Autor: André Luiz Alves JR
Se perdoardes aos homens as ofensas que vos fazem, também vosso Pai celestial vos perdoará os vossos pecados
Mateus, VI: 14
Moisés, através de sua mediunidade revelou a Lei de Talião (olho por olho, dente por dente) a um povo ainda dominado pelos instintos bárbaros. Havia a necessidade de associar as Leis a Deus, pois era a única forma de conter a perversidade humana naqueles tempos.
Posteriormente surge um novo Messias que trazia consigo ideias renovadoras, com o objetivo de complementar a lei. Há dois mil anos, Jesus já ensinava a seus discípulos a prática do perdão:
“Vocês ouviram o que foi dito: Olho por olho, e dente por dente. Eu, porém, lhes digo: Não se vinguem dos que lhes fazem mal. Se alguém lhe bater na face direita, oferece-lhe também a outra”. Mateus, 5:38-39.
Na época, o Nazareno foi pouco compreendido. Os representantes do judaísmo não conseguiam assimilar como o Cristo e seus adeptos sofreram todas as humilhações que lhe foram impostas, sem revidar. Passaram-se dois milênios e ainda hoje permanece conosco a dificuldade em compreender e colocar em prática os ensinamentos do Mestre. Saber perdoar de forma sincera, talvez, seja um dos maiores desafios da nossa jornada evolutiva.
O que é o Perdão?
Perdoar é o mesmo que desculpar, absolver, livrar alguém da culpa de um ato considerado ofensivo ou inadequado. É proporcionar ao ofensor a oportunidade do arrependimento e da corrigenda e, sobretudo, oportunizar a si mesmo o alívio do peso da mágoa e do rancor.
Por que temos dificuldade em perdoar?
Ainda somos Espíritos imperfeitos, daí a nossa dificuldade em perdoar. Muitas vezes somos verdugos impiedosos daqueles que nos rodeiam, entretanto, quando nos tornamos vítimas, a nossa dor parece infindável e maior do que a dor que podemos provocar em outrem, ao ponto de nos acharmos injustiçados.
Quando erramos e reconhecemos o nosso erro, desejamos receber o perdão daquele que foi vitimado por nós, todavia, muitas vezes não somos capazes de perdoar. Há uma dificuldade muito grande em se colocar no lugar do outro. Esquecemos que somos falíveis e costumamos apontar os erros alheios. Falta-nos compreensão e tolerância.
O poder do perdão
“Senhor, quantas vezes poderá pecar meu irmão contra mim, para que eu lhe perdoe? Será até sete vezes? Respondeu-lhe Jesus: Não te digo que até sete vezes, mas até setenta vezes sete vezes.” (Mateus, XVIII: 15, 21 e 22).
Perdoar faz bem para o corpo e para a alma. Todos nós almejamos a felicidade e para ser feliz é necessário viver em harmonia, buscando a paz interior. Para isso é necessário manter a consciência tranquila e o coração livre de sentimentos negativos como o ódio, o rancor, a mágoa.
Além de tudo, estudos científicos comprovam que o aparecimento de certas doenças físicas pode estar relacionado ao sentimento humano. Nossos pensamentos funcionam como emissores e receptores de energia. Se alimentamos o egoísmo, o ódio, o orgulho e o rancor, certamente atraímos energias maléficas para o nosso corpo e o nosso espírito, abrimos portas aos obsessores.
O perdão sincero é capaz de proporcionar aquilo que chamamos de “paz de espírito”, ou seja, nos garante a consciência tranquila, livre de paixões nocivas, consequentemente, diminuímos o risco de doenças.
Mas o perdão também é importante para aquele que é perdoado. Todos nós somos Espíritos em evolução e na busca pela perfeição cometemos erros. Há de se considerar que o erro é necessário para o nosso aprendizado. Nem sempre a intenção do ofensor é nos prejudicar e é necessário dar a ele uma nova oportunidade, assim como a Providência Divina proporciona a todos nós, cada vez que reencarnamos. Onde estaria a justiça de Deus se não houvesse uma chance de correção? Às vezes, o peso da culpa é muito maior que o ato praticado. A própria consciência nos cobra a regeneração diante das falhas.
É possível perdoar no plano espiritual?
Sem dúvidas! Existem vários registros de reconciliação na erraticidade, contudo, os próprios Espíritos envolvidos sentem a necessidade de estagiar em uma nova existência, a fim de cultivar o amor entre si. Este fato pode explicar alguns casos onde há relações conturbadas entre pais e filhos, marido e mulher, irmãos etc.; onde esses indivíduos manifestam uma repulsa mútua, aparentemente inexplicável. É natural que renasçam todos no mesmo seio familiar, para que aprendam a desenvolver o amor e o respeito.
Em algumas situações, as desavenças se arrastam por várias existências, o que acaba causando grande sofrimento a ambas as partes. Geralmente nesses casos desenvolve-se uma relação de obsessão recíproca, acometendo tanto os Espíritos encarnados, quanto os desencarnados. É preciso entender que nossos inimigos não desaparecem com a morte, portanto, não há tempo a perder quando o assunto é perdoar. Quanto mais cedo entendermos esse mecanismo, menos dolorosos serão os nossos débitos.
[…] “Perdoa agora, enquanto a oportunidade de reaproximação te favorece os bons desejos porque, provavelmente, amanhã, o ensejo luminoso terá passado e não encontrarás, ao redor de ti senão a cinza do arrependimento e o choro amargo da inútil lamentação.” Chico Xavier, pelo Espírito Emmanuel. (Trecho retirado da mensagem “Perdoa Agora”, do livro “Assim Vencerás”.)
Dez passos para a prática do perdão
1) O primeiro passo é compreender que somos Espíritos imperfeitos. Se erramos, automaticamente damos o direito a outras pessoas de errarem.
2) Coloque-se no lugar do outro. Qual seria a sua atitude na inversão dos papéis?
3) Seja compreensivo. Quais foram as causas que levaram seu algoz a ter este tipo de conduta?
4) Entenda que perdoar também é caridade. Praticando o perdão você é capaz de se tornar uma pessoa melhor e proporcionar o mesmo ao ofensor.
5) Leve em consideração que o maior perdão é concedido por Deus. Se Ele perdoa, quem somos nós para não perdoar?
6) Não procure fazer justiça com as próprias mãos. Nós não temos o direito de julgar. A Providência Divina se encarrega dos reajustes.
7) Perdoe com o coração e não com a boca. Deus conhece nossas intenções..
8) Procure compreender que a ofensa não é maldade e, sim, ignorância. Aquele que ofende ainda não desenvolveu o amor e o respeito.
9) Não discuta, valorize o diálogo. Muitas vezes as ofensas não passam de palavras mal colocadas.
10) Perdoe a si mesmo. Pode ser que a origem da sua mágoa esteja dentro de você.
Para nós espíritas, a responsabilidade se torna maior. Não podemos alegar posteriormente que agimos por ignorância. Perdoe sempre!
[…] “Espíritas, não vos olvideis de que, tanto em palavras como em atos, o perdão das injúrias nunca deve reduzir-se a uma expressão vazia. Se vos dizeis espíritas, sede-o de fato: esquecei o mal que vos tenham feito, e pensai apenas numa coisa: no bem que possais fazer. Aquele que entrou nesse caminho não deve afastar-se dele, nem mesmo em pensamento, pois sois responsáveis pelos vossos pensamentos, que Deus conhece. Fazei, pois, que eles sejam desprovidos de qualquer sentimento de rancor. Deus sabe o que existe no fundo do coração de cada um. Feliz aquele que pode dizer cada noite, ao dormir: Nada tenho contra o meu próximo.” SIMEÃO (Bordeaux, 1862 – Extraído de O Evangelho segundo o Espiritismo.)
O consolador – Ano 7 – N 334