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Os dois caminhos

Autor: Rogério Miguez

Fé: no sentido comum, a crença em algo constitui a fé. Normalmente inata, manifesta-se pelo seu caráter natural em aceitar as coisas e realidades conforme se apresentam, sem mais amplas indagações.1

Quem dera eu tivesse nascido com a fé de Chico Xavier! Por qual razão não possuo a fé de Divaldo Franco, Madre Teresa, entre outros exemplos de fé inquebrantável? Como fizeram para agradar o Magnânimo que, em retribuição, os aquinhoou com esta preciosa dádiva?! Qual o poder desta virtude, capaz de modificar o presente e moldar o futuro? Nasci assim, sem fé; e agora?

Estas, entre outras, são indagações lançadas ao Alto, às vezes com um sentimento surdo de revolta por todos aqueles ainda não detentores desta primordial virtude, a qual, mesmo que seja do tamanho de um grão de uma mostarda, pode mover montanhas, conforme asseverou o Cristo.

Ó meu Senhor Misericordioso, o que eu não daria para deter uma parcela que fosse, pequenina, ínfima, uma bagatela de fé! Já me bastaria para realizar verdadeiros milagres, em favor meu e dos mais próximos.

A nossa imaturidade espiritual crê que a Divindade, ao nos encaminhar de volta à Terra pela reencarnação, por um passe de mágica, um desejo particular, uma predileção qualquer, comunica a este e não àquele as muitas virtudes que nos cabem conquistar com o nosso esforço e não simplesmente obtê-las por um capricho de Deus.

É da lei divina: seremos relativamente perfeitos, detendo as numerosas virtudes, inclusive a fé, mãe de todas, mas para alcançar esta meta é preciso empenho, dedicação, constância; agindo assim ao longo de várias existências, pouco a pouco, podemos construir em nós mesmos as seguras fundações para, sobre elas, erigir o majestoso edifício das virtudes que nos conduzirão à felicidade plena tão buscada e desejada.

A consoladora Doutrina dos Espíritos elucida sobre a existência de duas possíveis condutas, permitindo-nos lentamente edificar os sentimentos nobres que a Divindade deseja que adquiramos: a primeira se dá pelo bom aproveitamento e observação das experiências da vida em si mesma; a segunda, através do estudo.

O desenrolar da existência sempre nos traz oportunidades de reflexão sobre a perfeição das leis do Incriado. Da observação dos fatos corriqueiros podemos retirar variadas lições, descortinando a sempre presente solicitude da providência invariavelmente a nosso favor. Recolhendo aqui e ali percepções acuradas, podemos consolidar um entendimento de estar Deus no comando, com tudo acontecendo para nos beneficiar, visando ao nosso progresso; mesmo as chamadas desgraças nos trazem alertas sobre o modo como procedemos na atual existência.

Há bom tempo temos o costume de, quando em situação de dúvida ou incerteza, ou uma fase mais delicada da vida, orar; e após esta oração, abrir ao “acaso” uma mensagem destes preciosos livros espíritas, que nos trazem instrutivas abordagens sobre os mais variados assuntos. É surpreendente a quantidade de vezes em que o texto oferecido à nossa reflexão, naquele peculiar momento, aborda exatamente a questão a nos preocupar, seja ela qual for. É uma experiência única e bem pessoal à nossa disposição, quando nos convencemos da presença de nosso particular guia espiritual permanentemente ao nosso lado, atento e prestimoso, cuidadoso e solicito, paciente e cordato, sempre nos oferecendo algumas palavras de esclarecimento ou de conforto, oriundas de sua avançada sabedoria. Esta prática é uma das mais simples ao alcance de todos, contudo, de imensa importância para Espíritos vacilantes como todos nós ainda o somos.

O caminho paralelo de aprendizado das virtudes ocorre pelo estudo continuado das leis eternas. Quando Allan Kardec registrou a inolvidável frase2: “Fé inabalável é somente a que pode encarar a razão face a face, em todas as épocas da Humanidade”, deu a conhecer o lado racional e intelectivo desta nobre faculdade até então totalmente desconhecido, pois as religiões nada ensinavam neste sentido e algumas, com pesar, ainda o fazem. Basicamente, fé se possuía ou não, se nascia com ou sem ela.

O insigne lionês através dos Espíritos superiores a acompanhá-lo em sua importantíssima missão nos mostrou a possibilidade desta virtude ser desenvolvida, cultivada, trabalhada, estudada; isto através do correto conhecimento e justa percepção das leis divinas.

Para facilitar a aquisição deste entendimento, não há melhor indicação do que o estudo da literatura espírita iniciando de preferência com os primeiros cinco livros de Allan Kardec, as conhecidas obras fundamentais ou básicas, dando prosseguimento à análise das obras subsidiárias.

Conjugando estas duas vertentes, é possível elaborar de maneira coerente a nossa fé, não mais desejando possuir a fé dos outros, pois cada qual vivencia as virtudes que fez por merecer, porquanto trabalhou no passado com afinco, dedicação, perseverança, sendo a fé exemplo inquestionável de um dos tesouros, que uma vez obtido a traça não rói, tampouco a ferrugem destrói, muito menos pode ser roubada pelos ladrões, permanecendo conosco pela eternidade.

1 FRANCO, Divaldo P. Estudos Espíritas. Pelo Espírito Joanna de Ângelis. 2. ed. Rio de Janeiro: FEB,1982. cap. 14.

2 KARDEC, Allan. O evangelho segundo o espiritismo. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. 1. imp. Brasília: FEB, 2013. cap. 19, it. 7.

Referências:

1 FRANCO, Divaldo P. Estudos Espíritas. Pelo Espírito Joanna de Ângelis. 2. ed. Rio de Janeiro: FEB,1982. cap. 14.

2 KARDEC, Allan. O evangelho segundo o espiritismo. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. 1. imp. Brasília: FEB, 2013. cap. 19, it. 7.

Juventude Espírita 19/05/2019

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