Autor: Ivan Franzolim
Ao mesmo tempo em que valorizamos a comunicação também criamos obstáculos a ela
O diálogo é o melhor exemplo de comunicação, porque nele duas pessoas colocam em ação toda sua força de comunicação, vendo, ouvindo, sentindo e interagindo uma com a outra. Cada indivíduo é sempre transmissor e receptor em um ato comunicativo.
Curioso que nessa época em que a tecnologia e a cultura mundial dinamiza a comunicação como nunca a humanidade tinha imaginado, gerando interação e compartilhamento de ideias entre milhões de pessoas em todas as partes do mundo, agimos de modo oposto dificultando ou apenas desprezando o potencial de comunicação.
Essa despreocupação em ouvir o próximo é uma característica na maioria dos Centros Espíritas. No inconsciente talvez prevaleça a concepção de que temos uma religião para ser transmitida e seguida e não um conhecimento organizado, inconcluso e evolutivo que depende da interação das pessoas para sua evolução, isto é, da liberdade de expor raciocínios, de receber críticas, de questionar, de argumentar a favor e contra ideias.
Parte significativa dos Centros ainda não se deu ao trabalho de oferecer um simples serviço de informações aos visitantes ou um espaço para que os frequentadores possam se expressar. Na área doutrinária persiste as casas que mais doutrinam do que esclarecem os espíritos nas reuniões de desobsessão.
O Centro Espírita é uma instituição totalmente voltada para o monólogo. Isso é tão marcante, tão cultural que nos poucos momentos em que se abre espaço para as pessoas perguntarem, como em palestras e nos cursos, a grande maioria não se manifesta.
Essa tendência cultural de não exercitar uma comunicação mais plena, interagente, acaba predominando até quando passamos a usar a Internet, com seus poderosos recursos de comunicação.
Assim, quando visitamos os “sites” de instituições espíritas, como: associações, editoras, distribuidoras, jornais, revistas, rádios, TVs e portais, recebemos convite para conhecermos suas páginas em blogs, redes sociais, e seguirmos via twitter, mas nem sempre encontramos uma página que informe que instituição é essa, quais são seus objetivos, quem está na sua gestão, onde está localizada e um simples e funcional endereço de e-mail.
No lugar do e-mail, a instituição oferece uma página para você digitar sua mensagem. Nessa página o leitor é obrigado a dar informações que ele não forneceria normalmente, como o nome, endereço, telefone e até o número da carteira de identidade.
O que ela transmite com isso? Que somente ela deseja comunicar algo e não tem interesse no que você poderia desejar comunicar. Segundo, que ela quer saber o seu e-mail, quem é você, onde você mora, mas não quer que você conheça as mesmas informações a respeito dela.
Essa é uma atitude impensada e copiada de páginas de grandes empresas, com a ilusão de estar fazendo uma boa e moderna comunicação. Contudo, é uma atitude eticamente incorreta que limita e cria embaraços nos relacionamentos imprescindíveis para a consecução dos objetivos institucionais.
Por trás desse comportamento reside a tendência de se entender a comunicação apenas com o objetivo de persuadir, de convencimento, esquecendo-se que a melhor comunicação é aquela aberta ao aprendizado, despretensiosa, que os interlocutores objetivam compartilhar ideias e aprender, enquanto esse tipo de comunicação atualmente praticada é egoísta visando apenas os interesses da organização.
Essa forma de se comunicar pode ser compreensível nas empresas privadas voltadas para o lucro, mas não nas instituições espíritas que deve se pautar por um comportamento ético, fraterno e transparente.
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