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Áquila e Prisca

Foi no oásis de Dan, distante mais de cinquenta milhas de Palmira, cidade no deserto siro-arábico, fortificada pelo rei judeu Salomão, que Saulo, que viria tornar-se o Apóstolo dos gentios, os viu pela primeira vez.

Era um casal harmonioso, onde o respeito mútuo, a perfeita conformidade de ideias, a elevada noção de deveres… e sobretudo, a alegria sã…5 irradiavam de seus menores gestos.

Prisca, também chamada Priscila, tinha servido, quando menina e órfã desamparada, como serva da esposa do irmão de Gamaliel, mestre de Saulo.

Bons operários, segundo o comerciante Ezequias, que os empregava, eram, quando ali chegou Saulo, para o seu exílio espontâneo de três anos, os únicos habitantes.

Dedicavam-se à preparação de tapetes de lã e de tecidos resistentes de pelo caprino, para barracas de viagem. Viviam ambos a mocidade e, dotados de bom ânimo, trabalhavam com alegria.

Prisca era a expressão do carinho. Apreciava entoar velhas canções hebraicas, que ressoavam no grande silêncio do deserto. Concluía as tarefas domésticas e se postava junto ao marido, nas lides do tear, até às horas avançadas do crepúsculo.

Áquila era extremamente dedicado às responsabilidades que lhe competiam, trabalhando sem descanso, à sombra das árvores acolhedoras.

Quando caía a tarde, o casal, depois acompanhado por Saulo, estudava as anotações do Apóstolo Levi.

Ambos tinham vivido em Jerusalém e frequentado as reuniões na Casa do Caminho. Contudo, quando se desencadearam as perseguições comandadas pelo então orgulhoso rabino de Tarso, eles foram presos.

Áquila tinha uma tenda de tecelão e seu pai, uma padaria, que era motivo da cobiça de um certo Jochaí, que várias vezes desejara adquiri-la, sem êxito.

Munido de autoridade, o infeliz personagem mandou prender o casal e o pobre velho. Esse, por sua vez, nem era seguidor de Jesus, embora simpatizasse com as ideias.

Áquila e Prisca foram soltos, mas o dono da padaria logo teve todos seus bens confiscados e sofreu nas mãos dos algozes as piores torturas. Devolvido à casa do filho, morreu no dia seguinte. Parecia um fantasma ao ser trazido pelos guardas: ossos quebrados, feridas abertas, o corpo lanhado pelos açoites.

Apesar de tudo, o casal não odiava Saulo, pois haviam aprendido com Pedro a perdoar e abençoar o perseguidor.

Quando, passados meses, Saulo se identifica como o perseguidor Saulo de Tarso, recebe o abraço fraterno de Áquila e as melhores considerações de Prisca. Ele já lhes havia conquistado os corações, pela humildade e longos diálogos em torno da Boa Nova.

Ante as revelações do extraordinário encontro de Saulo com Jesus, às portas de Damasco, decidiram que deveriam sair do deserto para proclamar os favores de Jesus pelo mundo inteiro.

Além do Evangelho, tinham agora também as notas da visão de Jesus ressuscitado para ilustrar a sua palavra. Seu sonho maior era ir a Roma e anunciar o Cristo aos irmãos da antiga Lei.

Foi assim que deixaram o oásis, ao ensejo da passagem de uma grande caravana que os conduziu a Palmira, onde foram inicialmente acolhidos com desvelado carinho, pela família de Gamaliel.

Pelo ano 50, Áquila e Prisca tornariam a se reencontrar com Paulo, em Corinto. Áquila e a companheira falaram longamente dos serviços evangélicos, aos quais haviam sido chamados pela misericórdia de Jesus.4

Conforme seu plano, haviam estado em Roma, por algum tempo, fazendo as primeiras pregações do Evangelho. Os judeus lhes haviam declarado guerra e, certa noite, contou Prisca que, estando sozinha, um grupo de israelitas lhe invadiu a casa e a açoitou, duramente.

Quando Áquila chegou, a encontrou banhada em sangue. Tudo narram, entre exclamações de regozijo pela honra de servir ao Cristo.

A instâncias de Paulo, empreendem esforços para a fundação de uma Igreja em Corinto.

Em 52, acompanharam Paulo a Éfeso, ali se instalando. Quando um certo Apolo, judeu eloquente, natural de Alexandria, veio a Éfeso, foram Áquila e Prisca que lhe expuseram  minuciosamente a Boa Nova, tendo ele se tornado um pregador.

Com ele, foram a Corinto.

Pela veemência de sua pregação, convencia publicamente os judeus, mostrando pelas Escrituras que Jesus era o Cristo.

De retorno a Éfeso, Áquila e Prisca sofreram novas perseguições. Sua oficina singela foi totalmente destruída, quebrados os teares, atiradas à rua as peças de couro. O casal foi preso e somente libertado, após a movimentação dos melhores empenhos de Paulo.

Renan, o autor francês, ao se referir à igreja de Roma, escreve que não se sabe, com exatidão, quem a teria fundado. Afirma, contudo, que com certeza, os membros mais antigos dessa igreja seriam Áquila e Prisca.

Para Paulo, desde o oásis de Dan, foram queridos amigos, que ele tornaria a encontrar em Roma. Chamou-os seus cooperadores em Jesus Cristo, afirmando que expuseram as suas cabeças pela vida dEle.

A eles dirigiu, em suas Epístolas, inúmeras saudações, como podem ser encontradas na Primeira Epístola aos Coríntios, 16:19;  na Epístola aos Romanos, 16:3-5 e na Segunda Epístola a Timóteo, 4:19.

Referências

01.MIRANDA, Hermínio C. Os amigos. In:___. As marcas do Cristo. Rio [de Janeiro]: FEB, 1984. v. 1, cap. 4, item Áquila e Prisca.

02.ROPS, Daniel. Para Roma, pelo sangue. In:___. São Paulo, conquistador de Cristo. 2. ed. Portuguesa. Porto: Tavares Martins, 1960. cap. 5, item O prisioneiro de Cristo.

03.VAN DEN BORN, A . José. In:___. Dicionário enciclopédico da Bíblia. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 1985, verbetes Áquila, Palmira e Prisca.

04.XAVIER, Francisco Cândido. As Epístolas. In:___. Paulo e Estêvão. Ed. especial. Rio de Janeiro: FEB, 2002. pt. 1I, cap. VII.

05.______. O tecelão. Op. cit. pt. II, cap. II.

Nota Juventude Espírita

Na ausência de foto ou pintura dos personagens, criamos a imagem de chamada utilizando inteligência artificial.

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