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Os anjos

MENINO
Mãe, os anjos existem mesmo? Eu nunca vi nenhum.

MÃE
O bom livro diz que sim.

MENINO
É, eu vi uma figura. Mas você já viu algum mãe?

MÃE
Acho que vi, mas não estava vestido como nas figuras.

MENINO
Eu vou achar um, vou correr pela estrada até achar um!

MÃE
É uma boa idéia, irei com você, porque você é muito pequeno para sair correndo sozinho para longe.

MENINO
Eu não sou mais pequeno, já tenho até calças, já sou grande.

MÃE
É mesmo! Tinha me esquecido. Mas está um dia lindo eu vou gostar de passear.

MENINO
Mas você anda muito devagar, você tem um pé aleijado…

MÃE
A mãe insistiu que o acompanharia. Afinal, ela podia andar muito mais depressa do que ele pensava.

NARRADOR
Lá se foram. O menino saltitando e correndo e a mãe o seguindo tão corajosa, mesmo mancando, que o menino logo se esqueceu disso.

MENINO
De repente, uma carruagem apareceu na estrada. Majestosa, puxada por lindos cavalos brancos.

MÃE
Dentro dela, uma dama linda, envolta em veludos e sedas, com plumas brancas nos cabelos escuros. As jóias eram tão brilhantes que pareciam pequenos sóis.

NARRADOR
Ele correu ao lado da carruagem e perguntou à senhora:

MENINO
Você é um anjo?

MÃE
Ela nem respondeu. Apenas olhou-o friamente, em seguida resmungou alguma coisa ao cocheiro que chicoteou os cavalos e a carruagem foi embora, desaparecendo numa nuvem de poeira.

NARRADOR
A poeira encheu a boca e os olhos do menino, fazendo-o tossir e espirrar, fez força para respirar e esfregou os olhos.

MÃE
Nesse momento chegou sua mãe, que limpou toda a poeira, com seu avental de algodão azul.

MENINO
Ela não era um anjo, não é, mamãe ?

MÃE
Com certeza, não. Mas um dia poderá se tornar um, respondeu a mãe.

MENINO
O menino continuou a dançar, saltitando e correndo de um lado ao outro da estrada, a mãe ia atrás como podia.

NARRADOR
Pouco depois, o menino encontrou uma linda moça, vestida de branco, os olhos pareciam estrelas azuis e o rosado iam e vinham das suas faces, como rosas espiando por entre a neve.

MENINO
Tenho certeza de que você é um anjo?

MÃE
Ela ergueu o pequeno em seus braços e falou feliz:

MOÇA
Uma pessoa me disse isso mesmo a noite passada. Eu pareço mesmo um anjo.

MÃE
A moça pegou-o no colo e lhe deu um beijo, abraçando ternamente, de repente ela viu seu namorado chegando.

MOÇA
Lá vem ele vindo me encontrar! E você sujou meu vestido branco com esses sapatos empoeirados, e desarrumou o meu cabelo todo! Vá embora depressa, menino, vá para casa com sua mãe!

MÃE
Ela pôs o menino no chão, tão grosseiramente, com tanta pressa que ele tropeçou e caiu. Mas ela nem viu, apressando-se ao encontro do amado que vinha pela estrada.

NARRADOR
O menino ficou na estrada empoeirada, chorando, até que a mãe chegou pegou-o no colo, enxugando-lhe as lágrimas com seu avental de algodão azul.

MENINO
Aquela moça, certamente, não era um anjo.

MÃE
Não! Mas um dia pode ser que seja, ela ainda e jovem.

NARRADOR
O garoto abraçou o pescoço da mãe e disse estar cansado.

MENINO
Você me carrega?

MÃE
É claro, foi para isso que eu vim.

NARRADOR
Com o precioso fardo nos braços, a mãe foi mancando pelo caminho, cantando a música que ele mais gostava.

MÃE
Canta (se essa rua, se erra rua fosse minha….)

MENINO
Mãe, você não é um anjo, é?

NARRADOR
A mãe sorriu e falou mansinho:

MÃE
Imagine, quem já ouviu falar de anjo usando um avental de algodão azul como o meu.

MENINO
E ela seguiu cantando, e pisava tão corajosa com o pé aleijado que ninguém nunca iria reparar nisso.

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