fbpx

O processo da evangelização espírita

Autor: Marcus De Mario

Nem todo dirigente de centro espírita tem noção exata sobre o que é e qual a importância da evangelização, e muito menos sobre o processo de educação do espírito imortal que todos somos, daí encontrarmos escolas de evangelização infantil distanciadas do verdadeiro processo ensino-aprendizagem, e sem levar em conta as implicações pedagógicas da filosofia espírita e dos princípios que formam o Espiritismo. Em muitos casos repete-se o velho e ultrapassado modelo da escola formatada no século 19, replicado pelo sistema de ensino brasileiro e copiado pelos centros espíritas. Esse sistema é anacrônico, equivocado e de péssimos resultados, bastando para esse reconhecimento verificar a massa de analfabetos funcionais que saem da escola todos os anos, além de jovens que não sabem pensar, que apenas memorizaram conteúdos para utilização em provas. Por que insistimos em dar aula e seguir currículo fechado, quando isso não funciona?

Para prosseguirmos essa reflexão, passemos a palavra a Allan Kardec, em texto que extraímos do item 350 de O Livro dos Médiuns: “Se o Espiritismo deve, como foi anunciado, realizar a transformação da humanidade, só poderá fazê-lo pelo melhoramento das massas, o que só se dará gradualmente, pouco a pouco, pelo melhoramento dos indivíduos.” A palavra do codificador é cristalina. Somente a melhora, a transformação, o aperfeiçoamento dos indivíduos, poderá transformar, melhorar, aperfeiçoar a sociedade. Como vamos alcançar isso sem a participação cada vez mais consciente do educando no processo de sua educação? Sem que o trabalho de evangelização espírita esteja realmente ligado aos ensinos morais de Jesus e à realidade do espírito imortal presentemente reencarnado, mas com vida futura?

Educação é processo que implica a participação do evangelizador, do evangelizando e dos pais, integrando o centro espírita e a família. Não é processo de fora para dentro com decisões tomadas de cima para baixo, ou seja, não é processo em que se tenta ensinar e mais ensinar através de um currículo planejado pelos responsáveis pela evangelização. As crianças e os jovens, que sabem pensar e sentir, que possuem habilidades e sentimentos, necessitam ter participação nesse processo, que não pode acontecer divorciado da família, configurada pelos espíritos superiores como a primeira escola do espírito reencarnado, mostrando que os pais também tem que participar.

Qual é a finalidade da evangelização? Religar os espíritos ao Evangelho, aos ensinos morais de Jesus, compreendendo-os e colocando-os em prática por si mesmos, abraçando com consciência a solidariedade, a fraternidade e a caridade. Não porque aprendeu isso com o evangelizador, mas porque estudou, debateu, pensou e vivenciou em ações pedagógicas, quando então une a teoria com a experiência, e, na sequência, incorpora o aprendizado ao seu patrimônio psíquico. Ele faz porque entende os benefícios para ele e para os outros, ele quer o bem porque compreende que o bem é bom para todos.

Precisamos acabar com a sala de aula e o ensino antidemocrático do evangelizador, que não é um mero passador de conteúdos, que não é um simples instrutor de informações, e sim, é um orientador e facilitador do processo de aprendizagem, devendo, acima de tudo, dar bons exemplos a partir de sua conduta na convivência com os outros. Que adianta ser dirigente do centro espírita, ser evangelizador espírita, ser coordenador de estudo da doutrina espírita, ser médium, e assim por diante, se isso não significa ser menos orgulhoso, menos egoísta, menos vaidoso, menos hipócrita?

É urgente que os espíritas se voltem para a educação, mas não a educação intelectual, cognitiva, repetitiva, que leva a criança e o jovem a memorizarem informações. Já Allan Kardec, em O Livro dos Espíritos, na questão 685A, muito bem esclarece o que seja a verdadeira educação: “Há um elemento que não se ponderou bastante, e sem o qual a ciência econômica não passa de teoria: a educação. Não a educação intelectual, mas a moral, e nem ainda a educação moral pelos livros, mas a que consiste na arte de formar os caracteres, aquela que cria os hábitos, porque educação é conjunto de hábitos adquiridos.” E na questão 917 complementa: “O egoísmo é a fonte de todos os vícios, como a caridade é a fonte de todas as virtudes. Destruir um e desenvolver a outra deve ser o alvo de todos os esforços do homem, se ele deseja assegurar a sua felicidade neste mundo, tanto quanto no futuro.”

Nos centros espíritas estamos trabalhando para assegurar a nossa e a felicidade dos outros? Será que os esforços em realizar tratamento espiritual para doenças orgânicas é a finalidade do Espiritismo? Será que receber mensagens psicografadas dos espíritos recém desencanados para seus familiares é finalidade do Espiritismo? Será que ensinar às crianças o que é o perispírito e decorar sentenças sobre Jesus é a finalidade da evangelização espírita? Não somos contra nenhuma atividade que ampare, console e esclareça ao próximo; estamos chamando a atenção para as prioridades do Espiritismo e, por extensão, dos centros espíritas.

Até aqui falamos da evangelização voltada para as crianças e para os jovens, mas já é hora de estendermos, de ampliarmos esse entendimento. Hoje, em que os meios de comunicação de massa, através de poderoso aparato tecnológico, influenciam as pessoas em todos os aspectos vivenciais, e em que muitos valores estão em crise face ao embate entre o materialismo e o espiritualismo, temos que pensar a evangelização espírita enquanto evangelização espírita da família, para que esta, com o suporte pedagógico do Espiritismo, possa ser o centro irradiante da transformação moral humana. A não ser assim, continuaremos a assistir pesadas levas de indivíduos adentrando à sociedade sem terem limites, levados pela corrente das paixões, pelos mais diversos vícios que degradam a alma, sem ideais mais enobrecidos, deixando-se enredar pelo sensualismo, numa palavra, indivíduos egoístas e orgulhosos, justamente o que a educação moral deveria combater e transformar.

O Espiritismo surgiu no horizonte humano para auxiliar a todos nós na transformação moral que devemos realizar, primeiro conosco, depois com os outros e, finalmente, com o coletivo humano, com a humanidade. É na realidade do espírito imortal que vibramos, e a educação moral é o único caminho que pode acelerar nossa marcha ascensional para a perfeição. Até quando vamos viver o sono dos teimosos que não querem reconhecer a realidade, e que fazem todos os esforços para adaptar o Espiritismo às suas próprias conveniências, assim evitando encarar de frente a necessidade de transformação íntima, interior, de realizar o autoconhecimento e a autoeducação?

A evangelização espírita deve ser prioridade no centro espírita, quando então estaremos aprendendo e praticando o Espiritismo como ele nos foi entregue pelos espíritos superiores e organizado e estudado em suas consequências por Allan Kardec.

Nota Juventude Espírita

Existe um esforço atualmente em substituir o termo Evangelização Infantil para Infância Espírita, motivo pelo qual existem materiais com ambas as nomenclaturas aqui no site.

spot_img