Autor: Alessandro Viana Vieira de Paula
Tem sido notícia na mídia o uso de cobaia animal para pesquisas científicas e, em alguns casos, foi divulgado os maus-tratos sofridos pelos animais, o que acabou gerando revolta em muitas pessoas e nas entidades protetoras dos animais.
Esse fato gera as seguintes indagações: É lícito e ético o uso de animais em pesquisas científicas? À luz do Espiritismo, como analisar tal questão?
Frise-se, de início, que a religião espírita nos ensina a amar os animais, porque são nossos irmãos, e, como seres sencientes (dotados da capacidade de sentir dores ou prazeres), merecem respeito e proteção.
O Espiritismo ainda nos elucida que os animais têm princípios espirituais (almas rudimentares – usa-se a palavra espírito ou alma quando o ser espiritual já atingiu o reino hominal, da razão) e que, um dia, através da lei divina da reencarnação e da imortalidade da alma, atingirão o reino hominal e, como nós, alcançarão o patamar de Espíritos puros, portanto, os animais também estão submetidos à lei do progresso.
De outro lado, não podemos desprezar o valor dos avanços científicos, sobretudo na área da qualidade de vida, através da descoberta de curas e tratamentos de doenças que nos permitam uma maior longevidade, facultando ao Espírito um maior aproveitamento da experiência evolutiva que o corpo enseja.
As pesquisas científicas, na área da farmacologia, também permitem a descoberta de medicamentos que amenizam nossos sofrimentos na Terra.
Não ignoremos que os avanços científicos se dão por permissão e misericórdia divina, a fim de tornar a vida na Terra menos áspera. Ademais, em havendo o merecimento coletivo, muitos cientistas, através de inspiração superior, conseguem identificar a cura para determinadas doenças, erradicando-as da Terra.
Na atual fase evolutiva da Terra, como ajustar esses interesses? De um lado há a necessidade das pesquisas e de outro o respeito aos animais.
Há uma passagem conhecida no evangelho, na qual Jesus, ao passar pelo cemitério de Gadara, se depara com um obsidiado que era atormentado por muitos Espíritos, que se denominaram “legião”. Quando Jesus intercede amorosamente em favor do obsidiado, cessando a influência espiritual perniciosa, os Espíritos perturbadores perguntam ao Mestre se eles poderiam “entrar” numa vara de porcos que estava na proximidade, e Jesus consente.
Ao consentir, Jesus nos ensina que a vida humana tem prioridade sobre a vida dos animais. Todas as vezes que estiverem em jogo ambas as vidas, obviamente, devemos dar preferência à vida da criatura humana, que está no topo do ecossistema.
Apenas a título de registro doutrinário, enfatize-se que os Espíritos obsessores não podiam “entrar” no corpo dos animais, aliás, nem em nossos corpos, porque a influência espiritual se dá mente a mente. Consta que os porcos se agitaram e correram para o mar, onde se afogaram, não porque os Espíritos adentraram neles, mas porque os animais fazem registros anímicos rudimentares, de forma que os porcos sentiram a vibração pestilenta e de baixo teor daquele grupo de Espíritos, e se agitaram em desespero, vindo a correrem na direção do mar.
Diante da proteção maior que se dá à vida humana, podemos concluir que são válidas as pesquisas científicas que visam à melhoria da qualidade de vida do ser humano, e, em sendo necessário para essas pesquisas, pode-se utilizar a cobaia animal, mas com limites éticos.
Recomendo a leitura do capítulo “Ciências Médicas e Biológicas à Luz do Espiritismo”, do livro “Atualidade do Pensamento Espírita”, ditado pelo Espírito Vianna de Carvalho, através da mediunidade de Divaldo Pereira Franco, que trata das questões relacionadas à engenharia genética, à embriologia e à zoologia.
O referido benfeitor espiritual aborda com muita elevação as questões dos limites éticos nas pesquisas científicas, dizendo que: “Toda vez que as aspirações humanas se transformarem em alienação perturbadora, objetivando interferir nos códigos genéticos para verdadeiras aventuras, a licitude da experiência deve ceder lugar aos impositivos de uma ética trabalhada com rigor, a fim de que as vidas animais e humanas sejam poupadas às aberrações, que muitas mentes desequilibradas, de ontem como de hoje, têm tentado realizar em diversas culturas…”.
De acordo com a lei nº 11.794, de 8 de outubro de 2008, o uso de animais em atividades de ensino e pesquisa é autorizado no Brasil. Cabe ao Concea (Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal), regulamentado pela mesma lei, zelar pelo cumprimento das normas relativas à utilização humanitária dos animais, além de estabelecer quais instituições podem fazer os testes e monitorar o desenvolvimento de novas técnicas que reduzam a utilização dos bichos pela ciência.
Registre-se, também, que muitos cientistas utilizam-se de outras técnicas para fazer algumas pesquisas na área da saúde, não sendo necessária a cobaia animal, como, por exemplo, a cultura de célula do próprio ser humano, a análise genômica e sistemas biológicos in vitro.
Todavia, a ciência afirma que para determinadas pesquisas ou em determinado ponto da investigação científica surge como indispensável o uso de cobaias animais, a fim de que se possam testar medicamentos, vacinas e outras pesquisas, protegendo os seres humanos de compostos nocivos ou ineficientes.
Dessa forma, conjugando as orientações do Espírito Vianna de Carvalho na citada obra e os preceitos doutrinários do Espiritismo, podemos concluir que as pesquisas com cobaias animais são aceitas desde que:
1) As pesquisas sejam importantes para a saúde humana, evitando-se aquelas que sejam de pouca relevância ou repetições de outros trabalhos científicos já comprovados;
2) As pesquisas não visem ao estudo de questões meramente estéticas, porque não seria digno e razoável, por exemplo, usar a cobaia animal para testes de cosméticos e outros produtos que visam apenas o embelezamento do ser humano;
3) Não seja possível fazer as pesquisas através de outras metodologias;
4) Não visem à manipulação genética em animais, exceto quando tenham por objetivo o melhoramento da qualidade da raça do próprio animal, evitando-lhe a fragilidade e as enfermidades que decorrem do meio ambiente ou de fatores hereditários (Vianna de Carvalho);
Concordo, ainda, com a Sociedade Mundial de Proteção Animal, WSPA, a qual, por meio de sua assessoria de imprensa, frisa que, quando há necessidade verdadeira e sem outra alternativa de se usar animais em experimentações e testes, “essa utilização deve ser regulada e supervisionada por um comitê de ética e bem-estar”. Para eles, além de anestesia e equipe treinada, os testes devem poupar os animais “de todas as formas, as injúrias físicas e psicológicas, incluindo medo e estresse crônicos, a dor, a fome e outros sofrimentos evitáveis”.
Assim sendo, não ignoremos que “a vida na Terra, por enquanto, obedece, de certo modo, à Lei de Destruição, mediante a qual a sobrevivência de um ser depende da morte de outro (…) O ser humano é precioso porque nele transitam os Espíritos que já alcançaram uma faixa superior de entendimento da vida” (Vianna de Carvalho), de forma que caberá ao homem perceber que as doenças decorrem de sua imperfeição moral, sendo que deverá investir principalmente na vivência da lei de amor, a fim de que, no futuro, possamos erradicar as doenças, não sendo mais necessário o uso de cobaia animal.
O consolador – Ano 7 – N 352
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