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O orgulho é a sombra do ego

Autor: Rogério Coelho

Vaidade de vaidades! Diz o pregador, vaidade de vaidades! É tudo vaidade 

Eclesiastes, 1:2

Na atualidade os tempos são de dores e escarcéus, nos quais a loucura generalizada, a empáfia, o orgulho, a vaidade, o egoísmo, a corrupção e a falência das Instituições, inclusive religiosas, assinalam a ebulição moral do planeta! A lavoura espírita também não está livre dessas pragas deletérias, e os Espíritos Superiores falam em uníssono dos cuidados a serem aplicados na Seara do Mestre a fim de que não se transforme em improdutivo e árido sarçal.

Os Benfeitores Espirituais estão sempre conclamando-nos “a testemunhos de amor incondicional para salvarmos a embarcação que navega entre os atóis do orgulho e os lençóis da areia da vaidade, com severo risco de encalhar.”

Por ocasião do encerramento de um curso de vinte dias ministrado no Mundo Maior por Eurípedes Barsanulfo, no Hospital Esperança, para uma plateia de médiuns psicógrafos que cooperam ativamente no labor da psicografia junto ao movimento espírita, a destemida servidora do Cristo, Maria Modesto Cravo, fundadora e dedicada cooperadora do Sanatório Espírita de Uberaba, foi chamada para apresentar seu lúcido depoimento sobre humildade, como sendo a medicação apropriada para nossos problemas com o orgulho.  Nessa oportunidade singular, entre outras coisas, a nobre Entidade espiritual tanto esclareceu como lançou oportuno alerta, sobre a necessidade de combatermos, com todas as armas disponíveis, essa praga que se alastra de forma devastadora no seio do movimento espírita. Vamos pinçar alguns tópicos de seu discurso[1]: “(…) amados companheiros, paz e esperança!… Costumo dizer a Eurípedes que quando sou convocada a falar de humildade é porque meu próprio nome carrega a “sina” desse tema: Maria “Modesta”.  E não vou começar minha fala à moda convencional, dizendo coisas do tipo: “estou aqui, mas não tenho autoridade para falar desse tema”. Muito pelo contrário, digamos humoradamente que me orgulho de minha humildade!

Os conceitos que tomaram conta da cultura popular sobre o que seja humildade prejudicam em muito seu verdadeiro significado. Associa-se humildade com simplicidade, pobreza, atitudes discretas e inúmeras coisas parecidas em ser alguém apagado, que não se destaca, que se mantém no anonimato, que não expressa e nem possui qualidades… Jesus, muito Sábio e Humilde, certa feita foi chamado de bom e não aceitou o adjetivo, alegando que bom era só o Pai e que poderia ser chamado de Mestre, porque isso Ele era e assumia com louvor.  Isso é a humildade: ter consciência do que se é.

Segundo o benfeitor espiritual Eurípedes Barsanulfo, este curso destina-se a nos dar melhores noções sobre o orgulho e como superá-lo, enfocando especialmente a luta de nossos irmãos na comunidade espírita humana. Então eu gostaria de começar este assunto dizendo, com a franqueza de sempre e com muita piedade, que os espíritas estão muito orgulhosos da humildade que imaginam possuir!  Sim, é isso mesmo!  E vocês são testemunhas das lutas e problemas que nossos irmãos queridos carregam para cá por causa disso. A ignorância acerca do que realmente seja humildade, e também das formas cruéis e sutis de ação do orgulho, têm criado dificuldades que poderiam ser vencidas com um pouco de esclarecimento e algumas ações simples. Este curso é uma iniciativa que precisa ser levada aos amigos no corpo físico com urgência, a fim de oferecer-lhes recursos para a grande batalha na conquista dessa virtude. (Humildade).

Para ser franca e brincar um pouco com coisa séria, o movimento espírita está parecendo uma passarela onde o orgulho desfila com várias fantasias. Fantasias de grandeza e de “proprietários” da verdade são as que mais se vê!

Os que nos encontramos fora do corpo, sabemos bem quem são os “Espíritos-espíritas”, sua trajetória espiritual. Torna-se imperioso, mais que nunca, alertar nossos irmãos na carne acerca dos acontecimentos que temos presenciado aqui no Hospital Esperança, para devotarem-se com todas as forças na libertação do peso das ilusões que cultivam a pretexto de grandeza espiritual.

Logo após meu retorno para a vida dos Espíritos, fui convocada por Eurípedes a coordenar as ações para um novo pavilhão junto a essa casa de amor[2], destinado a socorrer os líderes religiosos cristãos da humanidade, especialmente os dirigentes espíritas. Por três décadas consecutivas venho aprendendo nessa tarefa sobre os perniciosos reflexos do orgulho. O pavilhão sob as ordens de minha equipe tem crescido em tamanho e necessidades a cada dia… 

(…) Em todos os campos dos seguidores de Jesus encontramos fracassos e quedas… Nossos amigos de ideal espírita, por exemplo, costumam falar do orgulho como quem conhece e domina o tema, dando notas de sua presença até mesmo na prepotência em falar do assunto. Poucos demonstram consciência do orgulho do qual são portadores, poucos sabem realmente onde e como sua vaidade se manifesta. Basta dizer humoradamente que existem muitos corações orgulhosos da “reforma íntima” que já fizeram. Tão orgulhosos que se sentem melhores e mais adiantados que a maioria das pessoas, dando ensejo ao surgimento das férteis imaginações de que são missionários prontos para salvar a humanidade, quando, em verdade, expressiva maioria deles não estão conseguindo salvar nem a si mesmos. Alguns se utilizam de frases do tipo: “quem sou eu para ser um apóstolo de Jesus” e relegam várias oportunidades de crescer dizendo-se humildes. Ocorre que, apesar de passarem esse atestado de falsa modéstia, no fundo, o sentimento que muita vez os domina é de que são apóstolos do Cristo, e diga-se de passagem: bons apóstolos. (!?) É uma humildade de adorno, porque o que vale mesmo é o que se sente no coração.

Sentimento, eis o cerne de nosso tema sobre o orgulho. O orgulho é um sentimento, o sentimento de grandeza, o sentimento que cria o vício de ser prestigiado, adulado, paparicado… É o sentimento que faz com que queiramos que o Universo circule em nossa órbita personalista. Orgulho é sentimento de superioridade pessoal, por isso humildade, seu oposto, tem que ser fruto também de um trabalho afetivo do Espírito, tem que nascer do coração atrelado à consciência.

Não será demais dizer que o orgulho é um grande vilão, astuto e hábil sedutor. Os espiritistas estão confundindo, sob a ação hipnótica da vaidade, o conhecimento da Doutrina com elevação espiritual. É isso mesmo!! adquirem alguma fatia de saber, sentem-se detentores de verdades que poucos sabem e esbanjam a falsa sabedoria em longos discursos de conversão; e isso não ocorre somente aos neófitos.  Entre os dirigentes que temos atendido no “pavilhão Bezerra de Menezes”, nome que demos para a ala sob nossa responsabilidade aqui no Hospital, encontramos em todos a espontânea manifestação de surpresa ao perceberem que os livros espíritas, apesar da riqueza, dão pálida e distante ideia da realidade da morte e dos movimentos que se operam na erraticidade. É uma pena que tenham que morrer para perceberem que sabem tão pouco!

(…) Generalizou-se na comunidade espírita a preocupação com a “ação das trevas”, e eu pergunto: será que justifica?!  Não estará essa preocupação tirando o foco sobre a real necessidade a ser trabalhada?  Enquanto existe a supervalorização com as “ações dos infernos”, distrai-se para os cuidados que requisitam a personalidade no que tange à sua transformação. Muita atenção para as trevas de fora que acaba fazendo esquecer as trevas que temos que vencer dentro de nós. E, os que aqui nos encontramos, sabemos o quanto o nosso querido “gênio do mal” adora ver o rumo que tem tomado essa excessiva centralização na pessoa dos obsessores e das obsessões na seara doutrinária.

Levemos, portanto, ideias mais claras aos que assumiram o compromisso espírita de serem melhores hoje do que eram ontem, (sem assustá-los evidentemente)… Digamos a eles que séculos sucessivos naufragando nas fracassadas reencarnações edificaram um terrível sentimento de inutilidade e desvalor pessoal; é a angústia básica dos Espíritos que renascem atualmente no corpo físico, um lacerante complexo de inferioridade. Vejam a necessidade que o homem tem de ser grande sem o ser, de fazer-se de forte sem o ser, de bancar o iluminado somente porque transitou alguns anos nas tarefas assistencialistas ou na leitura de uma dezena de livros libertadores. Os traumas da vida extrafísica, a dor do arrependimento ou da culpa, do medo e da fuga têm ocasionado reflexos mentais de difícil erradicação. Os remorsos na erraticidade, provenientes do que fizeram ou deixaram de fazer em anteriores existências, têm constituído a perpetuidade das provas que começam na carne e se mantém depois da morte corporal… Expliquemos aos que possam nos ouvir no plano físico, a importância da valorização mútua pela fraternidade, das equipes que se amam e tratam a todos como uma família, o valor da atenção para com os que ingressam na sociedade espírita, e a urgência do diálogo fraternocomo fonte terapêutica sobre os circuitos mentais auto-obsessivos.”

Como assevera Inácio Ferreira: “os espíritas estão passando por uma loucura controlada, uma psicose intermitente…” Mas temos que perguntar: quantos conseguirão manter esse controle e até quando?!

Referências

[1] OLIVEIRA, W. Soares. Mereça ser feliz. Pelo Espírito Ermance Dufaux, 2.ed.BHte: INEDE, 2003, cap. 35.

[2] Referência ao Hospital Esperança no mundo espiritual.

O consolador – Artigos

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