida das grandezas,

Das terrenas, efêmeras realezas,

Bem após o transcurso de alguns anos

De triste letargia,

Foi um dia

Despertada em amargos desenganos:

Conturbado por agros dissabores,

Contemplou seu solar

Ocupado por outros moradores…

A exclamar,

Estranhou revoltado,

Que ninguém acudisse ao seu chamado.

E em atitude austera,

Tomado de energia,

De cólera severa

Já que ele era o senhor,

Reclamou os seus servos com calor

E, entretanto, nenhum lhe obedecia.

Imerso em turvação,

Somente, às vezes,

Escutava nos ditos mais soezes

Terrível maldição

Das vítimas de antanho!

*

E o sofrimento era tamanho

Em ser incompreendido,

Que se julgou perdido

Irremissivelmente

Assim, constantemente,

Durante o transcorrer de muitos dias,

Conservou-se naquelas cercanias

Como presa feroz

Do sofrimento atroz,

De contínuos pesares e agonias…

Todavia,

O pobre sofredor,

No auge do amargor,

Recordou-se que havia

Um Pai Onipotente,

E cheio de fervor,

Humilde penitente,

Implorou seu amor

Numa súplica em lágrimas de pena.

Sua alma sofredora

Sentiu-se então mais calma e mais serena,

Penetrada de doce claridade,

De luz confortadora,

Que provinha de alguém

Que lhe fazia

Meditar na grandeza da Verdade

E lhe dizia

Da beleza do Amor, da Luz do Bem: –

“O que sofres, amigo, é a conseqüência

Da equívoca existência

Que levaste,

Já que sem piedade aniquilaste

Muitas almas e muitos corações,

Que hoje te envolvem os lúridos momentos

Em rudes sofrimentos

E estranhas maldições.

*

Por que ocultaste as flores formosas

Que na Terra colheste,

Flores lindas que nunca ofereceste

Às almas desditosas?

Por que não concedeste um só bocado

Do teu pão abundante

Ao pobre esfomeado?

Ocupando-te em gozo, a todo o instante,

Jamais vestiste os nus, nem consolaste

Aquele que sofria;

Desprezavas o fraco e nunca amaste

Quem de ti carecia!

A caridade,

O sentimento-luz, a flor-tesouro,

Não tiveste em teus dias de maldade

No grande sorvedouro!

Porém, o Deus de Amor

É sempre o magnânimo Senhor,

E permite que voltes aos humanos,

Para que se dissipem teus enganos

No amargor;

Voltarás,

Porém, já não terás

Efêmeras venturas,

Serás agora escravo e não senhor…

Conhecerás

As dores e amarguras,

As mágoas escabrosas.

Pelas estradas rudes e espinhosas!

Abençoa o Senhor

Que te concede a dor,

Para assim compreenderes

Que os reais e legítimos prazeres

Que da vida nos vêm,

Não residem no Mal e sim no Bem.”

Nota

A poesia acima, psicografada por Francisco Cândido Xavier, faz parte do livro Parnaso de Além-Túmulo

Obra completa: https://www.febeditora.com.br/parnaso-de-alem-tumulo

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