Autor: Ivan Franzolim
O espiritismo adota o conceito da ciência quanto aos fenômenos denominados de milagres, entendendo que eles, simplesmente não existem! A ciência parte da premissa que a natureza obedece a leis naturais; sua função é descobrir essas leis e agir sobre as causas, para fazer que o mesmo fenômeno se reproduza quando for desejado. Quando um determinado fenômeno não se explica com as leis já conhecidas, a ciência segue dois caminhos: considera que houve algum tipo de artifício/mal-entendido ou que é preciso estudar e pesquisar mais sobre o assunto. Em relação as ocorrências contidas nos evangelhos, a ciência tem preferido seguir apenas pelo primeiro caminho.
A ciência espírita, embora também se baseie na existência de leis naturais, difere da ciência oficial, por acreditar que elas atuam sobre a parte espiritual da criação, refletindo na matéria. Difere ainda, de modo fundamental, quando aceita a existência e o uso de um sentido novo conhecido por mediunidade, além dos cinco conhecidos, para aplicar os métodos experimentais necessários ao exame e estudo científico dos fatos.
Para o espiritismo, o Criador sendo perfeito— perfeitas são suas leis e naturais os fenômenos da vida. É difícil para nós — os humanos, imaginarmos um sistema perfeito que atenda a todas as necessidades sem apresentar qualquer desvantagem e ainda possa acompanhar a transformação do mundo, trazendo só benefícios e assegurando um bom destino a toda a criação, variando apenas a dimensão temporal.
Paradoxalmente à perfeição absoluta que entendemos o Criador, acabamos pensando que há erros, injustiças, esquecimentos. Acabamos imaginando que precisamos alertar e pedir constantemente a interferência divina em nosso dia-a-dia. Acabamos concluindo que Deus atende aos desejos de uma minoria privilegiada, curando uns, oferecendo uma sobrevida a outros, mas deixando multidões submetidas aos mais diferentes tipos de sofrimento. O espiritismo veio explicar, ou melhor, dar as primeiras explicações sobre a lei de ação e reação que faz repercutir em cada um os seus próprios atos e pensamentos, a lei de cooperação, a lei de sintonia, a lei de progresso, a lei de justiça e outras tantas que apesar de derrubarem nossa crença nos milagres, faz engrandecer ainda mais nossa compreensão de Deus, aumentando nossa confiança, trazendo explicações e consolo em nossos problemas, dando forças para enfrentar as dificuldades, motivando e oferecendo subsídios para a nossa transformação interior rumo à felicidade plena.
Historicamente, o homem sempre necessitou do amparo da dor ou do fenômeno surpreendente, para acreditar em Deus, em si mesmo e nas forças naturais do universo que escapam ao exame dos sentidos comuns. Por isso os milagres tem tido um papel relevante na transformação moral do homem. Todavia, na medida em que o ser cresce e se desenvolve, deixa para trás o período natural de infância e passa a não precisar dos mesmos estímulos para sentir, crer e entender. A doutrina espírita atinge primeiro os seres que almejam mais conhecimentos e anseiam pela sublimação de seus sentimentos.
Acima de toda a nova compreensão que hoje temos, os milagres ainda nos encantam, particularmente aqueles ocorridos pela influência do mestre Jesus. É fascinante ler e estudar esses fenômenos, procurando descobrir suas causas, as leis que os regem, sabendo que eles estão disponíveis para todos nós, aguardando nossa capacitação. É fascinante acompanhar o desenrolar dos milagres e procurar desvendar a beleza contida na intenção e nos sentimentos que originam cada um, próprios de um ser evolutivamente muito acima de nós. Precisamos ver o que cada fato extraordinário está tentando nos dizer. Como eles foram produzidos tem uma importância secundária, face ao que eles podem significar e ensinar sobre a natureza espiritual do homem.
Etimologicamente a palavra milagre significa “maravilhas” ou “sinais”, distanciando-se do entendimento de uma derrogação das leis.
O quadro a seguir mostra 44 fenômenos relatados nos quatro evangelhos, ocorridos pela intervenção direta ou indireta de Jesus. Lucas apresenta o maior número total de milagres: 27, e o maior número de milagres de curas: 10, talvez por seu interesse em medicina; Marcos relata um total de 26 e João relata apenas 10.Somente dois milagres são relatados nos quatro evangelhos, quatorze aparecem em três evangelhos, 11 em dois evangelhos e 17 milagres são relatados em apenas um dos evangelhos. Confira.
Os 44 “milagres” de Jesus
Nº | Fenômenos na natureza | Mateus | Marcos | Lucas | João |
1 | Multiplicação dos pães e peixes (5 mil) | 14:13-21 | 6:30-44 | 9:10-17 | 6: 1-15 |
2 | Tempestade amainada | 8:23-27 | 4:35-41 | 8:22-25 | |
3 | Andar sobre as águas | 14:22-33 | 6:45-52 | 6:16-21 | |
4 | Multiplicação dos pães e peixes (4 mil) | 15:32-39 | 8: 1- 9 | ||
5 | Dessecação da figueira | 21:18-22 | 11:12-14 | ||
6 | Duas barcas de peixes em Genesaré | 5: 1-11 | |||
7 | Transformação da água em vinho | 2: 1-11 | |||
8 | Escuridão no céu | 27:45 | 15:33 | 23:44 | |
9 | Moeda na boca do peixe | 17:24-27 | |||
10 | Pesca de 153 peixes em Tiberíades | 21: 1-14 |
Nº | Fenômenos com Jesus | Mateus | Marcos | Lucas | João |
1 | Jesus passa incólume pelos inimigos | 4:29-30 | 8:59 | ||
2 | A transfiguração de Jesus | 17: 1- 13 | 9: 2- 13 | 9:28-36 | |
3 | Jesus prevê a negação de Pedro | 26:33-34 | 14:29-30 | ||
4 | Aparição tangível de Jesus | 28: 1- 7 | 16: 1- 8 | 24: 1-12 | 20: 1-10 |
Nº | Curas | Mateus | Marcos | Lucas | João |
1 | A sogra de Pedro | 8:14-15 | 1:29-31 | 4:38-39 | |
2 | Um leproso | 8: 1- 4 | 1:40-45 | 5:12-16 | |
3 | Um paralítico em Cafarnaum | 9: 1- 8 | 2: 1-12 | 5:17-26 | |
4 | Homem com a mão atrofiada | 12: 9-14 | 3: 1- 6 | 6: 6-11 | |
5 | A mulher com sangramento | 9:20-22 | 5:25-34 | 8:43-48 | |
6 | A fé do cego de Jericó (Bartimeu) | 20:29-34 | 10:46-52 | 18:35-43 | |
7 | O filho do oficial romano | 4:46-54 | |||
8 | O criado do centurião | 8: 5-13 | 7: 1-10 | ||
9 | Os dois cegos da Galileia | 9:27-31 | |||
10 | O surdo-mudo em Decápolis | 7:31-37 | |||
11 | O cego de Betsaida | 8:22-26 | |||
12 | O homem com as pernas e braços inchados | 14: 1- 6 | |||
13 | Os dez leprosos | 17:11-19 | |||
14 | A orelha do servo do Sumo-sacerdote (Malco) | 22:47-51 | |||
15 | O enfermo há 38 anos no poço de Betesda | 5: 1-18 | |||
16 | O cego de nascença | 9: 1-12 | |||
17 | Muitos em Genesaré | 14:34-36 | 6:53-56 |
Nº | Exorcismos | Mateus | Marcos | Lucas | João |
1 | Do possesso de Gerasa (legião) | 8:28-34 | 5: 1-20 | 8:26-39 | |
2 | Do possesso de Cafarnaum | 1:21-28 | 4:31-37 | ||
3 | Da filha da mulher de Cananeia | 15:21-28 | 7:24-30 | ||
4 | De Maria Madalena | 16: 9 | 8: 2 | ||
5 | De um homem na Sinagoga | 1:23-28 | 4:33-37 |
Nº | Exorcismos com cura | Mateus | Marcos | Lucas | João |
1 | O menino mudo e epilético | 17:14-21 | 9:14-29 | 9:37-43 | |
2 | O possesso mudo e cego | 12:22-23 | |||
3 | O possesso mudo | 9:32-34 | 11:14- | ||
4 | A mulher encurvada | 13:10-17 | |||
5 | Muitos em Cafarnaum | 8:16-17 | 1:32-34 | 4:40-41 |
Nº | Voltar à vida | Mateus | Marcos | Lucas | João |
1 | A filha de Jairo | 9:18-26 | 5:21-43 | 8:40-56 | |
2 | O filho da viúva de Naim | 7:11-17 | |||
3 | Lázaro | 11: 1-44 |
44 | Totais | 26 | 26 | 27 | 10 |
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