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O nome das coisas

Autora: Eugênia Pickina

A educação desde o início da vida poderia realmente mudar o presente e o futuro da sociedade

Maria Montessori

Na cidade onde eu cresci conheci a senhora Nicola. Uma moça ruiva e uma criança de minha idade vinham visitá-la às vezes. Minha mãe se referia a eles como a família da senhora Nicola.

A senhora Nicola não falava conosco normalmente. Mas quando a família dela aparecia, da janela da cozinha, ela gritava logo cedo meu nome, me oferecia café com leite e me chamava para brincar com o neto dela nos fundos da casa, onde havia um balanço preso num cinamomo, que dava para a rua.

Na verdade, eu não me lembro da aparência desse menino, mas lembro do medo que ele tinha de cachorro.  Desde o começo, quando ele escutou meu cachorro latindo ansioso na varanda da minha casa, comunicou-me a aversão que sentia por esses animais. Disse que os odiava, e a senhora Nicola perguntou: “Como assim? O que os cachorros fizeram a você?”

Lastimável.

As crianças usam a palavra “ódio” para se referir a temas variados. No caso desse menino, na época pressenti que ele estava bastante apavorado. Em vez de ser empática, a senhora Nicola ameaçou castigá-lo caso ele insistisse no ódio. 

Aquilo não fez sentido para mim. Se na época eu fosse habilidosa na arte da persuasão, explicaria à senhora Nicola que não ajudamos uma criança com medo fazendo-lhe ameaças Porque isso só reforça o medo. Para mim não havia dúvida que de certa forma o medo que o neto da senhora Nicola nutria por cachorro naquela manhã de sol só se fizera mais invencível. E, muito aérea, eu o imaginei velhinho sem ter passado pela feliz experiência de brincar com um cão, amigo divertido e fiel. Coitadinho, pensei e suspirei.

No verão seguinte, a senhora Nicola se mudou para a capital e nunca mais a vi e nem a família dela.

Notinha

Os medos são frequentes na infância e variam de acordo com a idade, o temperamento e a história de cada criança. Nos primeiros anos, as crianças se inquietam ao separar-se de seus pais ou ao ter contato com pessoas ou objetos desconhecidos. Entre quatro e seis anos, as crianças geralmente podem se impressionar frente a animais diversos, personagens fantásticos, escuridão. As mudanças associadas aos medos se devem a aspectos cognitivos e psicológicos relacionados a cada etapa de desenvolvimento.

Os pais podem/devem ajudar a criança que sente medo assumindo certas atitudes criativas, como, por exemplo, atuar com empatia, explicando à criança que às vezes todos nós sentimos medo, sem depreciar o que ela sente, pois isso pouco a pouco lhe dará certeza de que essas situações são comuns e é possível superá-las. Os pais não devem nunca ridicularizar a criança, nem a ameaçar, nem forçar situações, isto é, não é decente obrigar uma criança se aproximar de coisas/situações que a perturbem. Infelizmente, essa atitude só agravará o temor e causará danos à sua autoestima. Dar tempo ao tempo; afinal os pais, para educar a criança, precisam sempre demonstrar amor, paciência e respeito.

O consolador – Ano 11 – N 560 – Cinco-marias

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