A idéia, muito difundida no meio espírita, de que quando não se vai pelo amor, vamos pela dor, tem um fundo de verdade. Ela não está na falsa noção de que há punição divina e sim no fato de agirmos sem o discernimento das consequências resultantes. Estas podem ser dolorosas ou não e ninguém fica sem elas.
Se já sabemos, no geral não vemos que tudo está ligado e conectado, ou seja, os acontecimentos não são soltos, indo e vindo do nada; têm uma causa ou são causa, embora nossa inaptidão atual para perceber essa integração nos “cegue”. No entanto, as consequências naturais ocorrem, na proporção e em conformidade com o teor e o modo de se entender, o qual origina os atos.
A Vida e as Leis divinas que a regem são sempre justas, por mais que tudo pareça diferente disso e nos descontente.
As tradições religiosas, dogmáticas, medrosas e antiquadas, que ainda tem seu lugar de honra em nossa sociedade e na mente dos seres humanos, determinam uma grande dificuldade de distinção entre o que a alma quer e o que a “cabeça feita” e padronizada estabelecem, reforçando o condicionamento e a mecanização do comportamento. Com base nisso, podemos decidir por aquilo que não nos convem, limitados pelo medo ou pelos costumes. As complicações resultantes e o sofrimento que nos domina, não costumam ser entendidos como consequência natural de nossa maneira de ser e sim como um mal necessário a todos que aqui estão.
Essa identificação com nossos semelhantes, pelo sofrimento que grassa na sociedade, também dificulta a distinção entre o que realmente é um querer da alma e o que já está automatizado no comportamento, mas que não corresponde ao íntimo da pessoa.
O processo evolutivo do qual fazemos parte, segundo o Espiritismo, não cessa de funcionar, estejamos alegres ou doentes, caminhando pela consciência ou empurrados pela Vida. E nele, o que mais nos embaraça são os hábitos mentais negativos, porque não os percebendo, nos mantemos com determinadas condutas, certos de estarmos acertando, mas só nos prejudicamos. Um pouco de auto-observação ajuda a perceber essa característica psicológica humana.
Quando formos Espíritos elevados, desejaremos estar sempre renovando-nos, em tudo. Mas agora, a ilusão de que a estabilidade é o ideal, facilita os hábitos mentais, que são caminhos que já sabemos percorrer e o fazemos sem notar… Toda renovação dá trabalho e pede disciplinação e paciência, mas costuma-se não querer isso. Mais fácil é ficar no que se sabe. Os caminhos novos não são conhecidos; para trilhá-los há que ter atenção para aprender seus detalhes e características, o que implica em muitos erros e equívocos e os devidos reajustes.
A incoerência, comum ao nosso grau evolutivo, se faz no fato de que esses caminhos conhecidos, representados pelos hábitos mentais de pensar e agir mecanicamente, também contem erros e equívocos que necessitam ser saneados! Tanto que -e isso é a prova- determinados aspectos da nossa vida não vão bem e sempre têm problemas e conflitos.
Já sabemos que ficar no sofrimento é uma opção; só nos resta aprender a sair dele, optando por situações internas que nos façam bem. Sofrer faz mal, adoece e perturba. O hábito de tornar em sofrimento os aborrecimentos, as dificuldades e as complicações, em nada ajuda para solucioná-los. Ao contrário, nubla o discernimento e atrapalha o raciocínio. Alem do que produz disfunções orgânicas e doenças.
Em tempos passados e pelos ensinos de religiões dogmáticas, sofrer foi falsamente associado a responsabilidade, boa qualidade espiritual, dignidade, méritos e “ir para o céu”. Mas a época de rever esse desvio moral já chegou e se instalou em boa parte da sociedade humana.
O processo de eliminação de um hábito mental negativo pede que primeiro ele seja reconhecido. Isso só acontece se nos observarmos com respeito, porque assim é possível descobrir a razão de sua existência e avaliar as consequências que nos trás. Não há como apenas jogá-lo fora, porque foi criado em nós mesmos.
Querendo substituí-lo, é o momento da escolha de uma nova maneira de pensar e agir; e que seja em conformidade com nossa consciência e não por imitação ou imposição alheia. A seguir vem a fase da auto-disciplinação, sem cobranças e paciente, porque afinal de contas estaremos melhorando a nós mesmos!
Jornal do NEIE-CEM, Edição 159, Agosto de 2010
Endereço original: http://www.jornaldocem.com.br/edicao-159-agosto-de-2010/o-sofrimento-a-evolucao-e-os-habitos-mentais/
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