Autor: Rogério Miguez
É comuníssimo acreditar-se que a concepção da existência da mediunidade foi criação do Espiritismo, precisamente de Allan Kardec.
Num país onde pouco se lê e os índices de instrução se encontram em patamares baixos, acreditar que o Codificador revelou pela primeira vez as comunicações mediúnicas é conclusão compreensível até certo ponto esperada, crendo alguns que, ao descobrir as leis da mediunidade, pôde ele elaborar a Doutrina dos Espíritos.
O mestre de Lyon estava alerta sobre esta possibilidade de entendimento, quando enfatiza claramente que o mecanismo para se estabelecer contatos com os que nos antecederam nesta jornada e retornaram à verdadeira, é Lei Divina e, como tal, sempre existiu. É fato!
Foi preciso que o Bandeirante da Verdade se debruçasse por anos a escrever sobre o tema, apresentando ao final, um tratado único, explicando em riqueza de detalhes como se desenvolve e por qual motivo, ou motivos, sempre existiu a mediunidade. Em O livro dos médiuns encontramos pormenorizadamente a descrição do fenômeno, seus tipos, as dificuldades, os escolhos, diretrizes seguras para quem deseja se envolver na prática desta Lei de Deus, seja ou não por missão.
Ora, como Deus é sábio, infinitamente bondoso, a causa primária de todas as coisas, não haveria de criar tal princípio se não houvesse um propósito, um ou mais fins úteis, objetivando ajudar as suas criaturas na caminhada evolutiva.
E quais seriam os objetivos ou benefícios alcançados na utilização desta lei? Vamos elencar alguns:
- Pelo contato com as entidades sublimadas, proporciona, por meio dos esclarecimentos obtidos, instrumento para entendermos melhor a nossa origem, ajudando-nos a responder preocupantes questões existenciais: de onde viemos? para onde vamos? por qual razão aqui estamos?
- Atestar que todos os Espíritos são imortais, porquanto, ao entrar em contato com os chamados mortos, estes, ao darem o testemunho de que ainda vivem, atestam inequivocamente não estarem realmente mortos; em consequência, o medo da morte enfraquece e tende a desaparecer, acalmando-nos ao nos conscientizarmos também desta imortalidade.
- Possibilita ajudar aqueles que desencarnaram ignorantes e desorientados, ainda se encontrando em estado de perturbação mental, em virtude de não se terem preparado adequadamente para a inexorável morte do corpo biológico, ao esclarecer sobre a nova condição existencial de todos eles. Estes acreditavam que desapareceriam por completo, deixariam de existir; entretanto, surpreendem-se claramente vivos, porém sem condições de executar as atividades materiais em que costumavam atuare sem possibilidades de dar continuidade à convivência com os familiares e amigos, perturbando-se sobremaneira pelo inusitado e inesperado desfecho.
- A mediunidade pode, também, por meio destes regulares contatos com os “sempre vivos”, providenciar notícias do lado de lá para aqueles ainda “prisioneiros” da Terra, tranquilizando-os em relação ao futuro, comunicando-lhes alívio em relação às condições de seus parentes, e mesmo esperanças de um porvindouro reencontro. Em alguns casos, estas informações podem ser fornecidas pelos próprios familiares já desencarnados, quando se encontrarem em condições propícias para tanto.
- Permite igualmente, esclarecer quanto às consequências morais resultantes das condutas impróprias durante a existência carnal, ou seja, caso a vida terrena tenha sido desregrada do ponto de vista moral e ético, os contundentes depoimentos dos “mortos” podem ajudar os que aqui ainda se encontram, em uma possível mudança de proceder, de modo a se forrarem dos desagradáveis efeitos certamente presentes, na vida pós-morte, por conta de uma existência muito materialista.
- Fortalecimento da fé daqueles que atuam no campo mediúnico, assim como dos que recebem informes e relatos procedentes do Mundo Espiritual. As descrições do Além, a revelação da existência das colônias do Espaço, o modo como se organizam, esclarecimentos sobre o período da erraticidade, todas estas explicações, entre muitas outras, dão robustez à crença e convicção na atuação misericordiosa e justa da Providência.
- Proporciona outro recurso valioso na “quebra” das relações obsessivas, tão prejudiciais na economia moral do planeta, existentes em larga escala em mundos de provas e expiações como o nosso. As reuniões mediúnicas, atuando com este desiderato, disciplinadas e ordeiras, baseadas apenas nos postulados espíritas, pois não há melhor guia para o entendimento e exercício da mediunidade do que O livro dos médiuns, propiciam mecanismo salutar e eficaz no desentrelaçamento das ligações de ódio e vingança, caracterizando, em sua generalidade, os variados processos obsessivos.
- Assegura recurso importantíssimo para prevenir o suicídio, mazela comum em sociedades pautadas pela vivência sensualista e pelas relações superficiais e materialistas. Por meio do depoimento dos suicidas, pode-se ajuizar perfeitamente que esta “providência” nada resolve ou soluciona, pelo contrário, tudo agrava e complica, de modo que nestes tempos em que grassa o suicídio no seio da juventude e mesmo entre as crianças, o esclarecimento oferecido pelos Espíritos sobre a impropriedade desta “solução” é de inigualável valor.
- Cabe ainda lembrar que o médium é o primeiro a se beneficiar do desempenho da sua própria mediunidade, considerando que todos os testemunhos, depoimentos e impressões recolhidos dos mortos e do Plano Espiritual a ele sempre se aplicam. E mais: se este trabalhador da vinha do Senhor souber convenientemente aplicar à sua vida particular as muitas lições oferecidas, em princípio “aos outros”, seguramente terá vencido o bom combate e deixará a Terra, ao término de sua existência, portando o nobre galardão do dever corretamente cumprido.
A mediunidade em suas múltiplas variantes de ação representa apenas um meio, um recurso, uma ferramenta. Sua finalidade maior é a redenção da Humanidade.